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Xico Sá

Modos de macho, modinhas de fêmea & outros chabadabadás

Perfil Xico Sá é escritor, jornalista e colunista da Folha

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Quando se ama um cafajeste (I)

Por xicosa
26/09/13 03:17
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Escaldada, Noêmia, 36, separada havia três anos, tentava fugir do amor de qualquer jeito. Sem acordo, benzinho, ela dizia aos pretendentes. Objetiva, queria apenas sexo e diversão. Faíscas de ironia nos olhos, era capaz de apagar as velas daquele jantar no bistrô-caô, para desilusão dos moços que tentavam romantizar a noite.

“Fique tranquilo, meu rapaz, te levo pra cama, não faça drama, mas, por favor, sem esses truques. Sou uma mulher que já viveu tudo e não vai cair de novo no traiçoeiro alçapão dos periquitos grudentos”, ela mandava na lata, sem piedade.

Era tão objetiva que só marcava encontros pontuais, como os encontros por intermédio do aplicativo Tinder. “Por que preliminares se podemos ir direto aos finalmentes? O meio é a mensagem”, tirava onda a maluca. Chegava a ser cruel com esses moços, pobres moços.

Como não existe uma só criatura à prova do feitiço amoroso, Noêmia caiu no conto, como ela define. De novo. Conheceu um cara na festa de casamento da irmã mais nova, Gláucia, 29, moça de ideais mais antigos, digamos assim, graciosa habitante de Niterói, Rio de Janeiro.

Niterói, como até o último misógino do ocidente sabe, é a cidade com as mulheres mais bonitas do universo. Já fizeram pesquisas e tudo. Comprovado. É científico.

Mas isso não vem ao caso agora.

O certo é que no casamento da caçula, Noêmia foi fisgada por um cafajeste, como ela me conta agora na sua carta: “E você, caro cronista, ainda fica dizendo que os cafajestes legítimos estão em extinção, qual o quê, balela!”

Irremediavelmente apaixonada, ela pede ajuda, um SOS para a barca que a conduz aos braços do homem que a tortura. Jamais imaginara tal situação, por mais que o amor seja primo-irmão do susto e da surpresa.

No último domingo, possuída e dominada pelo carinho público do sujeito, em uma galeteria do bairro da Glória, “onde mora o desgraçado”, inventou uma desculpa, a morte de um parente, e foi embora.

“Não resisto aos bons modos desse fdp”, ela relata. “As feministas estão certas, o cavalheirismo é uma forma de dominação sim, estou com as radicais”.

O cara é do tipo que puxa cadeira, abre portas, reserva o lado de dentro da calçada para a mulher, faz questão de pagar a conta e só não vai deixá-la em casa porque prefere que ela durma com ele. Na feira da Glória, aos domingos, água de coco para curar a ressaca e flores.

Inconsolável, ela teima:

“Ele tem tudo do cafajeste clássico, o cafajeste de cinema, aquela coisa meio Peréio meio Jece Valadão (na foto lá em cima com Norma Benguell)”.

Assustada, aos céus blasfema:

“Que mundo é esse, meu Deus, que o contrário do homem frouxo vem a ser um obsoleto cafa à moda antiga?”

Ela tem certeza. Ele deve fazer essa corte com várias. Noêmia viaja em perdidos pensamentos na barca. Esse homem não existe, apareceu como encomenda para me deixar confusa. Ela imagina.

Noêmia grita o SOS. Outro dia, ao telefone, ele falava baixinho, como não quisesse acordar outra amante, Noêmia delira. Embarco nas viagens de Noêmia. Antes o meu Tinder sem riscos, ela maldiz a noite que o conheceu pegando a batata palha do jantar do casamento.

Apocalíptica de véspera, N. está crente que vai quebrar a cara. FRAUDE AMOROSA NA GLÓRIA!!!, ela antecipa a manchete em seis colunas.

