Dessas mulheres que não dizem "sim"
27/08/13 01:23Outro dia toquei aqui na questão da mulher nostradâmica, aquela que vê uma teoria do fim do mundo em tudo que aparece pela frente. A mulher descrente.
Mal escrevi e lá chegaram e-mails, mensagens e comentários pedindo, carinhosamente, que o cronista discorresse melhor sobre o tema.
O que você, estimada leitora, me pede chorando que eu não faço sorrindo? Recupero aqui duas ou três coisas que sei sobre a fêmea que vive sob o eterno signo da desconfiança.
Contra ela, tudo conspira.
Sim, com vocês, por incrível que pareça, a mulher que parece ter nascido de uma costela de Nostradamus. Ela existe. Apocalíptica, sempre acha que nada vai dar certo em relação aos homens.
É o fim do mundo. É anti-Pollyana por excelência.
Tudo bem, sabemos que não está fácil para ninguém. Ainda mais nestes tempos do homem-de-Ossanha, aquele macho frouxo que diz que vai e não se move, como no samba de Vinícius e Baden Powell.
A criatura nostradâmica não acredita nunca. Jamé.
Ao contrário da mulher da música “Folhetim”, de Chico Buarque, ela jamais dirá um “sim”.
Mesmo quando todas as condições históricas estão dadas para o enlace. Ou pelo menos para um sexo decente.
“Sei não, está bom demais para ser verdade”, ela pensa.
Sim, posso ler daqui os seus pensamentos.
“Não, não vou cair mais nessa, sei o tamanho de tombos do gênero,” prossegue nas suas reflexões, nervosa, nervosíssima.
Daqui a uma hora se encontrará mais uma vez o pretendente. Pretendente não, porque ela já elimina de véspera.
Encontrará alguém, digamos assim.
Ele a convidou para jantar fora. Quanto tempo alguém não a tratava ela com tanta distinção e classe!
Ela se sente valorizada, mas está com medo, pode ser apenas mais um truque. “Que que eu faço, Diós mio?”, bate o desespero enquanto escolhe a roupa –outro drama.
“Ele só quer sexo. Vai ficar comigo e na manhã seguinte esse telefone emudecerá de vez”, segue o pensamento apocalíptico.
Projeta o futuro no pior cenário. Sim, não à toa, baseia-se no repertório deixado por outros canalhas.
Então liga para a amiga, a amiga mais cética, porque ela está querendo ouvir algo desencorajador mesmo.
A amiga recomenda muito pé atrás. A amiga já levou muitos tombos e, de alguma forma, é humaníssimo, sente uma certa ponta de inveja.
Falta meia hora para o novo encontro. A nostradâmica senhorita confere o cabelo e acha péssimo. Está desesperada como uma daquelas mulheres dos filmes de Almodóvar.
“Por que esse cara vem logo para o meu lado”?”, bate de vez a paranoia delirante.
O carro dele para na frente da casa dela. Há tempos não ouvia aquela buzina que parece tocar a mais romântica do Stevie Wonder, algo como “You Are the Sunshine of My Life”.
A buzina chama para a vida lá fora.
“Não pode ser verdade”. Em vez de ir às nuvens, ela insiste na desconfiança enquanto aperta o T de térreo.
Entradas, drinques, o jantar está ótimo, a conversa incrível.
“Só pode ser truque”, aciona de novo todos os botões do painel da desconfiança feminina. “Não fico com ele hoje de jeito nenhum, nem me venha com esse papinho de don Juan de araque”.
Com licença, vai ao banheiro. Não resiste e resolve consultar de novo a amiga, pelo celular. Está em pânico. A amiga recomenda mais pé atrás ainda.
“Demorei muito?”, ela pergunta. Sim, só de telefonema foram dez minutos. Mas ele, todo afável: “Imagina, demorou quase nada”.
Sobremesa, café, a conta.
No carro, ela nota -como aprendeu com o livro “O corpo fala”- que ele a deseja, como nunca.
Em vez de corresponder, se esquiva mais ainda: “Não caio nem morta nos braços desse truqueiro”.
Assim age a nostradâmica criatura. Corta o drama logo nos primeiros ensaios. Vai que dá certo, não é mesmo? Imagina a confusão que estaria formada na vida. Imagina o rebuliço na existência.
