O tesão de não tocar a mulher adormecida
12/04/13 18:47Tu apagaste (ainda) na minha sala e só me restou fazer como aquele velho do livro japonês.
Se soubesse tinha cortado a água que passarinho não bebe. Não, isso não se faz com uma gueixa que ama os pássaros traupídeos, os assanhaçus.
Te olhei a noite inteira como mirava aquele ancião da casa zen das belas adormecidas.
Sem poder tocá-la.
Te olhei como nunca. Cada fiozinho da sobrancelha e olhei os fiozinhos das entranhas como um cego lê em braile por debaixo dos lençóis.
Havia um laço na calcinha, desenlaçável até para o mais ágil dos caubóis laçadores de mustangues. Vide o filme “Os Desajustados”, com a Marilyn e uns canalhas geniais.
No que fui com a mão esquerda rente aos pêlos mas erguendo a calcinha aos céus possíveis, na contra-força da lei da maçã de Newton, de modo a não tocá-la de forma alguma.
Não era a hora do fatal descuido. Mulher tem hora, minuto, segundo, aprendi com minha gatinha de quatro pés, a Deli, que existe o momento certo para se ter uma fêmea colada com superbonder na sua costela.
Nada dá mais tesão do que chegar à menor distância possível de uma pele. Sem tocá-la. O silêncio engasgado na respiração mais profunda.
O suspense.
O suspense de que alguma buzina de contrariedade e angústia (de cidade grande e perdição idem) te faria abrir os zolhinhos a qualquer espanto ou junguinismo sonhento.
Nem.
A um centímetro dos mamilos. De olhos bem fechados. Vi o direito crescer de modo a relar meus dedos, no que recuei uma coisinha de nada possível.
Os pelinhos das coxas, eriçados, ressuscitaram de todos os salões depilatórios e difamaram a cera negra espanhola. Senti os pelinhos quase a tocar a linha da vida da minha mão torta.
Eras a giganta de Baudelaire crescendo nas retinas das minhas impossibilidades morais.
A arte zen de andar na bicicleta dos aros dos meus óculos, as duas rodas que movem moinhos, os sonhos que explicam um conto de Cortázar.
Estive a meio centímetro da tua vulva indecifrável, bonito desenho sinuoso, labiríntico, estive a meio centímetro, a décimos de nonada, com todos os dedos, inclusive o anelar médio da nossa futura aliança que já brilha no infinito.
Amei, porém, aquele tão longe tão perto como a melhor das penetrações do mundo.
Era preciso perceber o que separa um homem acordado e uma mulher desmaiada.
Agora o travesseiro me diz todas essas coisas e sabe separar teu cheiro nas minhas narinas dos cheiros à prova das melhores lavanderias do universo.
Não tocar é estar mais que dentro.
Que diferença a atitude do autor diante da mulher e a descompostura (para dizer o mínimo) de Gerald Thomas… Obrigada Xico Sá, Sá de Sábio…
Ela apagou só de calcinha na sua sala? Algo me diz que você mandou muito mal, ô Xico Sá.
Entrevista imaginária com o Xico Sá:
http://papo-petisco-pinga.blogspot.com.br/2013/04/entrevista-imaginaria-com-o-escritor.html
http://papo-petisco-pinga.blogspot.com.br/2013/04/entrevista-imaginaria-com-o-escritor.html
Esta poesia eu fiz para Maria,minha companheira.
Pele sedosa,tão graciosa.Ela é tão linda dormindo assim.Jeito dengoso,corpo gostoso.Me embriaga feito gim.Meina bonita ,minha favorita.Ela me deixa sempre a fim.Na brisa suave,como uma ave.Ela sempre voa para mim.Costumo tê-la entre as estrelas,brilhando bela,mais do que elas.
Sensual.
Sendo oriental, entendo profundamente esta contemplação, não só como admiração da mulher amada, mas também como um ato profundamente erótico. Tocá-la seria pornográfico! Os asiáticos – hindus, japoneses e chineses têm enciclopédias sobre como controlar pelo cérebro o desejo, prolongar o orgasmo e torná-lo quase um transe!
Me encanta essa elegância de respeitar o universo inviolável do mistério que somos nós mulheres.
beijos, te amo.
da sua oriental admiradora. tenho saudades de ver você no saia justa.
Não havia lido os últimos .Esse está ótimo , só isso posso dizer. Gostei! Beautifull
FORA DILMA! FORA PT! ESTAMOS CANSADOS DE INFLAÇÃO!!!
Belíssimo texto Xico! Pena não ser eu a musa do seu texto. Você é 1000000 1 sensibilidades!!!! Amei!
Isso é que é velar um sono com maestria!
Xico, muito atual este “causo” como diria meu querido avô, vivi uma madrugada destas isto do jeito que esta aí, Parabéns Xico seus textos são pura emoção na forma escrita.
Aff…
Sem palavras!!!
E quando a gente não resiste e se encosta no corpo amado e dormente e, sem que se acorde, se aninha? Cabe todo o tempo do mundo nessa hora de dormir.
Xico, suas palavras me recordaram uma co-produção de Antonioni e Wenders. Par-delà les nuages. Um dos segmentos do filme tem uma cena belíssima a qual fui remetido ao ler seu texto. Bravo.
Tocante. Ou não.
E resta mais que provado, em finíssimo e belíssimo texto que Xico Sá sabe apreciar uma mulher. Parabéns!
Xico Sá, se na prática fores tão bom quanto na teoria. Parabéns e G Zuissss me chicoteia!!!
Breathtaking! Ah, se todo homem soubesse e gostasse de observar essas sutilezas!
uauuuuuuuuuuuu!!!
Após uma semana mega estressante só você mesmo, Xico Sá para descrever uma mulher na sua maior fragilidade e dureza.Obrigada e parabéns pelo texto
.
Suei ao ler. Foi quase como um daqueles contos eróticos das bancas de jornais, que aliás, sempre nos tira a atenção com a capa, mas nunca, nem ninguém tem coragem de comprar. Na teoria, é coisa linda, é arte e poesia. Mas me diz, responde por favor, existe um homem com toda essa sensibilidade?
Tem sim….o limite faz a sensibilidade….rs
eita… que bonito! de perder a respiração e o prumo! 😉
E-S-P-E-T-A-C-U-L-A-R…..Adoro seus textos e adorei este!
Uma vedadeira Ode ao sono daquele que amamos,!Sentir a respiracão,sentir a pessoa no leito entregue e confiante em sono profundo!Apenas se deliciar como um voyeur,zelar o descanso sem se cansar!Adoro Xico Sá!
Demais!
Parece um tarado psicótico…
Pode alguém dizer tais palavras e não me tocar? Profundo respeito Xico, você arrasou!
show!