Ele tem a pausa dramática dos melhores cafajestes. “Pior: ele me ouve”, prossegue. “Ele sabe acariciar a veia que salta no meu pescoço, meu fraco, ele não me toca pela metade, ele sabe me beijar como em uma lição de anatomia completa”.

O pior ainda, para a orgulhosa Noêmia, é que ela deixou escapar um escandaloso “eu te amo”na última noite que estiveram juntos. “Que amadorismo”, lamenta. “Logo eu… Sorte é que ele bebe, tomara que não tenha ouvido”.

Noêmia pede ajuda. Difícil aconselhá-la assim de bate-pronto. Recorro aos meus generosos leitores e leitoras pra gente tentar entender o que se passa com a amiga da barca do inferno –assim ela define a difícil travessia à Gil Vicente.

Como deve agir a desconfiada senhorita?

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Comentários

  1. Cafa Cafuso comentou em 26/09/13 at 20:53

    Caro e querido Xico, permita-me postar um pedaço da letra “Alma Transparente”, de seu Xará Chico Rey (& Paraná):

    “É sempre assim.
    A gente chega de alma transparente, joga aberto e limpo, como eu joguei.

    Mas a pessoa traz cartas na manga, blefa e ganha um jogo, que não mereceu.

    Eu vou mudar, vou nivelar meu pensamento aos outros, vou viver assim.

    Vou assumir uma outra postura, vou viver melhor, vou pensar mais em mim.”

    Noêmia, o cafajeste vai te dar o céu e as estrelas, mas um dia vai lhe tirar o chão. É assim e sempre será.

    Quando levar esse tombo, siga os conselhos da música acima. Mas não deixe passar a oportunidade de se entregar de corpo e alma ao cafa. Uma vida sem tal experiência não tem sentido.

    Beijos.

    • xicosa comentou em 26/09/13 at 22:19

      toda permissão do mundo, ainda mais para uma preciosidade dessas.abs

    • Lola comentou em 27/09/13 at 14:46

      #cafahonesto

      A certeza de se perder o chão amedronta qualquer criatura. Há que se te compaixão com o medo da moça.

  2. Raquel comentou em 26/09/13 at 19:45

    Noêmia, amiga! Ah, como eu te entendo… Hehe!!! Quem nunca se viu presa à teia invisível e irresistível de um cafa, que atire a primeira flor despetalada!!
    Conselho pra ti? Tenho não. Eu sou das que se jogam, e às vezes, se machucam, fazer o que!

    • xicosa comentou em 26/09/13 at 22:19

      Tb me senti um pouco assim ao escrever, RAquel,por isso pedi a colaboração dos leitores. TE juega é o pensamento.beijo

  3. Eliana comentou em 26/09/13 at 18:41

    Se joga, Noêmia. Depois se der errado ( ou quando der errado, se preferir) chora, arrepende e coisa e tal.

  4. Ali comentou em 26/09/13 at 18:35

    Hahaha…. estive num barco bem parecido com o dela, a diferença é que ele é realmente um cafajeste, é noivo, tivemos um caso por 3 anos e eu tenho plena certeza de que ele tinha mais uma além de mim e da noiva! Depois dele, tchau romance, tchau amor (coisa mais imbecil), tchau me envolver outra vez com qualquer fdp!

  5. Amanda comentou em 26/09/13 at 18:32

    Querida Noêmia, finja que errou o caminho e dê meia volta e corra o máximo que puder! É cilada, bino.

  6. claudiab comentou em 26/09/13 at 17:14

    hahaha já não basta o xico ser ótimo, os leitores dele estão se entendendo nos comentários mesmo….ebaaaaa

  7. Rafa comentou em 26/09/13 at 17:01

    Cafa tem em todo canto. Não consigo me livrar emocionalmente do que apareceu na minha vida. Acho que é a pior parte, né? Help!

  8. Pedro comentou em 26/09/13 at 16:56

    Como dizia o “malvado”, André Dahmer: “você me pede ajuda / eu lhe deixo um verso / anoiteça o que anoitecer / coração aberto”. O resto é frescura.

