Todo desespero por amor e sexo é legítimo
19/09/13 03:17“Vícios não são crimes”, me bate aqui, na cabeçorra nordestina, o belo título do livro de direito que mais aprecio no mundo, o de um cara chamado Lysander Spooner, escrito ali na segunda metade do século XIX. Um gênio abolicionista, anarquista e jusnaturalista da América do Norte.
Se vícios não são crimes, imagine, minha linda, os desejos, os sentimentos.
Todo desespero por amor é comovente.
Todo desespero por sexo igualmente -o desespero, na maioria das vezes, sequer sabe onde começa um e prossegue o outro.
Repare no episódio desta moça de Belo Horizonte que pendurou faixa na rua e tudo para reencontrar um parceiro de uma sala do bate-papo do UOL. Repare direitinho na foto de Carlos Eduardo Cherem.
O apelido do cara na rede: Bonito.
Deve se achar a última costelinha do estoque do restaurante dona Lucinha, deve se achar o último torresmo da cozinha mineira, a última cachaça de Januária, o último pote de doce de leite de Viçosa.
Não vem ao caso. É fantasia. Está valendo. Deixa o menino brincar como queira.
Muitos amigos viram a história como golpe de marketing da moça, seja que utilidade tenha essa exposição no reino da Carençolândia explícita. Outros simplesmente ignoraram até agora a notícia: têm coisas mais graves para se preocupar, como os embargos infringentes do STF, a “crise” do Corinthians ou a dianteira do Cruzeiro.
Algumas amigas leram com a lente óbvia e azulada do clichê: falta de homem no mercado. Tenho as minhas dúvidas. Da Mooca por diante não falta homem, para ficarmos na geografia paulistana.
Melhor pensar como uma deusa de Poços de Caldas que conheci no “Sempre um Papo”, caro Afonso. Ela simplesmente fez a Kátia, a ceguinha amiga do Rei, e sussurrou ao telefone: “Não está sendo fácil…”
Diante da faixa desesperada da moça do bairro de Santo Antônio, BH, matutei, capinzinho metafísico entre os dentes, sobre encontros & desencontros, os flertes sinceros, mesmo os fugazes, mesmo os virtuais ou aquelas silenciosas e realíssimas trocas de olhares na noite.
Em tempos “mudernos”, criaram até sites, como o Segunda Chance, dedicados a procurar essas criaturas passantes que, por loucura, desespero ou bela fantasia de ficcionista, julgamos como os amores das nossas vidas. Nem que seja por cinco minutos.
Com ou sem as geringonças tecnológicas ou a fácil e automática busca no Facebook, o mundo sempre foi assim. Em Minas ou no Texas, meu velho Carlos Albertos Prates Correia.
O Bertrand, por exemplo, “O Homem que Amava as Mulheres” do filme do Truffaut, viu apenas as lindas pernas de uma mademoiselle que entrava apressada em um carro.
O conquistador só teve tempo de anotar a placa do veículo em um maço de Gitanes. Lembro o número até hoje porque ganhei no jogo do bicho um dia depois que fui ao cinema do Parque, no Recife: 6720 RD 34. Joguei a milhar inicial. Cachorro na cabeça, mas só acertei a dezena.
Só sei que Bertrand acabou batendo no carro da moça, de propósito, em um estacionamento. Seria a única forma de reencontrá-la, mesmo que por intermédio de um processo. Deu azar. A proprietária era outra francesa, uma prima. Não teve dúvida: ficou apaixonado por ela também, o que custa?.
E assim, comovidos, seguimos. E assim, desesperados(as) ou não, gastamos nosso calendário na terra. O bom é ter sempre um suspensezinho amoroso ou sexual para aliviar o trabalho e os dias.
Carência? Não vi carência nenhuma no gesto da moça…Vi vontade de encontrar e conhecer uma pessoa que ela encontrou em um chat, qual o problema nisso? Ela é corajosa e nem liga para os comentários maldosos…E quanto à falta de homem…Tem muito homem sim…e como tem…Só que as mulheres querem o cara que banque e sustente elas…O cara rico…esse realmente é uma raridade…Se amar fosse uma coisa desinteressada e dependesse apenas de sentimentos todo mundo era feliz…O problema é que as pessoas querem “trocas”….Meu corpo lindo e malhado e minha cara cheia de botox por sua conta bancária…mesmo vc sendo um velho de 60 anos…Deixa a moça fazer o que quiser….Deixa ela ser feliz…O mundo tá cheio de gente q se diz acompanha e tá infeliz e mal amada..
Acho que você, Xico, tomou muito saquê noite passada….Melhora aí….Ninguém merece….
talvez sakê espiritual.num bebo.abs e volte sempre para o brinde
Sou muito preguiçoso quando o assunto é leitura, mas este texto tá muito bom.
Parabéns
Cara, muito bom! Instagram Digohd
Xico Sá com seus aforismos filósofo-cotidianos sempre nos brinca com textos sensacionais!
