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Xico Sá

Modos de macho, modinhas de fêmea & outros chabadabadás

Perfil Xico Sá é escritor, jornalista e colunista da Folha

Perfil completo

A D.R. tipo ´Anjo Exterminador´, amor

Por xicosa
20/09/13 02:58

Pela minha lesada contagem, lá se vão três noites de D.R., a sigla da mitológica e inevitável Discussão de Relação.

O casal aqui de lado de casa. Acontece.

Como é triste, como é doloroso, mas o casal, em aparente fim de feira, pitangas na bacia das lágrimas, está numa espécie de “Anjo Exterminador” da lavagem de roupa suja.

“Anjo Exterminador” (foto), como até Neide, minha querida faxineira da Paraíba/Duque de Caxias sabe, é aquele filme de Buñuel. Pânico ao champanhe: todo mundo preso em um jantar da aristocracia, ninguém consegue sair do palacete.

Igual ao casal aqui ao lado.

O casal que mora ao lado extermina o amor, como o anjo que paira sobre o filme burguês que botei na roda.

Casal lindo e maluco.

Vou e volto da rua e escuto a expressiva fala da mulher e o silêncio do homem. No máximo ele contesta as acusações ampliando a música –gosta de rock clássico, mas nunca pôs Lou Reed. No máximo ele bota bem forte o chuveiro ou dá um murro na porta.

A mesma porta que cabe a um dos dois bater por último. Tudo faz sentido, meu Lacanzin querido.

Ele silêncio, ela chora nesse exato momento sem dó nem piedade. As mulheres não são covardes, elas não guardam o apocalipse no peito, mulheres são rios de uma aldeia de Tolstói, dois olhos chorando pelo mundo todo.

Agora a escuto, ela toma fôlego para dizer umas verdades, a ira reverbera em Copacabana como tempestade de lágrima em um teto de zinco.

Ela rasga as verdades, ela repete, ouvi nos últimos três dias, os nomes das mulheres envolvidas no enredo das traições.

Repete, dramatizando a voz do canalha, as mensagens do marido para as supostas biscaites de Facebook. Quinta dos infernos.

Ele bufa. Pela leitura que faço do silêncio ou do não-diálogo, acha que chegou a hora de acabar mesmo. Não tem é coragem, como a maioria dos homens. Penso que está louco por isso. Só espalha a merda e espera subir o “the end” nos créditos.

Ela discorre. Pede que ele zele pela família que tanto acreditou na história dos dois. Às vezes ela apela para o que foi construído etc. Quatro anos juntos entre namoro e quarto-e-sala em Copa. A família é da serra, Petrópolis.

Às vezes, ela chuta o balde: seu canalha fdp, fiz tanto por você, e é assim que você me paga? Parece que ela segura muito a barra de grana. Ela o humilha nesse aspecto e é capaz de lembrar que bancou até a roupa do casamento.

Ela volta a repetir as mensagens dele com as outras no maldito Facebook. Um dia, como sempre acontece, alguém pega o computa do outro aberto. Essa encenação das mensagens é o que há de mais dramático.

Ela capricha nos requintes de imitar a fala do cafa flertando com as “cadelas”. No que a vizinha fala cadelas o sotaque carioca grita, fica mais lindo e trágico, como no “Vestido de Noiva” do tio Nelson.

O pior: entre as vagabas, uma amiga dela, pelo que escuto. Uma amiga dela, mas ainda na fase dos acertos, o cara não foi às vias de fato (ainda), pelo que dizem aqui os cobogós que vazam a D.R. Estiveram apenas juntos no Pavão Azul, uns chopes, uns drinques,talvez uns beijos -uma amiga mandou uma foto que carece de tira-teima.

“Você beijou aquela puta na boca?”, agora ela pergunta.

Silêncio dos inocentes.

Quarto gol do Atlético Paranaense sobre o Flamengo. Agora ele está puto. Soca a parede. Pelo Mengo ou pela intriga com a nega?

A D.R. e o vazamento dos cobogós.

Uma pausa, este blog é cultura arquitetônica: você sabia que a palavra cobogó vem das iniciais dos sobrenomes de três engenheiros que trabalharam no Recife no começo do século passado? Co de Coimbra, Bo de  Boeckmann e Go de de Góis.