    • xicosa comentou em 26/09/13 at 22:21

      puerra, esse é gênio: André Dahmer. como bem diz ele: minha alma anagrama de lama. abrazo

  9. Marcia comentou em 26/09/13 at 16:45

    Arrasa Noemia!

    • Adriana comentou em 26/09/13 at 20:39

      Se é inevitável, relaxa e goza, rsrsrs.
      A melhor coisa da vida é viver um grande amor, uma paixão louca, até quando a gente nunca sabe, mesmo porque o “pra sempre” não existe, pois mudamos o tempo todo. Se vai sofrer, sofra a seu tempo, agora é o momento de ser feliz.

  10. Paula Granello comentou em 26/09/13 at 16:41

    Bobagem, tenhamos coragem! Vivamos a cafajestagem, depois a gente cai, levanta, faz uma viagem e fica tudo bem. O que importa é curtir essa delícia das barbuleta na barriga, não liga.

  11. Francisco Carlos Lima comentou em 26/09/13 at 16:40

    Noêmia, Para que fugir do inevitável? os poucos homens que existem neste mercado em transformação, se forem realmente “bons” terão o perfil do cafa, caso contrário serão apenas um mero Kaká com musculatura bichada jogando de graça em um Milan qualquer.

  12. gleidi comentou em 26/09/13 at 16:13

    Relaxa, Noêmia, e pensa assim: “que seja linda e louca a nossa história.”

  13. Dana comentou em 26/09/13 at 16:05

    Noemia vc não está só nessa… ô troço difícil vc gostar dum cafajeste.

  14. sergio barros comentou em 26/09/13 at 16:00

    …diz se é perigoso a gente ser feliz…..

  15. Diego Andrade comentou em 26/09/13 at 15:30

    Querida Noemia, entregue-se com toda a força que há em seu corpo e em seu desejo de se entregar a ele. E quanto ao orgulho, bem….(pausa, um gole no conhaque, uma tragada de malboro) mastigue-o com farinha.

  16. Heloisa Galvão comentou em 26/09/13 at 15:15

    Lutar contra o amor é batalha perdida, e achar que vai ser pra sempre é ingenuidade. Aproveita cada minuto enquanto está gostoso !

  17. pri comentou em 26/09/13 at 15:04

    corra, Noemia, corra!!! o quanto antes, vc vai quebrar a cara! e pior esse é do tipo que vai doer! corra…

  18. marcela comentou em 26/09/13 at 14:44

    Passada com o tanto de mulheres q curtem um cafa. Jesus! E desespero? Xico, vou te ver na Bienal 😉

  19. Laura comentou em 26/09/13 at 14:04

    eu não entendi onde tá o cafajestismo. simplesmente no medo delirante dela, ou ele realmente foi desonesto? o que ele promete? o que ele oferece? o que ela deseja? o que ela aproveita?

  20. Maurício comentou em 26/09/13 at 13:55

    Viva o que tiver que viver!
    Se tudo der certo, celebre a vida!
    Se tudo der errado, sofra e espere pela próxima emoção que a vida lhe trará!
    O risco é o preço do sucesso! 😉

  21. Danilo Pereira comentou em 26/09/13 at 13:53

    Só vi postagens de mulheres… ainda assim, me atreverei. Noêmia parece ser uma mulher fictícia, desconhecida de todos os que comentam aqui, o que nos dá bastante espaço pra teorias, e o que mais todo mundo sabe fazer, dar pitaco. Vejo que a maioria (não li todos os comentários) se põe no lugar da “pobre e indefesa” Noêmia! Vou fazer o papel de advogado do macho, já que sou tachado de cafajeste da mesma maneira do personagem “malvadão”. Noêmia parte do príncipio de que todo homem é igual, cafajeste e depois de repetidas experiências, não podemos culpá-la de pensar de tal maneira. Além disso, foge de algo inevitável… o amor/paixão. Eis os dois erros dela e de muitas mulheres por aí. Aliás, pergunto a vocês mulheres… rotular algo que nem começou de maneira tão pejorativa, não seria fazer-se cumprir uma “profecia”? Quando uma mulher quer, faz do príncipe um sapo, e de um sapo um príncipe… Não é assim? Saiam dessa paranóia, “Noêmias”, párem de generalizar as coisas!

