SP precisa sim `importar´ gente de toda parte
11/12/12 04:38E haja aspas, preconceituosas ou não, mas SP precisa sim “importar” não apenas um baiano, mas qualquer povo que a fez e que está disposto a uma possível refazenda urbana e moderníssima.
Até porque o movimento agora é de deixar a cidade. O que a torna humanamente mais pobre.
Como diria o rapper Cascão, o inventor do estilo e da expressão “vida loka”, SP não pode perder mais tempo sendo uma cidade fechada ao varejão do preconceito.
Pânico em SP , grande Clemente, salve sempre Inocentes.
Sao Paulo de Piratininga pós-Kassab, o homem das 1001 noites proibidas, carece retomar sua vocação de cidade aberta.
O novo prefeito carece fazer muito, mas sobretudo precisa devolver, no mínimo discutir, a ideia de uma Pauliceia de todos nós brasileiros.
Assim como foram e são as praias cariocas, as incomparáveis grandiosidades nordestinas, assim como são e serão os sertões, montanhas mineiras, pampas, chapadas & recôncavos etc .
Ah, gostei deveras, no meu barroquismo jamais sequestrável, diz aê velho poeta Gregório de Mattos, de ter um baiano como secretário da Cultura da cidade que habito há 22 anos.
Sim, o Juca Ferreira, bom currículo, ex-ministro do mesmo mundo, ex-pós-tudo de Gilberto Gil no Ministério idem da República.
Tem gente torcendo os beiços por aqui. Que mundinho sem horizonte.
Com desculpinhas babacas.
Não, não estou me referindo ao que todo tamarindo dá e muito menos ao colega desta Folha Gilberto Dimenstein. Entendi o questionamento localizado dele. Não foi preconceituoso, só rolou a bola de uma certa classe cultural paulistana insatisfeita e fechadinha. É papel do jornalista contar o que se passa na real-politik.
Como eterno novo “baiano” cearense e pernambucano -família metade de um Estado metade d´outro- fico orgulhoso que seja um soteropolitano o novo cara da secretaria de Cultura do meu município.
Digo: no mínimo não pode ser vetado por ser de tal origem.
Nao, nem todo nordestino é baiano, assim como nem todo japonês é coreano e vice-versa.
Um dia, quem sabe, o sudeste aprenderá geografia, como um norte-americano que deixará de confundir Bogotá com Brasília, e saberá, só Deus sabe, separar os gentílicos. Mas isso é café-pequeno, bronca safada.
Enquanto isso, tá valendo, somos todos diferentíssimos nordestinos, cada um com seus Estados de origem, riquezas e prosódias, embora sejamos todos chamados de baianos em SP e paraíbas no Rio de Janeiro.
Nessas horas sempre solto um educado “fodam-se”, mas apenas para os meus boníssimos amigos paulistanos e cariocas que entendem o pugilato e a bossa nova de Juazeiro.
No geral, rimos dos preconceitos babacas, todos juntos, se é que você me entende, e, sábio do Crato que sou (rs), recito o velho Walt Whitman, o cara cuja pátria era apenas a árvore que o encobria naquele instante.
Se o Nordeste continua sendo uma ficção, para retomar um verso genial do Belchior, azar -ou inferno- dos outros. Se meu verso não deu certo, agora vou mineiramente de Drummond, foi seu ouvido que entortou.
SP precisa se livrar da praga de fomentar separações e proibições tão fermentadas quantos os pães branquinhos da Bella Paulista na madruga.
Salve esta lindeza de metrópole escancarada que recebeu japoneses, italianos, brasileiros de todos os nortes, itas e bússolas, judeus, árabes e bolivianos em busca de um bueno retiro possível.
Quantos jovens coreanos e novos africanos agora te habitam. Verás na praça Júlio Mesquista que já foi dos ciganos e agora tem o movimento negro, a cerveja de todos os banzos & blues de Luanda.
Só gritando em portunhol selvagem, poeta Douglas Diegues, para alertar essa gente covarde que não flana e não sabe da soma das ruas.
Que não conhece Esperanza, linda costureira de Cochabamba, Bolívia, que já vendeu seu trabalho escravo nas fabriquetas de costura de San Pablo e agora rifa o seu corpo no desejo crepuscular dos machos que flanam no Parque da Luz.
