O patriotismo como refúgio dos canalhas
21/06/13 15:19Que ressaca cívica, senhoras e senhores.
O tipo da ressaca que não se cura com água de coco e muito menos suco de tomate.
Não adianta brigar com esse tipo de ressaca. É mais forte e destemida que a ressaca moral, como deu a pista o Paulo Mendes Campos.
É um sacode.
Mesmo assim, stop, paramos nós ou parou a passeata? Aí já estamos com Drummond, mas ainda em Minas Gerais.
Não parou nada. Assim como ninguém para o trem, o busão, o Penha/Lapa da história.
Há, porém, uma pergunta, igualmente drummondiana, na voz popularíssima de Paulo Diniz. Escute aqui.
E agora José, para onde?
Pergunto também ao pó das ruas, pergunto à poeira de Casa Amarela –agora saltamos para a voz rouca de Miguel Arraes, Recife, Pernambuco.
Deixo aqui apenas dois dedos de prosa, como quem rumina um capinzinho metafísico no canto da boca.
A rua soltou a voz, a polícia de SP soltou o lacrimogêneo e o fermento. De alguma forma, como disse a Cora Rónai n´O Globo, obrigado Alckmin.
O resto vocês já sabem.
Estávamos todos muito silenciosos. Agora, creio, os velhos políticos ouviram o recado até do Ipiranga.
Legítimo que as nossas vidas tenham padrão-Fifa. Eu também quero. E rápido.
Lutar contra a corrupção, oba, facílimo, pelo que sabemos até o Ali Babá levantava essa bandeira. Quero ver é na prática.
Essa masturbação sociológica toda, como dizia o Sérgio Motta, uma das minhas melhores fontes jornalísticas ao lado do PC Farias, para adentrar o gramado com outro assunto.
Este sim me preocupa:
O patriotismo é o último refúgio do canalha, disse um certo Dr. Johnson, pensador inglês. A sentença também é atribuía ao gênio Nelson Rodrigues.
Mas o melhor da frase é o uso que o Millôr Fernandes, filósofo do Meier, fez da mesma:
“O patriotismo é o último refúgio do canalha. No Brasil, é o primeiro”.
A face mais estranha da onda de protestos tem sido o patriotismo/nacionalismo dos últimos dias, esse gesto de pendor inicialmente tão bacana e historicamente tão fascista.
Nunca vi tanto patriota, dentro e fora das tais arenas.
O amor à pátria acima do bem e do mal? Tô fuera. Neste sentido me sinto um verdadeiro cavalo paraguaio.
Se fosse só o amor à pátria em chuteiras, aqui já voltando ao velho tio Nelson, vá lá… Se bem que misturar futebol e pátria -como faz o próprio governo federal ao se apropriar do conceito rodriguiano- também não é grande coisa.
Tenho um certo medo daquelas criaturas exageradamente patriotas. Por trás dessa bandeira, costuma rolar o vale tudo, a intolerância, o incontrolável sururu na área.
Sou tão filho teu quanto qualquer um outro, querida pátria envelhecida em barris de bálsamo, mas fujo de uma luta burra facim facim, pela porta dos fundos. Afinal de contas, o que nós queremos, Mário Alberto?, como perguntou hoje o botafoguense Arthur Dapieve.
Não sou ordem nem sou progresso, sou da turma do amorzinho gostoso. Na rua ou entre as quatro paredes.
Não sou de palavras tão rebuscadas. Para mim, as manifestações de alguns poucos tornaram-se a desculpa de alguns muitos para fazer barulho por quase NADA. Sim, NADA. Um exemplo: tem muita gente contra a Copa e seu caríssimos estádios, certo? Pois bem, não teria sido mais acertado o protesto lá atrás, quando da participação do Brasil na disputa pela sede do campeonato ou quando tais estádios ainda eram só projeto? Agora, depois de tudo feito e gasto, vamos para a rua pintados de verde e amarelo exigir educação padrão Fifa? Esse povo é hilário.
