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Xico Sá

Modos de macho, modinhas de fêmea & outros chabadabadás

Perfil Xico Sá é escritor, jornalista e colunista da Folha

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Macho perdido: nécessaire X capanga

Por xicosa
03/12/12 02:27

Depois de citar ao infinitum a expressão macho-jurubeba, recebi uma nova balaiada de mensagens pedindo, encarecidamente, que eu tentasse explicar o que seria o tal homem.

Bela tarefa para cumprir logo ao alvorecer desta segunda sem lei.

A expressão surgiu no Cariri, onde os fracos não têm vez, mas ganhou força no seguinte momento:

Ao me deparar em um banheiro de um moderno restaurante de SP, com dois homens, aparentemente héteros, discutindo sobre técnicas depilatórias e cremes básicos para uma nécessaire masculina, me veio ao cocoruto, imediatamente, a velha imagem da capanga e o kit máximo permitido por um macho-jurubeba.

Como bem sabemos, amigo, o macho-jurubeba é o macho-roots, a criatura de raiz, o sujeito tradicional e quase em extinção nos tempos modernos.

Praticamente extinto, sejamos sinceros. Não há esperança, o velho Francisco, meu pai, lá no seu rancho nas bordas da chapada do Araripe, deve ser um dos derradeiros da legião de bravos.

O macho-jurubeba é um personagem que nos parece nostálgico e, de algum modo, folclórico, mas perfeito para nos revelar o universo dos marmanjos até meados nos anos 1990 –quando Deus fez, de uma costela do David Beckham, o ser doravante conhecido como metrossexual.

Vasculhemos, pois, a capanga, usos, costumes higiênicos e os arredores antropológicos deste predador do nosso paleolítico.

Era sim naturalmente vaidoso o macho popular brasileiro.

Aqui encontramos os vestígios: um espelhinho oval com o escudo do seu time ou uma diva em trajes sumários, um pente nas marcas Flamengo ou Carioca, um corta-unhas Trim ou Unhex, um tubo de brilhantina, um frasco de leite de colônia…

Vemos também, no fundo do embornal, uma latinha de Minâncora e outra de banha de peixe-boi da Amazônia em caso de eventuais ferimentos, calos ou cabruncos.

Em viagens mais longas, barbeador, gillette, pedra-hume –o seu pós-barba naturalíssimo, nada melhor para refrescar a pele e fechar os poros.

Alguns pré-modernos e distintos se antecipavam aos novos tempos usando também Aqua Velva, a loção para o rosto utilizada pelos “homens de maior distinção em todo o mundo”.

Investigamos também, no kit do macho-jurubeba, emplasto poroso Sabiá, pedras de isqueiro com a marca Colibri e um item atual até nossos dias, o polvilho antisséptico Granado, afinal de contas a praga do chulé é atemporal e indisfarçável.

O lenço de pano nem se comenta, não podia faltar nunca.

Ainda no capítulo do asseio corporal e dos bons tratos, façamos justiça às moças. Elas adoravam tirar nossos cravos e espinhas, atitude hoje cada vez mais rara –se alguma o fizer, amigo, a tenha na mais alta conta, a abençoada filha de Eva te ama mesmo.

Objeto de investigação e estudo do caboclo pré-metrossexualismo cachetes de Cibazol.

Aí, porém, já saímos um pouco dos cuidados estéticos e vasculhamos outros armarinhos de miudezas do vasto museu deste homem que –para o bem ou para o mal- já era.

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Comentários

  1. Arthur comentou em 04/12/12 at 10:37

    Segundo essa descrição, meu velho é um ligítimo macho-jurubeba. Prá mim ainda falta um pouco.

    Eu tenho um primo cuja ex-namorada era tão gente boa que ela espremia até as minhas espinhas.

  2. Mestre Jonas comentou em 03/12/12 at 23:44

    O principal ficou faltando!!
    Escova de dente, deus do céu!
    E fio dental também, de preferência.

    • william b comentou em 04/12/12 at 8:41

      Macho-jurubeba escove é mascando fumo de rolo, cabra. E palita os dentes com talo de capim ou palito de coqueiro. Como dizem no Pará: “Agora bem aí…”

  3. Rosane Falcão comentou em 03/12/12 at 23:38

    Meu pai usava capanga no paleolítico, mãsss… não sei o que carregava dentro daquela coisa.

  4. Amanda comentou em 03/12/12 at 22:28

    É mesmo , bons tempos também do macho jurubeba!

    • Amanda comentou em 04/12/12 at 6:49

      mas..passei dessa fase ( excusiva).

      • Amanda comentou em 04/12/12 at 6:49

        *exclusiva.