Sinto que ela ou ele escorre o macarrão. Barulho do saca-rolha. Vinho. Ela continua com a adorável lavanderia a todo vapor: “Mal beijei aquele cara e você não aguentou um segundo, agora você faz essa merda toda e fica fingindo que nada aconteceu, porra!?”

Exasperados, eles comem.

“Você não comprou parmesão? Não tem nem queijo ralado?”, ela volta a culpá-lo.

Como é triste, como é doloroso.

“Poxa, tudo menos minhas amigas”, ela fala na primeira garfada, agora tudo muito lento e vagoroso, beberam, brigaram, gastaram…

Ela esmurra o cobogó, mas também sem muita força. Ao contrário da porta, o cobogó é amor ventilado, não prende ninguém por acaso.

Opa. Agora ensaiam um sexo. Sabemos que os embates também levam a isso.

Sinto muito, o sexo não deu certo. Era muita mágoa. Mas pelo menos eles dormiram.

Como é triste o fim das histórias.

Vilge, voltaram a ser gladiadores de novo, a gente que já passou por tantos fins de amores sofre mais uma vez ao ouvir o telecatch pombalíneo.

Como dói cada objeto quebrado dentro de casa. Que triste. Agora um jarro sobre a parede. Será que ainda com flores?

Ah, se nem Deus é por nós, nessa tragédia amorosa, quem dirãoos cobogós?

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Comentários

  1. NEYDE comentou em 24/09/13 at 17:52

    Báááárbaro, Xico, como sempre! “D.R. tipo ‘Anjo Exterminador’, amor,” me fez lembrar demais a fatídica discussão entre “senhor e senhora Borges”, em Quadro na Parede, de Drummond!

  2. Filipe Leão comentou em 23/09/13 at 13:43

    Xico, e aí já acabou a D.R ou continua?? Algum resultado definitivo? abs

  3. Alice comentou em 22/09/13 at 22:32

    A paz é feita num motel de alma lavada e passada / Pra descobrir logo depois que não serviu pra nada.

  4. Rubens Salles comentou em 21/09/13 at 23:03

    Demais!!!

  5. Marcelino comentou em 21/09/13 at 21:22

    Boa, Xico!

  6. sergio barros comentou em 21/09/13 at 11:41

    Lennon deu o toque:”HAPINESS IS A WARM GUN” e Belchior confirmou:John,eu não esqueço que “A felicidade é uma arma quente”.Vamos nessa ,rapaziada.

  7. Judith comentou em 21/09/13 at 1:08

    Ai, o momento de dar o ponto final… aquela hora em q a gente precisa ter coragem pra bater o martelo. Mesmo na tentação de aceitar algum ‘embargo infringente’. Duro, mas melhor seguir em frente.
    Bjos, Xico!

  8. Laura.K comentou em 20/09/13 at 20:36

    PS: Xico Sá: Amo suas palavras! Todas elas!

  9. Marcelo Texxxta comentou em 20/09/13 at 20:32

    Complicado, mas não faltou coragem segundo seu relato mestre!!

    As últimas palavras, as que são definitivas, tanto na despedida da solteirice, aquele famoso sim no altar na frente de tantos ou o adeus na cumplicidade lar desfeito.

    São as principais e as mais doloridas….já vivi isso e sei o quanto dói o amor perdido, o final inevitável.

    Já bati, como todo mundo eu acredito, mas também já apanhei…e essas feridas duraram tanto quanto eu pude suporta-las. Mesmo aquelas escapadas pra matar a saudade e ratificar a certeza do adeus amenizam a dor do fim.

    Infelizmente…

    • Marisa Christina comentou em 21/09/13 at 8:25

      Sensacional o Xico…bem que você disse….É o tipo de construção de texto quem mais aprecio, aliás, bem parecida com a minha. Uma forma de “descrever” os fatos, explicá-los como nos colocasse na cena. Fabuloso. Obrigada pela dica… Beijos

  10. Helô comentou em 20/09/13 at 20:31

    Xico, vc nao existeeee! Hahhaha
    Ou melhor, existe, mas se não existisse tinha que ser inventado! Adoro!

    • xicosa comentou em 20/09/13 at 20:47

      gracias,amor.beijo e volte sempreeeee

  11. aninha comentou em 20/09/13 at 20:26

    Esta cerimônia do adeus é um dos processos mais dolorosos que pode existir. Exige coragem de um dos dois para colocar um fim naquilo que já se acabou faz tempo. Sempre que encontro um (ex)casal nestas condições, torço para que consigam se libertar e terem a chance de buscar a paz e um novo amor!

