Amar é nunca saber do dia seguinte
29/07/13 03:09O homem só tem duas obrigações na vida, quer dizer, três:
1)Amar e zelar pela mãe;
2) ir para a guerra se for preciso e,
3) principalmente, tornar um momento único o amor pelas mulheres que o encante, porque esta hora é mais religiosa, a mais bonita.
Donde dou, qual um Tim Maia do amor, motivo, para justificar, solamente, o terceiro tópico desta crônica, a devoção pela nega, não nego, sigo, obsessivo sujeito, prático, por supuesto, sincero até o amarelado-brega-final do crepúsculo.
Bora nessa.
Episódio de hoje:
No que concerne ao olho masculino nas visões matutinas.
Vixe. Acordar diante de uma mulher, até mesmo quando você não a ama ainda, é a acontecência. Talvez não exista nada mais bonito. Talvez nem o ato do encorajado homem entrar para dentro do dia com sua calça pega-marreco tão curta para o tamanho da passada existencial e inevitável.
Quando ela acorda, ela, só ela, aquelas marquinhas no corpo feitas pela noite, atrito de peixes que passeiam nos subterrâneos dos lençóis de modo a marcá-lá como se ela vivesse as 20 mil léguas submarinas do viejo Verne.
Nada como uma mulher quando acorda.
Ela acorda, eu morro, petite mort, como no gozo dos franceses. Vá entender gozar como morte. Pior é que eu entendo.
Nada mais bonito do que uma mulher quando dorme e nada mais extraordinário quando uma mulher quando acorda.
Os primeiros sinais… Uma mãozinha que arrisca o anestesiado esticamento… Uns incompreensíveis dizeres ainda do sonho, como se blasfemasse contra tudo e contra todos uns restos de filmes de Buñuel, o cara do obscuro objeto do desejo.
Donde repito: os sonhos das belas mulheres são restos de filmes não usados pelos melhores cineastas mortos.
Ela acorda, cabelos feitos algas doidas, o seu incômodo mais bonito; algum tédio diante da reabertura do mundo chato, ela se espreguiça, ossinhos que estalam sob a réstia do sol do mundo sério que atravessa a cortina, os barulhos do mundo, os mascates, o tiro no coco de Getúlio que ouvimos a cada manhã no Catete.
Agora ouço o barulho do mijinho dela, música ao longe aqui do quarto. Paudurescência da aurora; ensaio um gozo-memória, nostalgia precoce, como se a danada tivesse ido embora num teletransporte de fio terra; ela volta ainda mais manhosa, quase um gato a reinventar botes câmera lenta num sashimi da véspera.
Ella Fitzerald, uma das peixas do seu aquário, está mais viva do que nunca.
O pau toca a sua bundinha sem a pressa da foda, quase como fossem feitos um para o outro e tivessem todo o tempo do mundo. As almas já se entendem, os corpos quase, ela pensa “qualé a desse cara?”.
Tudo uma coisa assim Manuel Bandeira, de quem roubo esse dizer todo da madruga.
Arriamos, o cansaço matando lindamente os interesses imediatos. O estranhamento da manhã talvez não vos interesse. Amar é nunca saber do dia seguinte.
Quase morri a morte pequena ao ler os ultimos paragrafos. Mais do que muitos fizeram ao vivo.
Adorei o texto caro Xico, porém como historiador chato: Getúlio se matou com um tiro no peito e não no coco.
Ps: Sei que é chatice minha, parabéns pelo texto
eita, foi no peito mesmo, amigo. errei feio de anatomia. isso é importante corrigir. o tiro no coco, infelizmente não-dado, foi do general Figueiredo. disse q se mataria a esse modo se ganhasse o salário mínimo. abs e gracias pela correção
Sei não… A crônica de Antonio Maria sobre o tema é muito superior; sei que você a conhece e sequer mencionou… Pegou mal.
Antônio Maria é mestre, sou leitor e ja escrevi muito sobre ele pra varias publicações. Infinitamente superior. Nao cometa esse pecado com o velho Maria. sou apenas um racunhador e,vezes, um reles diluidor do lirismo do gênio pernambucano. Dele e do PMC,os q mais curto. Sobre a crônica q vc se refere eu já fiz um diálogo com ela, citando, inclusive. Nesta nem chego perto. amém. abs
te respondi ai abaixo,meu caro.abs
Amar é……descermos juntos uma ribanceira, em um caminhão sem freio.
perfeita definição,meu caro.abs
Ai esse amor contemporâneo!