  5. Sâmia comentou em 03/12/12 at 22:26

    xico, você é puro amor! cê vem a belo horizonte na quarta e vou tentar ir te ver falar.

    vovô – que o tenham os ceus – era macho-jurubeba, com seus saudosos lenços presidente e seus pentezinhos de plástico, aqueles quase-redondas que o sujeito ou a sujeita deixam presos à mão por um fino arco também de plástico. quanta saudade e nostalgia de infância bem vivida em seus aposentos e sua modesta loja de casa-mesa-banho no centro de uma singela cidade do interior.
    ah, e ele bebia café grosso e amargo em uma caneca esmaltada branca, cheia de falhas pretas por conta dos tombos recorrentes ao chão.

    um beijo, xico!

  6. ursula comentou em 03/12/12 at 21:27

    meu padrinho usa capanga até hoje, acho super fofo. e sempre brinco com ele. vou chamá-lo de macho-jurubeba. rsrs

  7. william b comentou em 03/12/12 at 20:28

    Acredito velho Xico, que muitos cabras acostumados com o cheiro de velame e com o cheiro do mameleiro, já se identificavam com o jurubeba. Eu tô mais pro Catuaba. De quebra, ainda vem com uma boazuda retratada no rótulo. Ainda hoje existe aquele pente ovalado que a gente enfiava os dedos. Como dizia o autor de “O lobo das estepes; Somente para os raros.”

  8. franco comentou em 03/12/12 at 20:14

    xico, meu guru do crato…

    agradeço aos queridos avô antonio e aos tio nelson e chiquito por me apresentar aos lenços presidente, e hoje no tempos modernos ainda sou um usuario viciado no mesmo…

    saudades de um tempo que não volta mais, meu caro…

    boa semana para todos…
    abraços velhinho!!!

  9. Fernanda comentou em 03/12/12 at 19:41

    Xico querido, o Neymar tá a cara da Maria Gadu.

    • Antonio comentou em 04/12/12 at 0:57

      O macho jurubeba passou longe!

  10. PAULO ESTEVES comentou em 03/12/12 at 19:38

    Procure no google: LIVRO CIBERCÉLULAS. Este livro irá te surpreender! Recomendo.

  11. zehminervino comentou em 03/12/12 at 18:34

    Todo macho-jurubeba diz que ama.

  12. dora comentou em 03/12/12 at 18:11

    Ótimo, Xico! Também lembrei o meu pai que usava o perfume Promessa e usa, até hoje, o pente e o lenço de tecido! Que maravilha!

  13. Gracie comentou em 03/12/12 at 17:54

    Adorei Xico!!! Me lembrou meu pai que sempre usou pasta e dente (!!!) pra secar as espinhas ….Mas ele não abria mão de um creme nívea ( aquele da tampa azul multiuso) e quando iniciou os grisalhos o grecin 2000!
    Agora em relação aos machos, adoro a macheza selvagem mas tirar espinhas não rola mesmo!!!

  14. Karen kipnis comentou em 03/12/12 at 17:40

    Meu pai usava o lenço de pano, claro, e umidecia em qualquer torneira para limpar bocas e dedinhos dos filhos melados de “Xicabom”, etc…ai que saudades! KK

  15. Ivan comentou em 03/12/12 at 14:30

    impressionante que a Dilma nao toma uma providência enérgica em colocar o exercito nas fronteiras do Brasil, para combater o intenso tráfico de drogas e armas.

    Nem se incomoda que o brasileiro esta sofrendo barbaridade, com a criminalidade nas alturas em todo país.

    já era hora de mobilizar o exercito ajundando a PF ns fronteiras, principalmente Paraguai, Mato Grosso do Sul .

    Não seja omissa, Dilma !

    • Antonio comentou em 04/12/12 at 1:01

      Parece que tu errou de blog, contudo nada contra dilma por ser mulher, mas está faltando uma atitude de macho jurubeba, era isso?

  16. Altamir comentou em 03/12/12 at 12:49

    Puerra, caro Xico! ainda tem desavisado que não conhece a sua célebre denominação “Macho-Jurubeba”? O mesmo que está em constante peleja contra o Metrossexual? Esse povo é mesmo muito desconectado e desligado pra ainda não distinguir essas duas figuras contemporâneas, que coexistem nestes tempos, apesar do metrossexualismo estar ganhando espaço e vantagem a olhos vistos. em favor dos machos roots e Jurubebas até a morte! Abraço!