Bom comentário pra reflexao geral! abs
Acontece meus queridos que de lá para cá muitas coisas aconteceram: o governo deixou de investir algumas dezenas de bilhões na saúde e na educação, os gastos dobraram em relação às previsões para erguer os elefantes brancos, o FIFA cantou de galo e o governo se acovardou, os mensaleiros foram condenados e mesmo assim assumiram cargos públicos remunerados pelo meu, o seu e o nosso dinheirinho suado, etc, etc, etc…
Sem falar no fato de que tudo isto que mencionei não foi bancado pela classe mais pobre nem pela mais rica pois estes não são o grosso de quem paga juros, foi bancado pela classe média que é a maioria que está nas ruas. E ainda vem querer aumentar taxas e impostos?
Aí parei né!
Abraço a todos
Dr. Zé, comentário totalmente pertinente. Mas, pergunto, não foi sempre assim? Enfim, sempre é tempo de mudar. Acho que se o povo se ORGANIZAR e FOCAR assuntos específicos, sugerindo propostas, aí sim, teremos algum resultado.
Viva a inteligência….abaixo a inteligêntzia.
Xico Sá você é o clássico cínico, que se deixou levar pelo academicismo teórico, você por acaso é destituído de sentimentos…Jornalista vê coisas boas e muitas coisas ruins, é perseguido entre outras coisas, mas não precisa se tornar um cético, dentro de tí palpita um coração! Seja pelo menos você mesmo…E dê lugar a pertinácia, a crença na capacidade humana. Cara! qualé, talvez sem óculos você enxergue a “vida tal como ela é” Nelson Rodrigues” Barba tchê!
Patriotismo, não é medo de Exército, nem de nenhuma instituição militar. Patriotismo É amar o cheiro da sua terra, se alegrar com o colorido das flores onde Vc. Nasceu, relembrar sempre os seus amigos de infância, da sua família, e de repente, Vc. Notar que até esse direito, está comprometido pela violencia, pela corrupção, e outros ilícitos. E se queres esse direito aproveite para se manifestar agora, tendo em mente o o célebre Raul Seixas”Eu não sou besta prá tirar onda de herói, sou vacinado sou cowboi”…
vivo nas manifestações desde as tropas do General Figueiredo,amigo. valeu pela leitura.abs
Nem tudo é divino e maravilhoso.Toda unaminidade é burra.Existem muitos Brasis e é muito difícil tratar a coisa com simplicidade.Para vocês terem uma aula de um outro Brasil,assistam o programa do canal Brasil chamado ‘Eu vou rifar meu coração’ e verão o grande choque de contrastes.
Caro Xico,
Pernambucana por derradeiro me permito pegar uma garupa em seus temores. Tenho visto nos meios de comunicação e nas redes sociais a alusão do Ministro Barbosa, para presidente. Esta postura me deixa cabreira, pois sugere que possa existir uma única pessoa capaz de resolver os problemas de nossa democracia. Talvez nossa herança judaico-cristã nos faça esperar por um messias! Não acredito em Salvador de Pátria!
Mas importante que qualquer manifestação, é a volta deste espaço,para que possamos opinar com toda liberdade.Quanto aos acontecimentos ,temos que ter um pouco de calma,filtrar ,pois o apressado come crú e quente.
Obrigada, Xico! Senti que desentranhou, agora, um nó da minha garganta.
Compartilho totalmente “de um certo medo daquelas criaturas exageradamente patrióticas”, a la Hittler.
To fuera total dessa onda autoritária, fascista, reaça, moralista, que anda querendo pegar uma carona no grito das ruas.
Entendo que fique um pouco de pé atrás com isso tudo, também tenho um pouco dessa sua temeridade. O velho medo do verde-oliva, de novo, a substituir o verde-bandeira?
Mas até quando esperar?
http://amarretadoazarao.blogspot.com.br/2013/06/ate-quando-esperar-plebe-ajoelhar.html
A última vez em que houve mobilização assim, derrubaram o presidente; esse que hoje é senador.
Ah tá…ahã.
Preciso e certeiro – tbém tô fora dos “ismos” nesse sentido, porque sob o manto patriótico, como vimos, cabem muitas coisas, entre elas a estupidez, a violência & tais. Muita precaução, portanto. Orwell, aquele mesmo do atualíssimo 1984, tinha uma visão bem crítica e pertinente sobre nacionalismos e outros ismos. É isso, abraço fraterno (pq somos humanos antes de quaisquer fronteiras e bandeiras)