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Xico Sá

Modos de macho, modinhas de fêmea & outros chabadabadás

Perfil Xico Sá é escritor, jornalista e colunista da Folha

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O dia que vi Gonzagão pela primeira vez

Por xicosa
13/12/12 05:20

Aí lá vem o negão todo jeitoso descendo as escadas rolantes das Casas Pernambucanas, as primeiras escadas rolantes que subi na minha vida, o negão todo paramentado, camisa mais psicodélica do que toda a estampa dos ácidos da Califórinia.

Minha mãe me cutuca e diz: “Luiz Gonzaga, meu filho”.

Ele escuta e replica:

“Respeite sua mãe, leia cartilha e livro e, se der tempo,  escute minhas modas, caba do olho de bila”.

Parece que foi hoje.

Juazeiro do Norte, sul do Ceará, cidade vizinha do Exu, anos mil novecentos e setenta e nada. Fiquei com aquela ideia fixa balançando no trapézio da memória feito o doidim do emplasto de Machado de Assis.

Daí,  depois, foram tantas loas. Sempre gostei das mais tristes. Talvez por causa da maior lição estética que recebi na vida. Não do mestre Ariano Suassuna, meu professor de tal disciplina por pouquíssimo tempo na UFPE, mas de dona Maria do Socorro, a santa que me mandou ao mundo:

-Meu filho, num escreve coisa tão alegre assim não. O mundo gosta é de chorar riachos, nem que sejam riachos que nunca passaram aqui por dentro -levava a mão ao lado esquerdo do peito, justamente ela cuja origem era o riacho do Navio, Floresta, Pernambuco.

Como esquecer tamanha lição de vida, seu Luiz? Nem o jumento, nosso irmão, é capaz de tamanha desfeita.

O jumento é uma ciência.

E soubeste, Gonzagão, que agora estão judiando deveras do bichinho? Será a inveja do pênis, seu Lua, da qual falava um gênio mais ou menos assim do teu porte, o velho Sigmund?

Uma cidade tange o jegue pra outra. O sertão que expulsa os cardãs só quer saber de moto, barulho e velocidade. Tem até um plano para levar os jumentinhos que carregaram Jesus Cristo para virar jabá na China de Mao Tse-Tung. Pense!

É, seu Luiz, o Nordeste melhorou muito, muitíssimo, tem até mais gente rregressando do que na pisada da triste partida, mas continua injusto e descuidado. Até a seca resolveu chover no molhado e dar as caras de volta.

E chega de nove horas. Hoje é dia de festa. A família do meu avô paterno, que desceu lá do Exu para o Crato, agora mesmo faz o caminho de volta. Viva teu centenário, volte e meta a cuia no fundo do pote mais antigo, timbungo, timbungo, é hora de ouvir um dos maiores blues de todos os tempos, assum preto, olhos furados para cantar melhor, assim seja.

Falemos das músicas de amor. Aprecio. Karolina com K. É o maior fungado onomatopeico da história. Consegue bater o Gainsbourg e a Bardot na gemedeira do Je t´aime moi non plus.

A todo mundo eu dou psiu…

Olha pro céu meu amor, vê como ele está lindo.

Tu que andas pelo mundo, sabiá…

Xanduzinha, meu xodó, bela prosódia que lembra chamego no cabaré de Glorinha, no Crato. Reza a lenda que autobiográfica.

E Orélia, amigo Otto Maximiliano, que achas? É a fraca!

Agora a que eu mais amo, seu Luiz: ai se eu tivesse asa, ainda hoje eu via Ana…

Légua tirana. Faixa do tempo em que os homens faziam um estirão a pé e recebiam o maior presente da existência: os zolhinhos vesgos e marejados de uma mulher dizendo que havia sentido na vida.

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Comentários

  1. Cristiana comentou em 16/12/12 at 23:00

    As melhores homenagens ao centenário de Gonzagão, o filme de Breno Silveira e o seu texto poético e analítico…Parabéns e obrigada!!!

  2. Amanda Siqueira comentou em 16/12/12 at 12:36

    Procure no google: LIVRO CIBERCÉLULAS. Há uma grande revelação neste livro. Recomendo.

  3. savia ferraz comentou em 16/12/12 at 11:32

    Parabéns grande Xico!Todos os dias leio a sua coluna e vc. sempre se supera!!!!
    Conheço bem todos os recantos mencionados pois o meu pai nasceu em Floresta dos Navios,somos da família ferraz e eu sou juazeirense!
    Pra mim, dá arrepios de prazer,ouvir o voizeirão deGanzaga cantando “Olha pro céu meu amor,vê como ele está lindo”….

  4. Amedar Consulting Group comentou em 15/12/12 at 4:42

    I’m not sure where you’re getting your information, but great topic. I needs to spend some time learning much more or understanding more. Thanks for excellent info I was looking for this information for my mission.

