O infalível Método Janjão para subir na vida
25/08/13 23:11No conto Teoria do Medalhão, de Machado de Assis (aí no traço do Spacca), o pai aconselha o filho, o abestalhado Janjão, 21 anos completos, a como triunfar na vida – seja no parlamento, na magistratura, na imprensa, na lavoura, na indústria, no comércio, nas letras ou nas artes.
Entre os conselhos, como a manha da bajulação e da queda pelo foguetório da publicidade, alerta o donzelo sobre a esperteza de ter sempre na manga do paletó uma função de reserva, para o caso de não prosperar no ramo profissional desejado: “…assim como é de boa economia guardar um pão para a velhice, assim também é de boa prática social acautelar um ofício para a hipótese de que os outros falhem, ou não indenizem suficientemente o esforço da nossa ambição,” soprou o velho para o jovem almofadinha.
O sonho maior é ser um medalhão, mas se não der, por que não tornar-se apenas um bom advogado?… Se não der em um bom advogado, por que não ganhar a vida como um rábula de porta de cadeia, ainda mais no mundo de tantos corruptos á procura de habeas-corpus?
O mesmo vale nos dias de hoje nas raias da política, da cultura, do entretenimento e da fama. Não conseguiu emplacar como um bom ator? Ora, grave um disco. Não conseguiu brilhar como cantora? Não faz mal. Tente ser apresentadora de programa infantil… Faltou financiamento para o cinema? Bem-vindo ao jornalismo, como fez o Arnaldo Jabor, para o bem ou para o mal de um dos dois.
Baseado na teoria do conto machadiano, este escriba, que acabou nas redações por falhar seguidas vezes no concurso do Banco do Brasil – sonho de todo bom pai do interior – deixa seus conselhos, ou melhor, pitacos à bagatela, para aqueles que procuram fugir do atoleiro das obscuridades, independentemente dos ofícios que abracem:
Nome próprio – Não careces enfiar tantos ll dobrados, kk, ys e quetais, mas é bom que tenhas um batismo artístico curtinho. Em 1942, Mário de Andrade já alertava o então Fernando Tavares Sabino, que derramara no papel os primeiros contos, a cortar um dos sobrenomes. Dito e feito.
Ideias – “O melhor será não as ter absolutamente”, como diz o pai do Janjão, o mancebo citado logo ali, na cumeeira desta crônica.
Ironia – Eis o ímã para chamar inimigos e puxadores-de-tapete aos borbotões. Nem diante do espelho deves ensaiar este movimento de canto de boca, recurso inventado, segundo o pai de Janjão, por algum grego da decadência.
Citações – A depender do auditório. Como todo bom mineiro sabe, em terra de sapo… de cócora com ele. Em um ambiente sério e respeitoso, Shakespeare, sempre Shakespeare; entre mulheres e gays, Wilde, muito Oscar Wilde.
Importante: não te apresses a dizer o nome do feliz proprietário da frase, omita-o. Para quem sabe a autoria, não haverá nenhum pecado nisso; e aos ouvidos dos tolos, soará como uma boutade de sua mente privilegiada. Arrancarás suspiros!
Metáforas – Tão-somente as ululantes ou futebolísticas, como o ex-presidente Lula.
Polêmica – No Brasil, o reacionarismo não é uma maneira de reagir a algo ou alguém, é meio de vida. Polemize. Pricipalmente sobre o que ignora. Como a medicina cubana, por exemplo.
Bajulação – Não te limites a acariciar os chefes, críticos e demais pessoas que possam te ajudar neste alpinismo apenas com os adjetivos da submissão e da mesquinhez. Mimos retóricos não bastam – nem mesmo quando embutem um certo jabá do erotismo e do assédio. Estas criaturas-degraus devem ser tratadas a pão de ló e caros presentes, não te envergonhes e trate-os além muito além das tuas próprias posses.
Metafísica de mulherzinha – Excelente, indispensável. Trata-se daquele discurso sub-Clarice Lispector, com um pouco de sub-Fernando Pessoa, com o qual, sendo tu fêmea ou não, escriba ou não, narras as tuas dúvidas e inseguranças mais comezinhas, teus lunduns telefônicos, teus queixumes de banheiro, tuas incomunicabilidades de TPM, teus eus perdidos que enchem o saco de todos os nossos outros eus.
puts….o comentário foi duas vezes !! sorry!! erro de principiante !!
xico “tudibom” sá: eu sou a moça da máquina de escrever em paraty !! amei esse texto, como amo todos os outros !!
Veridiana, querida, mas a moça q se identificou como ela na Flip, nao é? ou a datilógrafa mesmo ali dos arredores da Rodoviária? beijos
xico, lembre-se: eu sou a moça da máquina de escrever em paraty !!!
p.s.: amo tudo o que vc escreve !!!
Infalível no Brasil de hj e sempre (infelizmente). Lembrei de outra figura machadiana, José Dias, o agregado da casa de Bentinho, homem dos superlativos.
esse é outro grande personagem, Marcela. e machado tinha essa genialidade de marcar um personagem com um simples traço da fala. bjo
E José Dias e um bajulador nato, item importante na lista “pra se dar bem”. O texto do velho mulato mais atual que nunca, conhecia bem demais o Brasil, alias, as manhas do brasileiro. Bjs, Xico
Me emociona mais o fracasso do que o sucesso.Fico comovido com a decadência física e a degradação moral,como Calvero,personagem de Chaplin em “Luzes da ribalta”Só um imbecil aceita ser famoso ou celebridade,nas revistas de fofocas.Por isso meu viva a Kurt Cobain e Garrincha,que morreram para não compactuar com esta babaquice.
sim, infinitamente mais digno um fracassozinho bacana.abs
MUITO BOM! Ou seja, como antes e sempre continuamos a dar razão ao Governante Frances: O BRASIL NÃO È UM PAIS SÈRIO!
…e quem for cego,veja de repente todo azul da vida,quem estiver doente saia na corrida,quem tiver descrente fique bem ditoso,quem tiver sorriso,fique lá na frente,pois vendo valente e tão leal seu povo…o rei fica contente por que é ano novo.
complemento:Vence na vida quem diz sim9calabar ,um elogio a traição-Chico e Ruy Guerra)
Ė um dos meus contos favoritos. Também foi objeto do meu TCC com meus 20 e pouquinhos… Que sabia eu naquela época? Talvez um pouco menos apenas do que hoje…
q sábia! imagina agora!!! bjo
A cor esmaga o coração!
Vergonha foi coisa de cegonha!
Na concorrência, não é necessário cabeça e fronha.
Bastam as unhas!
Toda incapacidade é sem vergonha!
Desilude os homens.
Mata quem sonha.
Não se matam só as coronhas.
Sem alça de mira,
Os incapazes reprimem gente aborrecida.
De tão cruéis assustam.
Tem debaixo das mãos uma torcida.
Faz do invento (capacidade alheia) causa parricida.
Ao menos os cães prestigiam.
Seus tiros são a própria agonia!
O tambor não roda, rodopia.
Giratório no extermínio de massa.
Tinha sonhos que nos infernos suas almas ardiam.
Graças a esses “trombadinhas” que pude criar a teoria que negava o dia.
E descobrir que Fogos de S. João,
Fogos de Natal,
Tudo isso para dar uma rápida espiada nos seus umbrais.