Como descrevi no meu romance “Caballeros solitários rumo ao sol puente”, quer saber o que é SP, veja uma pelada ao cair da tarde de sábado aos pés da estátua de Duque de Caxias, o facínora da Guerra do Paraguay:
Lá, no chão da praça, jogam latino-americanos X miseráveis brasileiros. Qualquer coisa contra o resto do mundo. Eis o clássico.
Peladas, como diiria o tio Nelson Rodrigues, mais complexas que toda a dramaturgia shakespereana.
Agora, com licença, daqui a uma estação do metrô estarei no Oriente…
SP tem os olhos mais incríveis do planeta, o bisturi de Deus a serviço permanente da mestiçagem, como acabo de ver agora ao descer da São Joaquim com a minha gueixa que nem me ama (ainda) tão direito assim.
E como uma cidade pode se gabar de ser do mundo sem ter gente de todo o mundo?
Ou os puristas acham que a graça de Nova Iorque ou Londres vem dos americanos ou ingleses?
Pra cima !deles sempre cabron !
Pois não é que é isso mesmo? “SP tem …o bisturi de Deus a serviço permanente da mestiçagem”. Se não for verdade, é bem bolado! E olha que eu sou atéia! Paulistana, filha de imigrantes portugueses, namorei italiano, casei com pernambucano (tivemos uma filha linda!), hoje vivo com um maranhense. Já fui de carro a São Luis e pude conhecer melhor este país, atravessei o Tocantins, vi índios e muito arroz secando na rua. Só um pensamento: uau, que incrível, não troco isso tudo por nada! Beijos Xico
Isabel, eis o retrato da bela mistura da cidade.beijo
Muito bom Xico, paulista, paulistano que sou adoro este meu lugar, e entrando no quesito alcova, ja virei os olhos com uma americana, uma espanhola, uma francesa … mas, a dama que ainda assola meus desejos é uma pernambucana, estes dias mencionada pelos olhos verdes em sua coluna sobre o fim do mundo …
Xico, você é um cabra porreta!
Coerente, inteligente e sutil este seu comentário.Parabéns.
No meu caso, não gostei da nomeaçào porque achei que a gestão desse Juca no Minc foi uma bosta, simples assim. Agora o cara vai gerir a cultura pública na cidade em que moro desde sempre. Isso pode, ou tenho que relevar pra não pagar de paulistano elitista? Give me a break.
o Dimenstein é um xarope, elitista. Tudo que ele escreve é só procurando soluções sustentáveis, verdes, perfumadas, ao som de violinos em bairros e praças de ricos da paulicéia.
Belchior tinha razão…
“O nordeste é uma ficção. O nordeste nunca houve”
Sejam bem vindos a Paraíba todos os paulistanos e cariocas, verÃo e sentirÃo o calor humano do nordestino paraibano.
Pois é Xico, “o movimento agora é de deixar a cidade. O que a torna humanamente mais pobre.”
Nós já fomos. Somos paulistanos morando na Paraíba. E, com o Nordeste bombando, muitos ainda virão. Só vai sobrar gente careta e os “pães branquinhos da Bella Paulista na madruga.”
bjs
Grande Xico,
não é o RG, CEP, local de nascimento ou sotaque que nos une. O afeto é que nos torna “conterrâneos”. Essa é a fronteira a ser conquistada. grande abraço!!!!!
boa Galego! abrazo
Adoro detestar os textos e as informações do Dimenstein. Não sosseguei até encontrar a coluna “Haddad precisa importar um baiano? “. Sou paulistano de nascimento e nunca saí daqui, mas tenho vergonha da autointitulada “elite” que tem horror a pessoas “com sotaque diferente” assumindo alguma posição administrativa da cidade. O Dimenstein acha linda a “diversidade cultural”, desde que fique restrita a exemplos de arte com lixo reciclado, biblioteca ambulante, e outros factoides para encher coluna. Já a coluna em questão é de um ensaboamento ultrajante ao abrir uma “licença poética” no final, fazendo parecer “bacana” a indicação de um baiano. E Xico, a você meus parabéns pela sutileza e elegência com que “denunciou” o colega.
Xico, outro dia estava andando no Brás, comprando camisas, e entrei em uma galeria cheia de lojas, repleta de orientais.
Parei para tomar uma coca-cola e fiquei observando a baiana mulata bonita, que me serviu no balcão.
Andei mais um pouco ali dentro e vi a imagem mais legal do dia, e que não pode se ver em lugar nenhum desse planeta.
Dois caras barbados, meio barrigudos, conversando em árabe no meio daquele pessoal chinês, nordestino.