  5. Janis comentou em 14/12/12 at 11:51

    Te amo, Xico. Obrigada por escrever sobre Gonzaga. Lindo, lindo, lindo.

  6. Bertha comentou em 14/12/12 at 9:22

    A melhor de todas: xote das meninas. Gonzagão sempre incrível….

  7. Nildo Rodrigues comentou em 14/12/12 at 8:52

    Xico, vc conhece ainda lembra o final desse refrão: ‘faz gosto a gente vê, aqui nesse forró, tem 120 saia pra 40 …. ” . O aguardamos no Natal e forte abraço.

  8. Lika Souza comentou em 14/12/12 at 1:30

    Não há cantor neste mundo q meu pai goste mais q Luis Gonzaga. Meu pai, pra quem não inventaram q forró só tem cabimento no junho dos santos e q ouve o mestre Gonzaga o ano todo. Meu pai, que me prometeu um 8 baixos pra respeitar como o de seu Januário e q nunca cumpriu. Meu pai, que sempre me arrastou com ele nas madrugadas boêmias de minha adolescência. E quando leio tua crônica, me emociono por causa de meu pai e de Luiz, de quem aprendi a gostar graças ao meu velho. Vc, Xico, mais uma vez tateando minha alma…

  9. Marcos Martins de Lima comentou em 14/12/12 at 0:39

    Ia dormir. Parei para ler sua matéria e viajei!!!!. Conheci bem estas terras (Crato, Juazeiro, Exu, Floresta, Arararipe,, Assaré e tantas outras. Sou de Ipu no entanto uma tia casou com Pedro Teles e tenho vários primos no Crato (alguns folclóricos, Tutita, Ze Flávio etc.) visitadordes assíduos do então Bar do Sr. Almir.Estive, por um ano
    em Floresta no famoso “escândalo da Mandioca”. Saí vivo porque Deus quis. Presenciei um fato que poucos testemunharam: Eu era Gerente do BB em 1982 e inauguramos a AABB em Assaré com as presencas de nada mais; nada menos que Luiz Gonzaga e Patativa do Assaré. Foi um momento ímpar em minha vida. Vc. Sabe que Patativa era avesso aovil metal (só queria o necessário para viver). Final da festa e fomos pagar o cachê ao já meio velho Luiz Lua Gonzaga (oito mil padrões monetários da época). Luiz Gonzaga recebeu e incontinenti, doou todo (todinho como dizemos) ao Patativa. Atos são prórios dos Grandes. Abraços

  10. Neysi Almeida comentou em 13/12/12 at 22:07

    ….e no terreiro o teu olhar que incendiou meu coração.
    Nada mais emocionante, palpitante e que dê mais alegria, que o olhar do amor.

    Linda homenagem tão amorosamente escrita.

    • Bertha comentou em 14/12/12 at 9:23

      Lindo! Concordo com você Neysi…

  11. fernando moreira de sousa comentou em 13/12/12 at 21:35

    Seu luis voce foi e sempre sera o orgulho do povo nordestino, parabens pelo seu centenario.

  12. strupicio comentou em 13/12/12 at 20:35

    sem essa de “Gonzagão” Xico…soa como o besteirol televisivo-futebolistico-sertanojistico de..paízão, maridão, goleirão..esses aumentativos tolos como o “galera” dos sertanojo…entra tantas baboseiras tatibitati
    desse “Brasilzão” varonil grande e bobo..e Luiz Gonzaga virou “Gonzagão” para a “galera” que recem descobriu o Gonzaguinha e mal sabia quem era seu pai…

    • Djalma Toledo comentou em 14/12/12 at 9:20

      De acordo estrupicio.

      E nem sabem que Luiz Gonzaga se iniciou tocando Tangos próximo a Zona do Mangue
      dali vem Gonzaguinha.

      Agora imagina tocar Tango em um país inculto “pitoresco e extravagante”

      dos ‘Besteráis’
      e
      bota besteirol nisso

      Salud

      • strupicio comentou em 14/12/12 at 11:06

        e o que não sabem tb é que o rei do baião foi sargento da PM em BH, MG..e que era homem de direita, da Arena, da “revolução”..o que não reduz em nada seu valor, talento, expressividade e verdadeiro amor ao povo…ao contrario de muito “sinistro” que tem por aí..

  13. Amanda comentou em 13/12/12 at 20:04

    ” o mal é da idade [ de tôdas ]…Não tem um só remédio em tôdas medicina “.

  14. PAULO ESTEVES comentou em 13/12/12 at 19:21

    Procure no google: LIVRO CIBERCÉLULAS. Há uma grande revelação neste livro. Recomendo.

