Encaixotando os amores perdidos
17/04/13 11:37Por causa de uma mudança, estive um pouco ausente aqui do nosso banco de praça. Mudar de casa é uma trabalheira.
Só não é mais complicado do que mudar de sexo. Ou mudar de mulher. Ou mudar de marido.
No que o DJ imaginário solta a trilha “Mudanças”, clássico da Jovem Guarda da Vanusa. A musa recomenda: revirar gavetas, sentimentos e ressentimentos tolos etc. Estou dentro.
Mudar é bronca, mesmo no meu caso, que farei a menor mudança do mundo: apenas um gato e um pendrive com as crônicas do amor louco para eventuais reciclagens.
Perdão, minha mulherzinha amada, levarei também os vinis Burt Bacharach –atenção que o cara faz show sábado em São Paulo, imperdível. Burt Bacharach para dançar de rostinho colado.
O pior da mudança, mesmo com o meu desapego adquirido com a práxis cigana –não com as ilusões do orientalismo de boutique-, é tropeçar nos objetos que marcaram, de alguma forma, os ex-amores.
Sem se falar nas cartas no fundo daquela gaveta esquecida, caligrafia caprichada de moça que ama, os beijos de batom impressos para sempre, as promessas, venho por meio desta… Uma romana me mandou uma fábula de Morávia…
Os utensílios do lar também falam alto, repetem antigas declarações, nos lembram velhas dores mumificadas. Aquele escorredor de macarrão que matou nossa fome dominical com tv a cabo e DVDs incompreensíveis.
Desapego. Cavaleiro solitário vende/doa tudo.
Viva mais um ritual de passagem e mudança. Aqueles lençóis que encobriram nosso desamor final e nossa preguiça de segunda-feira, nossa inércia, o edredon que abafou e adiou o “the end” e os créditos finais do nosso filme.
Solta a voz, Vanusa!
E como a gente guarda coisas que nem sabia tê-las. Assim como cartas, papéis avulsos, recortes sentimentais que julgávamos esquecidos. Qual o quê, basta uma polaroide borrada da Cindy para rebobinar um amor que não houve.
É mandar tudo para a feira Benedito Calixto dos amores perdidos ou para a rua do Lavradio das paixões rústicas, trincadas e envelhecidas.
Mudança é trabalheira por dentro e por fora.
Vamos nessa. Um passo à frente e você não está mais no mesmo lugar, já dizia o filósofo do mangue.
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Xico,
Sozinha em Paris agora, gostaria de estar papeando com vc numa Mesa de bar. Recife, onde cresci e forjei menu caráter, Rio, onde moro, sampa ou qq outro lugar do mundo!
Adoro sues textos, o único defeito é não permitirem as réplicas, tréplicas, … dos papos de boteco!
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xico sempre me emocionando.
Praticar o desapego de bens materiais que remontam a amores antigos é saudável. Basta deixar guardado o que existe no coração, nada mais.
Se não está mais no peito, não está mais no mundo.
Dia desses vi um colchão quase novo, jogado numa calçada, com uma placa contendo os dizeres: “Doação. Estou me livrando deste colchão por causa de uma dor de amor. Leve-o para casa e faça filhos nele.”
Cartas, presentes, aquela xícara preferida da ex para tomar o café…vai tudo embora.
Com relação a roupas, o lance é complicado. Como “se vestir para o crime” com aquela camisa que você adora, presenteada por uma ex em um longínquo aniversário? Há um certo dilema moral. Não consiguiria seduzir uma mulher trajando roupas que ganhei de antigos amores. Pra mim, é traição.
Complicado mesmo, na mudança, é escolher o lugar, na casa nova, para alojar as calcinhas que ganhaste de presente. Estas sim fogem à regra do desapego. Devem ser mantidas com o mesmo carinho de Wando, que Deus o tenha, até o fim dos dias.
Mas isso gera um problema logístico. Deve-se escolher um lugar da casa em que futuras amantes não terão a curiosidade de matar sua curiosidade. Algo como dentro de uma caixa de ferramentas (do amor). Ou no cofre de um banco.
Conheço um cidadão que, ao ter sua coleção de calcinhas descoberta pela namorada, não titubeou: confessou-se fetichista de “crossdressing”, disse que ele mesmo as vestia para entrar em contato com seu lado feminino. A namorada ficou perplexa, mas aceitou o estranho fetiche. Namorado esquisito, tudo bem. Calcinha de ex dá justa causa.
Chico,
Lembrei de mim quando li o seu texto. Também estou de mudança e, assim como você, também coloquei em palavras o meu:Tempo de Despedidas.
