Sr., político, mire-se no exemplo de Graciliano
03/07/13 13:41Tempos gracilianíssimos. O autor de “Angústia”, o mais russo dos livros brasileiros, é homenageado na 11ª Flip que começa hoje. Talvez estrebuche um tanto na cova, talvez emita apenas uns resmungos -era avesso a badalações como o mais guardado matuto.
Tempos de “Vidas Secas”, como na estiagem deste ano que deixou as pegadas do estrago e as caveiras das reses nas estacas. O mundo coberto de penas a cada bicada dos urubus.
Tempos gracilianíssimos no país. Os políticos com medo das ruas como um menino das Alagoas com medo do papa-figo, personagem de crônicas do velho Graça. Tempos de cus nas mãos, como os abestalhados diante de “Caetés”.
Graciliano Ramos, o político, tem muito o que ensinar nessa hora. Os seus “Relatórios”, a prestação de contas do escritor enquanto jovem prefeito de Palmeiras dos Índios (AL), entre 1929-30, é aula magna.
Deveria, como disse na eleição passada, ser leitura com direito a ditado e prova oral para a classe política. Se possível com castigo de palmatória, como no seu tempo, para os reprovados. Cada frase do velho Graça vale por toda a Lei da Ficha Limpa.
Repare nesta pérola sobre obras de iluminação pública: “A prefeitura foi intrujada quando, em 1920, aqui se firmou um contrato para o fornecimento de luz. Apesar de ser o negócio referente à claridade, julgo que assinaram aquilo às escuras. É um bluff. Pagamos até a luz que a lua nos dá.”
Comunista, o escritor enviou o seu texto, considerado hoje uma obra-prima da crônica de costumes, ao então governador Álvaro Paes, que ficou impressionado com o valor literário do deveria ser apenas mais um documento da burocracia administrativa.
Sobre o cemitério, escreve: “Pensei em construir um novo cemitério, pois o que temos dentro em pouco será insuficiente, mas os trabalhos a que me aventurei, necessários aos vivos, não me permitiram a execução de uma obra, embora útil, prorrogável. Os mortos esperarão mais algum tempo. São os munícipes que não reclamam.”
Os “Relatórios” foram publicados inicialmente em uma coedição da Fundação de Cultura do Recife com a editora Record, nos anos 1980. A edição tem apresentações do advogado e escritor José Paulo Cavalcanti Filho, integrante da Comissão da Verdade, e do jornalista Joel Silveira, o repórter, a víbora do jornalismo brasileiro.
Imagine um atual prefeito, amigo, abrir a boca e reconhecer a ineficiência do ensino municipal. Graciliano, com seu humor árido qual a paisagem sertaneja, não temia a sinceridade.
“Não creio que os alunos aprendam ali grande coisa. Obterão, contudo, a habilidade precisa para ler jornais e almanaques, discutir política e decorar sonetos, passatempos acessíveis a quase todos os roceiros.”
Enxuto nos gastos como a sua escrita, Graciliano relata cortes em despesa. Sobre a estrada que liga Palmeiras dos Índios à sua Quebrangulo natal, foi enfático: “Original produto de engenharia tupi, tem lugares que só podem ser transitados por automóvel Ford e lagartixa”.
Mirem-se no exemplo!
xico, meu guru do crato
obrigado mais uma vez pelo texto, como sempre “reto e sem curvas”…
lamentamos saber que “A CLASSE POLÍTICA” não se interessa em ler, viver, saber, o que a população tem a dizer…
a esperança é a ultima que morre e o gigante parece ter acordado, que venha 2014…
abraços fraternais velhinho!!!
Gracias, por trazer um pouco de Graciliano Querido Xico.
Um comunista que gostava de fazer tudo da forma mais direita possível e que ao contrário do que rezam os ignorantes “não comia criancinhas”, mas com certeza se deliciava com um bom cuzcuz.
Abraço.
Eduardo Green.
Por falar em comentários políticos ,o artigo do Jânio de Freitas de hoje tá ótimo .
Agora que voltou o Brasileirão, Xico, vê só que barato: http://www.youtube.com/watch?v=hw00HZeL9fg
“No Calor da Hora”, este título vem ao encontro de dois exemplos de nordestinos, de ontem e de hoje que desejo evocar, no trato da coisa pública: ontem Graciliano no seu modo quase esquálido e apolíneo de homem público no nível político local, e hoje o presidente de um dos poderes da Republica, o sr. Henrique Alves presidente da Câmara dos Deputados, este fazendo uso de prebendas, ao se utilizar e franquear a sua parentela veículo da República como se fosse seu.
Ao lançarmos uma mirada em Graciliano homem público, ainda temos algum sinal de esperança – como nos ensinou Ernst Bloch.
As frases geniais
Mete o sarrafo Xico, isso aí! Mas seja bem deliciosamente irônico e sarcástico, para que eu possa rir praca, ok?
Com tantas besteiras em profusão,Graciliano,hoje teria um prato feito para suas críticas acídas,assim como Sérgio Porto,autor de FEBEAPA, O festival de besteira que assola o país.
querido xico… Um talento ímpar como esse… com uma sinceridade concreta aliada ao humor…Devemos mirar o exemplo e fazer dessas palavras um mandamento para nossos atuais “politicos” ocos…beijo.
Bravo Xico!
Grande Graciliano Ramos…segue seu autoretrato:
“Auto-retrato aos 56 anos
Nasceu em 1892, em Quebrangulo, Alagoas.
Casado duas vezes, tem sete filhos.
Altura 1,75.
Sapato n.º 41.
Colarinho n.º 39.
Prefere não andar.
Não gosta de vizinhos.
Detesta rádio, telefone e campainhas.
Tem horror às pessoas que falam alto.
Usa óculos. Meio calvo.
Não tem preferência por nenhuma comida.
Não gosta de frutas nem de doces.
Indiferente à música.
Sua leitura predileta: a Bíblia.
Escreveu “Caetés” com 34 anos de idade.
Não dá preferência a nenhum dos seus livros publicados.
Gosta de beber aguardente.
É ateu. Indiferente à Academia.
Odeia a burguesia. Adora crianças.
Romancistas brasileiros que mais lhe agradam: Manoel Antônio de Almeida, Machado de Assis, Jorge Amado, José Lins do Rego e Rachel de Queiroz.
Gosta de palavrões escritos e falados.
Deseja a morte do capitalismo.
Escreveu seus livros pela manhã.
Fuma cigarros “Selma” (três maços por dia).
É inspetor de ensino, trabalha no “Correio do Manhã”.
Apesar de o acharem pessimista, discorda de tudo.
Só tem cinco ternos de roupa, estragados.
Refaz seus romances várias vezes.
Esteve preso duas vezes.
É-lhe indiferente estar preso ou solto.
Escreve à mão.
Seus maiores amigos: Capitão Lobo, Cubano, José Lins do Rego e José Olympio.
Tem poucas dívidas.
Quando prefeito de uma cidade do interior, soltava os presos para construírem estradas.
Espera morrer com 57 anos.”
Valeu pela dica/informação, Xico! Adorei… Beijocas!
Incrivel!!