    • xicosa comentou em 20/09/13 at 20:48

      é punk,baby. bjo

  12. Neysi comentou em 20/09/13 at 18:03

    Um belo conto-crônica para mostrar como a realidade é mesclada de detalhes cotidianos nada glamurosos e nada românticos.
    E na hora do fim é que a realidade aparece com a sua face mais cruel – a das nossas mágoas e ressentimentos.
    É isso cronista.

  13. sergio barros comentou em 20/09/13 at 17:34

    Sábios conselhos de Dolores Duran:
    A gente briga,
    diz tanta coisa que não quer dizer
    briga pensando que não vai sofrer
    e não faz mal se tudo terminar.
    Um belo dia,
    a gente sente que ficou sozinho,
    vem a vontade de chorar baixinho,
    vem o desejo triste de voltar.
    Você se lembra
    foi isso mesmo que se deu comigo
    eu tive orgulho e tenho por castigo,a vida inteira pra me arrepender.
    Se eu soubesse
    naquele dia o que sei agora
    eu não seria este ser que chora,
    eu não teria perdido você.

  14. marcela comentou em 20/09/13 at 14:22

    Acrescente a essa cena toda um homem respondendo baixo, quase entre os dentes pra nao ser escutado por quem esta fora da casa/apto. Porém, ele responde a td no msm nível e eles se xingam ou simplesmente nao se falam. Um extremo ou outro dependendo do dia e do humor de ambos. Pra terminar a “receita” dois pre-adolescentes sentados na mesa do jantar assistindo td, atonitos. Bem-vindo a minha casa em meados dos anos 90. Por essas e outras q eu gostaria q a monogamia fosse banida de uma vez, assim td mundo assumia suas próprias delicias extras, ngm se ofendia e td mundo era feliz. Tento propor isso ao maridim td dia. Seria magnifico.

    • Laura.K comentou em 20/09/13 at 20:35

      Tb vi muito essas cenas nos anos 80… as casas mudam mas o cenário é sempre o mesmo. Concordo com vc, monogamia é um sistema falido. Falo com conhecimento de causa, pois vivi algumas. Hj tenho uma relação aberta, porém muito mais sólida e feliz pq tem um nível de sinceridade que as relações monogâmicas jamais alcançarão.

      • marcela comentou em 20/09/13 at 22:26

        Oi Laura. Acho q quem cresceu num “lar” assim tem q cuidar com mto carinho dos proprios relacionamentos pra trazer o mínimo de resquicios da família de onde a gente veio. Ja que nao trazer nada é praticamente impossível. E qto à monogamia é isso aí, a gnt precisa praticar o desapego msm. rsrsrs Bj

        • Jujuba comentou em 23/09/13 at 8:56

          Eu também não acredito nas relações monogâmicas, é um sacrifício desnecessário. Amor livre e cumplicidade torna tudo muito mais fácil e simples. Alguns textos bacanas sobre isso

          http://cafefeminista.wordpress.com/2013/07/08/por-que-e-tao-dificil-praticar-o-amor-livre/

          http://papodehomem.com.br/so-mais-uma-quarta-feira/

          http://www.ninalemos.com.br/2013/06/11/namorado-nao-faz-falta-o-que-faz-falta-e-um-tj/

  15. Zenilde comentou em 20/09/13 at 12:19

    Se chega nesse limiar o melhor e inteligente a se fazer é cada um procurar seu rumo. O mundo é grande sempre tem um sapato velho para um pé cansado. Ainda espero o meu sapatinho rs. Você é ótimo Xico.

  16. Helio Souza comentou em 20/09/13 at 10:48

    A história ainda é mais triste quando crianças
    estão presentes.

  17. andreia comentou em 20/09/13 at 10:43

    Triste a D.R. … mas parece q todos nos ja vivemos isso… As vezes uma D.R. acaba bem, com aquele amorzinho gostoso no final , mas as vezes so o fim é o melhor caminho … sem muitas delongas… beijo xico.

  18. sergio barros comentou em 20/09/13 at 8:50

    …porque o amor é coisa mais triste ,quando se desfaz…toca a música na novela,enquanto o casal se sapara.

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