  15. franco comentou em 13/12/12 at 19:06

    xico, meu guru do crato.

    como sempre mais um texto de emocionar até os mais brutos dessa selva de pedra…
    viajar no tempo e nas lembranças de uma epóca que não existe mais…

    obrigado meu caro…
    viva luiz gonzaga!!!

    abraços velhinho…

  16. Fernando Peixoto comentou em 13/12/12 at 17:19

    Xico,
    Lindo. Luiz Gonzaga está no Muro dos Poetas em Pará de Minas MG. Quem passar por lá vale a pena fazer uma visita.
    É difícil escolher uma entre tantas pérolas.
    Abração!
    Fernando

  17. Isabel comentou em 13/12/12 at 16:42

    De legua tirana: “E pra ela, e pra ela/ Trago eu e o coração”: singelo e sofisticado, dos tempos em que a distância podia “alimentar o amor”. Hoje as pessoas se distanciam estando fisicamente lado a lado. Ontem fui a um restaurante e fiquei surpresa com um casal que mal se olhava. Ocupados demais, cada qual com seu aparelhinho (daqueles que reunem tudo, de telefone a internet!), não se olhavam, não estavam juntos de fato. Mundo novo, admirável mundo muito novo…. de novas leguas tiranas!

  18. DanielCM comentou em 13/12/12 at 13:26

    “De Juazeiro a Crato, é romeiro só…”

  19. Cicero L. Costa comentou em 13/12/12 at 12:25

    Luiz Gonzaga, orgulho de todo(as) brasileiros(as).

  20. Miguel comentou em 13/12/12 at 12:05

    Que coisa linda, Xico! Temos algo em comum. Para mim, a música mais linda do velho Lua é de fato “Légua Tirana”. Deus abençoe você e o povo do Cariri, tão sensível e poético!!! Viva Luiz Gonzaga! Abraço grande.

  21. Francisco Cavalcante comentou em 13/12/12 at 11:30

    É, o Gonzagão só nos deixa Saudades. Estive com ele 3 vezes e só lamento não ter tido minha coleção de mais de 100 vinis autografadas pelo mestre. Vai Asa Branca e diga a Seu Lua que sinto muito sua falta. Fica um vazio imenso uma noite de São João sem um disco novo do Gonzagão.

  22. Mauricio Santos comentou em 13/12/12 at 11:21

    Viva Gonzagão
    Viva o forró

  23. Alberto comentou em 13/12/12 at 10:49

    Chico,também conheci o velho lua. Pisei todo essa chão de que você fala(Crato, Exu, etc).
    Lendo o seu texto terminei chorando,gostaria estar hoje em Exu nas homenagens àquele que deu dignidade ao povo nordestino.
    Pior que a falta do Velho Lua é ter que ouvir Fiuk, Justin Beeber, etc.

  24. Luciano Magalhães comentou em 13/12/12 at 10:01

    Xico, parabéns pela sua homenagem a Luiz. Ele marcou sua vida, minha vida e a de gerações passadas. Tenho certeza que ainda influenciará as novas. Ontem minha filha de 12 anos, urbaníssima aqui de Salvador, Chorou ao ver o velho Lua no arquivo N da Globo. Sem dúvida, Luiz tivesse nascido americano, hoje o mundo todo o reverenciaria…

  25. Carlos Melo comentou em 13/12/12 at 9:43

    Lua, Lua, Lua que continua a clarea nossas mentes que se apagam com o tempo…Tu és luz, Luiz !!!

  26. veronica araujo comentou em 13/12/12 at 9:02

    é seu luiz quanta falta você faz,a dor da triste partida que toda vez que esculto ainda
    mim faz chorar.quando criança minha vó sempre dizia um dia este homem vai ficar muito conhecido pela sua poesia transformada em musica.

  27. Julio Alves comentou em 13/12/12 at 9:01

    Belo texto, com sempre, Xico Sá! Só não precisava cometer um deslize histórico ao confundir a maravilhosa londrina Jane Birkin com a não menos maravilhosa Bardot , como parceira de Gainsbourg no que você brilhantemente chamou de gemedeira. Diz a lenda que o Serge Gainsbourg até escreveu a canção para Brigitte, mas a gravação foicom a Birkin. Nada disso ofusca os cem anos de Gonzagão! O que eu quer meso é ovo de codorna pra cumê!!

  28. Cris Lima comentou em 13/12/12 at 8:04

    Ei Xico…sempre venho as bandas de cá pra rir…e é a segunda vez que me faz chorar…ah se tivesse asas…Xeru

  29. Zezel comentou em 13/12/12 at 7:54

    Linda homenagem, Xico. Vida longa aos versos do velho Lula.
    Um cheiro no cangote.

  30. Djalma Toledo comentou em 13/12/12 at 7:17

    ”

    Hoje longe muitas léguas
    Numa triste solidão
    Espero a chuva cair de novo
    Para eu voltar pro meu sertão

    Quando o verde dos seus olhos
    Se espalha na plantação
    Eu te asseguro
    Não Chores não, viu?
    Que eu voltarei, viu meu coração…”

    (Gonzaga/asa-branca.)

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