Xico querido, como aaaaaamo seus textos. Quanta lindeza um Xico é capaz de escrever!!!! Esse da manhã, é uma delícia que só. <3
Xico é sempre bom ler suas crônicas do(s) amor(es) e qdo é vc quem as escreve me sinto uma MULHER melhor e mais feliz!
homem que gosta de mulher de verdade, conseguem ver assim. gostam de mulher de verdade, eu digo, porque gostam de mulher antes de gostar do sexo em si ou deles mesmo. só homem assim é que consegue ter percepções como essa. faltam -por aí- homens que gostam de mulher de verdade.
Ai Xico, só você pra ter tanta sensibilidade.
Te amo Xico!
Xico, eu gosto dessa definição de Bukowski para o amor :
Qual sua definição de amor?
-Amor?
-É como você vê a névoa de manhã, quando você acorda antes do sol nascer.
É como um breve instante que depois desaparece.
Isso é sério?
-Absolutamente.
Desaparece? hahaha
-Sim, rapidamente. Apenas isso, o amor é uma névoa que queima com a primeira luz de realidade.
belissima definição do velho safado Buk.gracias por me relembrar.beijo
..e o projeto dos 7 pecados,ficará sem finalizar? Tava ótimo,pô.
no ultimo post acabei fazendo uma baciada dos pecados.mas fiquei devendo. retomarei.abs
Belo texto Xico Sá… lendo e rememorando imagens; deu uma saudade boa… nos faz ainda relembrar e valorizar os pequenos prazeres do cotidiano e assim alimentar os amores… Adorei!
Uau…… beijo xico
Quero tudo isso aí, por favor.
Ain, coisa mar linda!
Gostei demais da frase “os sonhos das belas mulheres são restos de filmes não usados pelos melhores cineastas mortos.” Eu também tenho essa paudurescência matinal de uma noite ainda inacabada, mais conhecida como ereção matinal. Antes eu pensava ser um problema, mas agora sei que é tesão pela mulher que dorme e acorda. Tenho certeza agora que é a melhor foda ao final da noite. É como se fosse o gol da vitória, no final do segundo tempo da prorrogação de uma partida de futebol. Essa será sempre a crônica predileta das segundas-feiras. Valeu Xico, abraços!
concordo plenamente com suas palvras.
Falai Xico!
Essa roçada no dorso da nega logo de manhã é demais mesmo!
O famoso e estrondoso esticar, espreguiçar, se ajeitar, se arrumar, tornar-se a se esticar e espreguiçar, tudo antes do seu levantar. Coisa fina que apreciamos no despertar conseguinte, juntamente com a beleza desnuda dela.
Mas sem isso, que graça teria acordar do lado de uma dama dessas?
Até café na cama levo pra ver essa cena diariamente, no camarote do meu quarto, da loirinha de zóio verde e pele branquinha em casa!
Uma belezura!!
Abraço!!
Ai Seu Xico…você é demais…
Recife está te fazendo bem!
sempre me faz, desde o final dos anos 1970.bjo
Rua da Aurora é uma delícia!! O outro lado da ponte tbm. Bjo
“Acordar diante de uma mulher ate msm qd vc ainda nao a ama”. Essa época de conquista, “pré-amor” é uma delícia msm que nao seja definitiva; “Pau que toca a bundinha sem a pressa da foda”, faltou citar as carícias demoradas nos peitinhos, alias faz uma crônica sobre isso Xico, faz. E a petit mort é facil demais de sentir. Talvez explica-la seja uma tarefa complicada, mas morrer varias vezes é o paraíso.
Poéticos elogios às almas femininas…
Será que o meu aqui do lado assim me vê? rsrs
Vc é ótimo Xico. Bjo.
A construção romântica e sintonizada das palavras deixa seu texto sublime.
Eu não gosto dessa de Amar é não saber o dia seguinte, mas acho que quem tem que entender e se adaptar seja eu, pois vivencio isso e sei que é por aí, gostando ou não.
Beijo Xico!
Isso é Xico Sá. E de vez em quando as minhas manhãs são assim mesmo. Sou feliz.
sabe que é verdade, me sinto linda qdo acordo!
Perfeito!! Começo a desconfiar, Xico, que você não existe e que o cara que de vez em quando eu vejo na bancada do SPORTV é um holograma, rsrs.
A insustentável leveza do ser…………OBS:MAKE LOVE ,NOT WAR.Quem arrumou a encrenca ,que resolva.A única arma rígida ,que eu uso é minha pica.
Sei nem o que dizer…Lembrei sem querer das minhas mornas manhãs …Ah Xico assim voce me arrasa!!!!!
Perfeito!!! É isso aí Xico.
Essa poderia ser a crônica do meu último final de semana, depois de duas semanas onde todo dia eu tinha a certeza de que não haveria outro dia. Morremos juntos, grande Chico. Essa é a verdadeira morte.
Conseguiu definir o temido e desejado ”amor” sem cair nos clichês saudosistas que vemos por aí.
OBS: o Rio está te fazendo muito bem – como já disse em outro comentário.
Beijos