Como um Bartleby, o escriturário, personagem enfezado do livro homônimo de Herman Melville, para tudo nessa vida a nostradâmica diz “prefiro não”ou “prefiro não fazer”.E nem vem com essa de que ela diz não querendo dizer sim. Necas de pitibiriba.
Xico, é assim mesmo!!! rs
Lá em Bangú no Rio,tinhamos um brinde as rodadas de cervejas:Que nossas mulheres não morram nunca na Sexta feira,para não estragar o fim de semana.Dá pra uma dessas donas aí da crônica,confiar num tranqueira destes?
Mirrem-se no exemplo,daquelas mulheres de Atenas..Vivem pro seus maridos orgulho e raça de Atenas…..Quando amadas se perfumam,se banham com leite ,se arrumam,suas melenas….Quando fustigadas, não choram,se ajoelham pedem ,imploram….mas duras penas;cadenas…….(Chico Buarque)
coitada!! tivesse ligado pra mim tinha dado linda, já estava pra casar ou no mínimo com outro encontro marcado 😉
Similar àquele seu texto da dor de corno, amigo Sá, essa ausência de se abrir e ser vulnerável à novas vivências afeta, infelizmente, tanto homens quanto mulheres.
Aos corajosos, cabe a honestidade emocional. E vivenciar a loucura do amor.
Exatamente, Gabriel.
Sobre tua loa ao sheik
http://andrebarcinski.blogfolha.uol.com.br/2013/08/27/sheik-e-tao-falso-quanto-jornalismo-de-twitter/
uma delicia de texto…’catársico’ para tantas de nós…hahahah. Só que muitas vezes, elas/nós dizemos ‘não’ querendo dizer ‘sim’, sim…e segue a vida com desejos x desconfianças – parabens pelas crônicas ‘imperdiveis’
Gracias, Roberto, é so pra colocar na roda, de botequim, se possivel, o debate. beijo e volte sempre
E sobre as mulheres de Folhetim… o que tem a ser dito? 😉 rsrsrs
ótimo tema.deixa comigo.bjo
Pois eu conheci um macho “nostradâmico”… Era igualzinho, só que na versão masculina é muito pior.
Ih, Patricia, é so o que tem. às vezes o Ossanha é um deles. normalmente tomou um pé e nao acerta mais o rumo da vida. beijo
Xiiii terminei um namoro com um desse, com todo esses vai e não vai, durou um ano. Homem ossanha total, rs. Ele tomou um pé de uma outra e que paguei de muleta por todo esse tempo achando que consertaria… oooo mulheres românticas.
Xico, me passa seu e-mail please!
Bruna,anota, é o mesmo q taai no blog: xicosa@uol.com.br beijo
Querido, Xico!
Geralmente mandamos beijos no final, mas estou mandando beijos desde já! Beijos!
Em minha opinião não deveria existir nenhuma fêmea Poliana crente em contos de fadas e em homens perfeitos. Mas sou dessas que dizem “Sim”, e incentivo minhas amigas a fazê-lo.
Sim a novas sensações, sim ao carinho, sim ao bom sexo… E quem sabe a algo mais…
– Ó mulheres sem fé, credes no melhor!
Tem mulher que é assim para quase tudo: vamos para praia! Ela diz: Não! Vai chover! Vamos ao parque! Ela diz: Não, está lotado!
Obs: Chico, como acabou a história dessa Hardy Femea?
sim, amigo, algumas levam isso pra todo assunto da vida.abs
Uma amiga minha tinha a seguinte opinião sobre homens bonitos:Ou é cafajeste ou é viado,com raríssimas exceções.
Obrigado Xico pois eu convivi com uma Mulher Nostradâmica e achava que esse tipo de comportamento só existia na pessoa em que convivi mas vejo que é mais normal e atual do que eu imaginava. Fico aliviado de verdade e vamos a outras Nostradâmicas!!!
Obrigado!
Coluna ótima, mas confesso que minha cabeça tomou outro prumo quando li “toquei na questão da mulher, lá na primeira frase”. Como diz o passarinho Quintana, “o leitor que mais admiro é aquele que não chegou até a presente linha. Neste momento já interrompeu a leitura e está continuando a viagem por conta própria.”