    Vou deixar o endereço do meu face pra se alguém quiser me odiar pessoalmente… Gosto dessa coisa de “olho no olho”.

    https://www.facebook.com/danilo.pereira.10048

    • Raquel comentou em 26/09/13 at 19:41

      Danilo, eu fui conferir (seu oferecido!!) e, combinemos, fica difícil odiar com fotos tão bonitinhas… mas não me engano: vc tem basicamente o necessário pra ser um CAFA, assim maiúsculo!! Discurso, biotipo, atitude… cafa!!! Rsrsrs…. mas, longe de mim dizer que isso é ruim…

  22. Ricardo Reno comentou em 26/09/13 at 13:34

    Noêmia deve saber que amor é estrada sinuosa e de terra. Que antes é melhor ser ousada do que prudente. Como dizem os pilotos de rali “If in doubt flat out”.

  23. azuba comentou em 26/09/13 at 13:24

    acuda, noemia, poderosa miss corações solitários!!!

  24. adelson souza comentou em 26/09/13 at 13:23

    SE ENTREGUE DE VEZ NOEMIA. DEIXA DE BOBAGEM MENINA. VÁ VIVER A VIDA. PRA QUE SER DURONA. KKKKKK. VAI SER FELIZ.

  25. jose jacinto amaral comentou em 26/09/13 at 13:11

    Ora Noêmia, entregue-se ao prazer de viver e matar um grande amor. Acostume-se ao bom e velho cafajestismo tupiniquim. Para nós é também um drama ama-las e vê-las indo embora. Goze Noêmia, Goze!

  26. Mayra Barroso comentou em 26/09/13 at 12:44

    Noêmia deve aproveitar com cautela e quando ela sentir que pode estar se encantando demais pelo tal, deve correr e pular fora antes de se apaixonar, de fato, pelo cafa que não sustentará o sentimento dela.
    Na real, é muito difícil aproveitar e não se envolver, mas não aproveitar e ficar sonhando com isso não é tão inteligente.

  27. maria cecilia cencini comentou em 26/09/13 at 12:07

    Corra, Lola, corra, sem olhar pra trás!!!!

  28. Moscou comentou em 26/09/13 at 12:01

    Volte para o Tinder, Noêmia! Aplicativo livre de apliques…

  29. Elis comentou em 26/09/13 at 11:36

    “O cara é do tipo que puxa cadeira, abre portas, reserva o lado de dentro da calçada para a mulher, faz questão de pagar a conta e só não vai deixá-la em casa porque prefere que ela durma com ele. Na feira da Glória, aos domingos, água de coco para curar a ressaca e flores.”

    Nô, se o Cavalheirismo é uma forma de dominação é pq a gente escolhe ser dominado por ele. Esse sujeito não é um cafageste, é apenas um cara legal. Seja legal com ele também, sirva o café na cama, abra portas. Se ele reivindicar o monopólio desses atos, nosso romântico a moda antiga certamente não passará de um babaca vintage. Saia da posição de conforto da princesa Disney, daquela que recebe cuidados que os malvados homens modernos esqueceram e que, por fim, encontrou a redenção amorosa nos braços desse novo cara. Esse papo é mais do que conhecido e não tem um final feliz. Posicione-se: entre o tudo do cafageste e o nada dos caras do aplicativo não seria melhor ficar no meio?

  30. Lelê comentou em 26/09/13 at 11:36

    Eu quero um cafa assim!!!!! Pliiiisss!!!

    • adailde lopes de araujo comentou em 26/09/13 at 15:41

      Me liga então…

      98599-5073

    • carminha comentou em 27/09/13 at 6:08

      Tem mulher de todo tipo…

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