“É tempo de deixar ir! De esquecer cores, cheiros, sons, passos e lembranças. Tempo de despedidas, de encerrar ciclos e de fechar portas. Literalmente! Ouço o som dos meus gemidos, mas aumento o volume da canção dos meus sonhos. Então, decidida, bato a porta e vou. Levo um coração sem amarras que é para abrigar as delicadezas da nova vida que vão chegar…”
(…) pois eu embalo coisas, fecho malas e tranco portas, mas, como um viajante sem pouso, levo as minhas raízes.
Obrigada, Chico, por ensinar o desapego!Bjs
é dificil,amor,mas eu tento.beijosss
” … a nossa bagagem que era apenas a escova de dentes, que a última hora acabávamos esquecendo.”
(Henry Miller)
分析的很透彻,很欣赏你的看法,学习了。
Xico Sá-be tudo, já disse o outro, soube como ninguém colocar nas letras e nos fins de frase os sentimentos e sem-ares que uma mudança nos causa… Mas mais um passo, mudou tudo, né? Dia desses te vi na Livraria da Vila… Num arroubo corro a procurar um livro seu e nada… Preciso de um autógrafo, e nada de livro… Vou pegar o autógrafo na revista da livraria mesmo!… E mais um passo, você não tava no mesmo lugar. Já tinha ido embora… Eu perdi a chance de falar pessoalmente, mas escrevo aqui mesmo, sem problema: sou seu fã! E te devo um pedido de autógrafo!
Meu filho que esta no nono ano , esta lendo um livro de crônicas de Paulo Mendes Campos , Rubem Braga , Fernando Sabino….. , aquelas das antigas….. , cara , hoje , voce poderia estar entre eles .
ainda nao, eles são geniais. preciso comer muito arroz com feijao e escrever deveras pra chegar longe deles. mesmo assim agradecço pelo q dizes.abraço
Adorei a fábula de Morávia que a romana mandou.
Pouca gente leu A Romana de Alberto Morávia.
Li há uns trinta anos.
Lembro da capa, uma moça tipo Sofia Loren, rodando a bolsinha pelas ruas de Roma a mando da própria mãe.
Mudou para um “predinho antigo”????
O PT não tem plano de governo. O PT tem plano de poder. Vão acabar com o Brasil. A inflação já está aí.
Burt Bacaharah é destaque na trilha sonora da minha vida ,assim como Beatles,Cole Porter,Tom Jobim e Chico Buarque.Aonde eu for ,os levo junto.
Esta rotina que me mata.Vida comum que coisa mais chata.Feita de emoções baratas O que eu quero mesmo é viver no desvio.Poder andar me equilibrando sempre num fio de alta tensão.O que eu quero é gozp pro meu tesão.Mudanças sempre e já.
xico, meu guru do crato
importante não esquecer de fazer a social
com a nova vizinha, ops, vizinhança…
abraços fraternais velhinho!!!
Pensar que tenho dois vinis do Burt Bacharach… Trilha sonora de Horizonte Perdido… e duas caixas das coisas importantes da vida, feitas nas mudanças. O negócio é abrí-las muito raramente porque saem de lá esquecimentos necessários… Fico sempre pensando se, nas suas crônicas, vale a máxima “uma coisa é a literatura e outra é a vida”. Se em vc forem uma só, a crônica ganha outro sabor.
Ces’t la vie! Estou passando exatamente a mesma coisa, acabei um casamento de 07 anos, e estou mudando de casa…ah mudar! É realmente tropeçar em lembranças e amores que se perderam com o tempo assim como nós mesmos nos perdemos com o tempo!
A entrevista é com o Xico. Lembrou uma do Rubem Braga com o Machado.
http://papo-petisco-pinga.blogspot.com.br/2013/04/entrevista-imaginaria-com-o-escritor.html
Olha uma entrevista que achei num blog maluco aqui!!
http://papo-petisco-pinga.blogspot.com.br/2013/04/entrevista-imaginaria-com-o-escritor.html
É bom mudar!
É caro Xico, a vida precisa de movimento, mesmo qdo achamos que a constância é um lugar tão confortável e quentinho.
Parabéns pelo texto, sempre muito bom!
isso ai,Eva,correr mundo,correr perigo.bjo
Caetano. Vc deve ter ido ao show, ele tocou esse clássico. Abs
É Belchior.
lindo, véi! acunha na passagem, esgarça a vida – conselho que nem carece a vc. rute estará aqui no mesmo lugar aguardando a sua visita. aquelabraço!
o rumo é esse,Azouba! q viva Rute!
FORA DILMA!!!!!!!!!! FORA PT!!!!!!!! BASTA DE INFLAÇÃO!!!!!!
DESSE JEITO VOCÊS VÃO AFUNDAR O PLANO REAL!!!!!!!!
De malungo pra malungo ou de Chico para Xico: um passo à frente e você não está mais no mesmo lugar!