Felipe, qdo escrevi tb tive o susto e essa outra leitura. so nao mudei de rumo pq ja estava com a cronica pronta na cabeça. abs
Adorei Xico!!!! Nem todas são assim, eu sou o oposto, cai diversas vezes, mas sempre me dou, claro que penso: ele só quer me levar pra cama, e logo emendo, mas eu quero ir pra cama com ele, que mal há de se ter uma paixão de uma noite? Enfim, o fato é que muitas amigas minha são a tal da mulher nostradâmica, e quando me pedem conselhos eu digo: Vai, sem medo, liga, se joga… mas acabam não me levando a sério…. devem imaginar: de que adianta ser assim como ela, se ela ainda é solteira….hahaha
Nossa que show ler isso! Não tenho nenhuma amiga nostradâmica e não sou dessas, porém vivo achando que se fosse seria mais feliz… verdade, uma ilusão.
Ah, mas a minha geração cresceu ainda ouvindo pra fugir dos meninos, fingir orgasmo e nao responder aos mais velhos… Leva tempo até que isso saia da gente.
otima observação, Mariane. bjo
“Projeta o futuro no pior cenário. Sim, não à toa, baseia-se no repertório deixado por outros canalhas.”
Xico, será que isso tem cura?? Será que ‘deve’ ter cura? Ou a cura é a própria descrença, como forma profilática de evitar novos sofrimentos? O que fazer??
sim, o repertório é o q conta nessa hora. bjo
Cara, que texto foda! hahaha Eu já tinha teorizado sobre este assunto e fico feliz de saber que não sou o único à identificar esta linha de comportamento hahaha Abraço.
Meu lema sempre foi:
Se chorei ou se sorri o importante é que emoções vivi!!!
tb sou dessa linha, Ana Amelia.bjo
Xico realmente sou sua fã, desde que o conheci no Saia justa; seus textos são deliciosos, é um prazer poder desfrutá-los… Não pare nunca de escrever, por gentileza! Abraço!
Gracias, jaqueline, isso é o q anima o escriba aqui.beijo
Eu desistiria na primeira buzina. Ora primeiro encontro e o rapaz é incapaz de tocar a campainha, interfone, oq quer q seja. A primeira coisa que precisa aprender é esperar por uma mulher, principalmente se ela ainda estiver se arrumando. Sim, chame, reze pelo Senhor da Paciência mas estacione o carro, o resto é consequência. Ah uma dica, se possível abra a porta do carro p ela. Gentileza nunca é demais.
Mas abra a porta sempre, e não apenas no primeiro encontro.
Tudo bem, sabemos que não está fácil para ninguém. Ainda mais nestes tempos do homem-de-Ossanha, aquele macho frouxo que diz que vai e não se move, como no samba de Vinícius e Baden Powell.”
Xico, o senhor é um gênio da crônica. Vivi isso faz poucos dias. Parece ter me mostrado o pouquinho que faltava… Mas é claro que eu já sabia que a privação de algumas mulheres de achar que tudo vai dar errado antes de algo dar certo é comum…
gênio nada, caro DAnilo, é so observação mesmo do mundo. papel do cronista. abraço
Nada que um bom divã não resolva. Mulher bem resolvida olha pra si, pra frente e deixa seus “fantasmas” pra trás, aproveita a noite e seja o que Deus ou Diabo quiser!
Ah, sim, Ana Cravo querida, o caminho é esse: divã. beijo
E mesmo nós, Pollyanas-que-só-dizem-sim, sofremos críticas das amigas apocalipticas. Como escrevi certa vez: as Pollyanas podem ser “otárias”, mas são mais felizes.
Ótimo texto como sempre!
Bj!
Muito bom!
Amei!!
Achei seu texto extremamente machista ! Na minha opinião as mulher tem que se preservar mais e dizer mais não, quem sabe passará a ser mais valorizada em um universo de homens infantis que não podem ouvir não .
‘ Formosa, não faz assim
Carinho não é ruim
Mulher que nega
Não sabe não
Tem uma coisa de menos
No seu coração.. ‘
ihhhh…que bonitinho isso, Rach. Mas vou mudar um pouco sua rima, ok?
Formosa, pode fazer assim
Mas carinho não é ruim
Mulher que nega
Não tem a intenção
Sabe bem o que vai
Dentro do seu coração
(mesmo assim, não leve a mal .. não sou nenhuma criatura advinda da costela de Nostradamus. Até que nem tanto Apocalíptica assim)
Matou,rach!
“…A gente nasce, a gente cresce
A gente quer amar
Mulher que nega
Nega o que não é para negar
A gente pega, a gente entrega
A gente quer morrer
Ninguém tem nada de bom
Sem sofrer”
É isso aí!