Surfando na realidade da pororoca social
19/06/13 14:22“Uma cerveja, antes do almoço, é muito bom, pra ficar pensando melhor” (Chico Science & Nação Zumbi).
Agora que a onda de protestos se espraia nos grotões e arrabaldes, lembrei de uma imagem do último general-presidente, o mais cínico e sincero dos milicos da Ditadura.
Sim, ele mesmo, vossa excelência João Baptista de Oliveira Figueiredo, que Deus ou Diabo o tenha, amém.
O filósofo-milico temia a pororoca social, que seria, a exemplo do encontro das águas do Amazonas com o mar, um estrondo contra “tudo isso que está aí”.
Teria chegado a hora da pororocracia?
Pode ser. Socrático, porém, me resguardo ainda ao nobre direito do só sei que nada sei.
Duplamente socrático, eu diria: sou fã do sábio grego e do pensador da Democracia Corinthiana.
Imagina o doutor na Copa das Confederações!
Imagina o doutor falando sobre as tais arenas. Estas ilhas de modernidade cercada por uma realidade de várzea por todos os lados.
Paraense criado em Ribeirão Preto e ídolo da massa em SP, Sócrates sabia como ninguém a força da pororoca.
Sigamos, nunca devagar, mas de forma pedagógica. Em tupi-guarani, pororoca é o mesmo que causar um estrondo. Causar é o verbo da hora.
A pororoca das ruas é pedagógica.
Da Sé, da Candelária ao meu Cariri, onde ocorreu a pior história de falta de educação de autoridade no Brasil há séculos: o prefeito de Juazeiro do Norte, Sr. Raimundão, conseguiu a proeza de reduzir o salário dos professores.
Ontem, a pororoca começou a fazer água até o seu pescoço: foi cercado por cerca de 10 mil manifestantes –proporcionalmente mais do que toda a multidão que foi às ruas na noite da Paulicéia Bombardeada.
O protesto em Juazeiro já vinha rolando. A pororoca, porém, causou o estrondo. O bom da pororoca é isso: ela junta os velhos e os novos protestos em um só tsunami.
Pedagogia do oprimido, lição de coisas: mire-se no exemplo dos sem-teto e dos sem-terra. Protestam o ano inteiro, todos os anos.
Estão também na pororoca. Em alguns momentos ao mesmo lado dos latifundiários coxinhas, urbanos ou rurais, que odeiam seus atos de rotina. A pororoca cuidará das contradições de classe ao caminhar da história. Veremos.
A pororoca é sábia, mistura águas e depois separa interesses de classe.
A pororoca é feito doido, tem passe livre.
A pororoca só poderia ser narrada pelo maior poeta da natureza de todas as eras, meu amigo Walt Whitman.
Águas passadas são a história e movem as novas realidades alagadiças.
Da lama ao caos, do caos à lama, um homem roubado nunca se engana. É Science de novo na vitrola.
Aviso importante, desta vez mais educado: por falha do sistema -e isto não é uma metáfora!-, o blog continua com os comentários desativados. A equipe da Folha.com avisa que está trabalhando para corrigir o defeito.