Futebol como a nova exclusão social da hora
03/06/13 00:20Vivo fosse e estivesse aqui ao meu lado nesta tarde domingueira do novo Maracanã, Nelson Rodrigues, o cronista esportivo, esqueceria o jogo, como de costume, e cutucaria a todos nós, observando apenas a torcida:
“Não há um só desdentado, só gente com saúde dentária de artista de cinema”.
Óbvio que a saúde bucal do brasileiro melhorou um pouco desde a morte do tio Nelson, em 1980. A visão rodriguiana, no entanto, está valendo, certíssima, justíssima -só a turma bacana teve acesso ao Brasil 2×2 Inglaterra.
N.R. usou essa imagem inicialmente para falar da histórica “passeata dos cem mil”, em 1968, um dos maiores protestos contra a ditadura militar, aqui no Rio. Depois aplicou a mesma em variadas situações e entrevistas. Tio Nelson era um escritor de geniais e repetidíssimos mantras.
Voltemos aqui ao Maraca, ô psit.
Só gente com saúde dentária de artista de cinema, meu caro amigo Halley (Bó) Maroja, o melhor odontólogo de Caruaru, portanto de Pernambuco, logicamente do Brasil, ora pois.
Pior é saber que a política sorridente de exclusão não é um pecado exclusivo da praça esportiva carioca. É e será a lógica excludente não só do MaracanaX –o “x” fica por conta da administração do Eike Batista.
É o esquema Fifa que vale para todas as novas arenas: Pernambuco, Mineirão, Castelão, Fonte Nova, Beira Rio, Brasília, Itaquerão etc.
Do velho estádio Mário Filho, homenagem ao irmão e guru do supracitado e amado Nelson Rodrigues, o Maracanax não tem nada. Minto. Reapareceu aqui hoje, lindamente, a bandinha dos Fuzileiros Navais executando o hino do lábaro estrelado. Gostei. Foi bonito. Palmas.
O estádio, digo, a arena, é uma beleza, claro que uma beleza na nossa visão colonizada do que convencionamos a imitar os europeus em matéria de futebol e arquitetura etc. Coisa de primeiro mundo, como o Brasil aprendeu a dizer na Era Collor.
Por que imitar os projetos de arenas, ops, estádios de Itália e Alemanha, por exemplo? O que acham meus leitores arquitetos, é bonito?
Só voltando mesmo ao velho N.R.: O subdesenvolvimento não se improvisa. É fruto de séculos”.
Maracanã, adeus.
Se fosse só o ingresso a mais de 100 por hora, a 500…
Pense no cachorro quente, um bicho frio da peste que não chega aos pés do “comeu-morreu” da Pracinha do Diário, no Recife, a quase dez mirréis. Sequer alcança a excelência do hot-dog da Cascatinha, na rua 7, no mesmo Hellcife.
Pense num mate, como reclamavam os cariocas que amam essa bebida, na mesma pegada da carestia da moléstia. Água, então, caro Monsueto, só na hora da sede extrema amorosa, só pra agradar a donzela… a fonte secou!
Cadê o ladrão que não vê uma polícia dessas!?
Existo, logo dialogo aqui com o amigo Marcus Galiña. Tudo que o governo federal conseguiu incluir de Lula para cá foi excluído com a política das Arenas. Quem sempre frequentou estádios, adeus, está fora doravante. O futebol como simbólico. Tem algo mais representativo para o brasileiro?
Perdeu, nova classe C, ganhou playboy. Nas arenas a moral é essa. Se liga gerência simbólica do governo!
Repito: levando em conta que o futebol representa o que há de mais popular na cultura brasileira… Puta derrota da massa!
Será? É apenas um cutucão que recebi do tio Nelson, nesta tarde no ex-Maraca. Começa agora, com vocês, damas & cavalheiros, a verdadeira mesa redonda ai nos comentários.