E que a moça encontre o Bonito, seja ele belo de fato ou feio demais.
muito legal xico, esse cara de assaré sabe tudo. sumiu do sujinho
Viver carente ,não é fácil , aquele suspense que dá até um friozinho na barriga , quando chega uma mensagem no celular , ou mesmo uma ligação inesperada, dá uma boa temperada na rotina . Mas porque temos esta necessidade querido Xico, de imaginar que alguém está pensado em você , desejando estar com vc? Como conseguir uma autonomia emocional que nos fizesse vibrar, com tantas outras coisas além dos relacionamentos amorosos ? Quem tiver a fórmula por favor me mande. Bjjss
É que no ponto de vista das mulheres… só existem 20% dos homens (fisicamente interessantes e/ou provedores).
Mais ou menos pra cima, já vai… sou macho… não fico escolhendo muito minha fêmea…
Muito bom msm o texto. Ainda mais o que você escreveu! Você etsá certo, esse é o ponto de vista de nos mulheres…
Mais a maioria das mulheres também vai pra cima…. Eu pelo menos vou.
Talvez essa dai tenha feito muito charme… ou vejo como uma simples jogada para aparecer na midia…
Enfim rsrs
Como já falou Roberto Freire – o psicólogo – a diferença entre estar vivo e morto é estar apaixonado. Necessitamos, mesmo, desse suspense amoroso.
“matutei, capinzinho metafísico entre os dentes” .. rachei! kkkkkkkk
Demais !!! hahahahahahahahahaha Não paro de rir, li duas vezes…
….ai,que amar é se ir morrendo pela vida afora….Vinicius de Morais.
Lindo texto. A cena do Truffaut me lembra demais o poema “À une passante”, de Baudelaire: “(…)Agile et noble, avec sa jambe de statue(…)”. Aliás, este poema combina demais com este texto seu!
Velho, lembra mesmo, esse poema é genial. o Polanski usou livremente num filme B dele, o busca frenética.abs
O Estado de Minas achou a moça. É uma gata mesmo.
q maravilha. vou ve~-agora. abs
É, Xico, em BH é fácil pensar que ela agiu assim por “falta de homem no mercado”. Aqui são muito mais mulheres por metro quadrado. Mas também fiquei matutando sobre o episódio. Cheguei a gerar duas versões de quem são o BonitoBH, veja só:
http://kikacastro.wordpress.com/2013/09/19/de-bonitobh-para-delegata-outra-versao/
Um abraço!
Um Professor Pernambucano diz que para nós, mulheres de BH, a solução é migrar.
Rs, que pessimismo desse professor! Veja o tanto de “solteiros” (ou não) que já surgiram só para essa Delegata 🙂
Ó, até fiz uma última versão da história, pra não ficar tão pessimista. Um tiquim de romantismo na internet tb não faz mal, né? 🙂
http://kikacastro.wordpress.com/2013/09/20/de-bonitobh-para-delegata-ultima-versao/
a versão esta otima.beijo
E ele está com toda razão, Val. Aqui na minha cidade, Piracicaba-sp, uma mineira se mudou prá cá, conseguiu um emprego e achou sua cara-metade, (um amigo meu). Casaram-se, são felizes e já tem uma filha de 7 anos. Mineiras são benvindas aqui. É só se aventurar. Bjs.
Ao ler seus textos sempre tive a impressão que fosse um amigo escrevendo, dada a proximidade das questões que tu se apega meu caro Xico. Agora depois dessa passagem por belo horizonte muito mais ainda. É como se a cada frase nova pudesse surgir o nome de um amigo ou amiga em comum do belô, aquele ou aquela de quem gostamos tanto, só por gostar.
depois combinamos de tomar uma no maleta ou no bordelo. abraço!
Carai, brou, tu ta phoda!!!
o amor é lindo! pena que não exista..rsrsrs – mas, o desespero, há desespero… esse existe…
Esse é real,ne? bjo
É isso aí Xico. Como faz diferença esse suspensezinho no dia a dia.
Bjos
Bah, hoje o senhor se superou, seu Xico. Lembrei de uma parte do poema “Mensagem a Rubem Braga, do Vinicius. “”Digam-lhe que tem havido poucos crimes passionais em proporção ao grande número de paixões”. É isso aí, vale tudo nesse que é o maior e o mais importante dos jogos humanos. Parabéns, mestre. Belíssima coluna
ih, Felipe, fui direto ao poema. valeu demais ter lembrado. inspirador.abs
No final,o que teve importância mesmo, foi o que ficou.O resto foi invenção pra se distrair,como diria Cazuza.
“O bom é ter sempre um suspensezinho amoroso ou sexual para aliviar o trabalho e os dias.” Concordo plenamente com esta frase, é um comportamento comum hoje.
é por isso que te procuro pelo Papillon, Adega Pérola, Pavão Azul, El Cid e na Mônaco.