Como perder a frescura e virar um escritor
21/05/13 12:53Você curte escrever, tem combustível de sobra, mas o motor-de-arranque ainda teima com a ignição na hora da partida?
Você teme os críticos, mesmo que os da família?
Você é tímido o suficiente para rasgar as suas melhores histórias? Você esconde o jogo?
Você precisa se encorajar com o mestre. Sim, escrever exige risco e coragem. Corra, pare. Eis a primeira lição do cara.
A lição dos lagartos. Corra, pule, congele.
Se você acha que esse papo-aranha está parecendo xaropice de auto-ajuda, esqueça. A pegada é outra: entusiasmo, prazer, curiosidade.
Com vocês, orgulhosamente, Ray Bradbury, o incendiário mestre de “As crônicas marcianas” e “Fahrenheit 451” –o livro que deu no filme do Truffaut. Por encomenda do diretor John Huston, fez ainda o roteiro adaptado da saga “Moby Dick”. É o fraco!!!
Curto lê livros sobre técnicas, métodos, manias e até superstições da escrita, como “Segredos da Ficção”, de Raimundo Carrero, e “Cartas a um jovem romancista”, do Mário Vargas Llosa –só para ficar em dois grandes exemplos.
Meu encanto radical da semana, no entanto, é com o velho Ray Bradbury e o seu manual maluco “O zen e a arte da escrita”, lançado no Brasil pela editora Leya.
No livro, RB tira muita onda com essa coisa metida a solene da literatura. Ora, senta essa bunda e escreve!
E o que o zen tem a ver com isso tudo no livro? Não pense que ao ler as dicas do autor de “O vinho da alegria” o amigo atinja o nirvana. O caminho mais curto pode ser o inferno.
Mas não vou contar a razão do zen do título. Estragaria o enigma deste iluminado vagabundo que escreveu mais de 500 histórias em forma de novelas, contos, roteiros etc.
Só sei que você escreverá bem mais fácil depois de ler este livrinho. Bem mais fácil e sofrendo do mesmo jeito. Como Ray recomenda, vá com patas de pantera aonde todas as verdades minadas dormem.
Sim, faça lista de expressões, palavras simples ou estranhas. De cada palavra é possível retirar um conto, no mínimo. A minha palavra do dia é: renegados. Rende um faroeste inteiro do Tarantino.
Ao ler “O zen e a arte da escrita”, preste atenção redobrada no capítulo “Bêbado e no comando de uma bicicleta”.
No mais, sugere o homem das grandes ficções: “Toda manhã, pulo da cama e piso num campo minado. O campo minado sou eu. Depois da explosão, passo o resto do dia juntando os pedaços. Agora é a sua vez. Pule!”