Achei o máximo.!!Em que lugar do mundo podemos presenciar tamanha mistura étnica, pluramismo maravilhoso? Só no nosso Brasilzão.
Que texto maravilhoso, Darcy Ribeiro já falava da “Paulistânia” que abrangia vários estados brasileiros com sua cultura caipira. São Paulo é das primeiras cidades fundadas neste país, e das mais diversas e complexas mestiçagens já desenvolvidas no Mundo. Parabéns Xico!
O que faz nós seres-humanos , pessoas melhores , são os incríveis contatos com pessoas diferentes . Ou seja , a sinestesia da vida , tirar-nos isso , é tornar-nos primatas !!!
acho que se existe uma classe paulistana fechadinha, ela é cada vez menos expressiva. foram-se os anos 80 quando “pobre paulista” era hit. o elemento nordestino já é parte indissociável da paulicéia, a separação, algumas décadas atrás sentimento concreto na cidade, hoje só é desejada por meia-dúzia de lunáticos saudosistas. mas discursos bonitos de lado, já com quase 20 milhões de pessoas na mancha metropolitana, são paulo não pode mais crescer. simples assim.
Xico,morro de orgulho de vc,meu conterrâneo arretado!!!!
Concordo Delcy. Sou um pernambucano, nascido e criado aqui na Baixada Santista. Mas acima de tudo sou Brasileiro.
Sabe aquilo tudo que eu sempre quis dizer, mas nunca tive palavras? Pois é… É assim que me senti lendo seu texto , Xico. Obrigada!
Sábio Xico,
É isso aí irmão. Sou paulistano, mas morei 5 anos no Nordeste (Teresina e Fortaleza) e agora moro em Paraty. Se não fossem os nordestinos (além dos japoneses, italianos, espanhóis e mais um monte de raças) São Paulo não existiria.
Beijos
belo texto, Xico. Por essa e por outras que voltei pra minha São Paulo. Precisamos do caldeirão cultural, que resiste bravamente, apesar das jequices de alguns políticos e moradores alienados. Sem deixar de cantar o Adoniran, é claro
O comentário do Renato foi perfeito ! Muito bom o texto Xico.Pena que ainda tem babaca que acha o contrário.
A riqueza de uma grande cidade é justamente o seu aspecto multicultural. Recentemente, assisti uma palestra de uma canadense que dizia sobre a diversidade de Montreal embora seja uma cidade francófona ela comentava dos mais de 150 povos de outras origens que por lá habitam. Abs.
Acho importante o Chico expor esta realidade. Mas eu não gosto de caretices… O maior problema, na minha opinião, é o desrespeito, em todas as questões.
Pirou?
Certa vez, ouvi de um paulistano: “Coloque-se no meu lugar; vcs vém, roubam nossos empregos, vagas em concursos, mulheres…” Respondi, com um riso de canto-de-boca: “Pois é… É pq enquanto vc reclama tem um “baiano” estudando, trabalhando ou comendo sua mulher…”
O bom de ser paulistano é isso, você come uma mineira, uma carioca, uma baiana, uma gaúcha, uma argentina, uma paulista do interior… sem sair da sua própria cidade. Deus abençoe São Paulo.
Ah! Que demonstração bonita de reconhecimento da importância dos “outros” p/ grande SP. Morei um tempo aí, e como boa mineira, trabalhei bastante e fiz grandes amizades.
Fico tão triste como você, apesar de ser
paulista, pelo avanço desenfreado do preconceito. Xico, os “baianos” são maravilhosos… assim como você. Lutemos contra os guetos que surgem cada vez mais
em quantidade. Bjo.
Em São Paulo cabe tudo, até o que não devia. Uma megalópole com pensamentos tipicamente provincianos. Até quando? Como disse o Arnaldo Baptista, um grande paulistano, o violão veio de Portugal e Espanha, o samba da África e o futebol da Inglaterra. Qualquer tipo de purismo num país como o nosso é o cúmulo da ignorância.
Lindo Olhar Poético de um Pernambucano Porreta que ajuda São Paulo não ficar no Provinciano!!! Seja bem vindo todas as raças que coloca São Paulo no Contemporâneo, que ajuda São Paulo ser Bela em Harmonia com todos os seus, meus, nossos…Arte de Paulistanear sem preconceito!!! Salve Xico Sá abço de um japones paulistano de coração Akira Goto…
Cuida bem aí da minha ex-cidade Xico (morei 9 anos por aí), e viva a baianada (na qual nós todos estamos incluídos) que é quem segura a onda da parada.