  17. Julia C. comentou em 03/12/12 at 12:31

    Em extinção… meu ultimo namorado usava creme firmador da mãe porque achava que a melhorava a barriga de cerveja que ele nem tinha… enfim, o povo vai na onda de valores que dizem ser os certos e perdem a essência. Saudade de um bom homem de barba, com cheiro de homem e pegada forte. Colônia Campos do Jordão também era clássico para senhores distintos… 🙂

    • Vítor comentou em 03/12/12 at 13:15

      Não esquecendo do Contouré, da Niasi…

  18. Caroline Prado comentou em 03/12/12 at 11:12

    Obrigada, Xico. Fez um grande favor ao meu casamento. Meu marido acaba de me mandar uma msg com esse trecho. “Elas adoravam tirar nossos cravos e espinhas, atitude hoje cada vez mais rara –se alguma o fizer, amigo, a tenha na mais alta conta, a abençoada filha de Eva te ama mesmo.”. Espero que depois dessa, ele pare de reclamar dessa minha mania. Beijos

  19. ju comentou em 03/12/12 at 10:41

    “de uma costela do David Beckham” haushuashuashuahsuhasuhaushaus…. mas ele é lindo Xico, e vc tb !

    • xico sa comentou em 03/12/12 at 12:09

      Nada contra o cabra! so uso como simbolo,amor,desse tipo. gracias pela leitura.e vorte sempre.bjo

  20. Fabiano comentou em 03/12/12 at 10:38

    Alguns acessórios compunham o automóvel do juruba. Quer dizer, automóvel, não, que isso é coisa de boiola, o carro mesmo. Não faltava no painel um ímã com as fotos dos filhos e os dizeres “Deus te guie, papai”. No câmbio ou marcha havia uma bola de sinuca, ou um adereço com um caranguejo dentro de uma bola; tapete no encosto e capa para o volante, com uma parte lisa e outra cascuda; por último, adesivos no painel ou no vidro: clube do coração, Nossa Senhora ou Sagrado Coração, e frases estimulantes e poéticas como “Não me inveje, trabalhe” ou “Sai, olho gordo”. Calça jamais um jeans, sempre de pano (“tecido” é coisa de viado, por favor; “fazenda”, pior ainda), sapato social, nunca tênis. E uma caixa de palitos Gina sempre por perto.

  21. adriane comentou em 03/12/12 at 9:58

    Valeu. O macho-jurubebe em extinção requer luta para despertá-los ou recriá-los.

  22. Sylvia comentou em 03/12/12 at 9:08

    Olha Xico, eu sou a favor do macho-jurubeba em todos os graus e estou até à procura de um (está difícil), mas espinha eu não tiro não.

  23. Celso Gagliardo comentou em 03/12/12 at 8:34

    Eita grande Xicosa, que se nos remete ás gostosas divagações e velhos tempos. Do alto dos meu ponto seis, utilizei, sim, vários dos produtos indicados, e alguns até hoje, como lenço de pano. Isso se extinguiu?? rs

    • xico sa comentou em 03/12/12 at 12:10

      Celso,meu caro,nunca mais vi os tais lenços.mas deve existir ainda.vamos investigar.abrazo

      • Maria S. Magnoni comentou em 03/12/12 at 12:38

        Xico e Celso,
        Como não? Os velhos e bons lenços Presidente ainda existem: http://www.lencospresidente.com.br e são encontrados em qualquer velho e bom ex-armarinho, hoje as tais lojas não sei o quê. Meu pai, velho macho jurubeba que fara 80 anos em janeiro e tbém meus irmãos, Profs. Drs. (rs) , mas que conservam esses ” estranhos” hábitos estão sempre com os seus pelos bolsos.
        Abraços
        PS. ri muito com texto. Espelhinho oval até eu tinha!!

    • gleidi comentou em 03/12/12 at 17:00

      Olá Celso, nõ deixe de usar lenços de pano,com cheiro de Mens Club, tão romântico!!

  24. Isa comentou em 03/12/12 at 8:19

    Bom dia, Xico.
    Os seus textos provocam uma deliciosa cosquinha no ventre.
    1 puta beijo e um largo sorriso!

  25. DeboraH Lee comentou em 03/12/12 at 8:10

    Nossa, bateu uma saudade imensa do meu Pai…. Era exatamente assim ;o)

    Obrigada, Xico.

  26. Adilma comentou em 03/12/12 at 8:06

    Meu pai, velho pernambucano nascido em Riacho do Navio, era esse tipo de macho. E Freud explica: adoro machos assim, apesar de estarem em extinção! Que pena!

  27. Luiz comentou em 03/12/12 at 7:46

    Faltou dizer: nos raros momentos que o macho jurubeba se rendia a dor, era com cafiaspirina que era debelada a maldita.

    • xico sa comentou em 03/12/12 at 12:10

      bela lembrança,Luiz. fica o registro.abs

  28. Grazi comentou em 03/12/12 at 7:40

    Oi Xico! Depois de tanto tempo lendo o teu blog, foi bem legal te conhecer lá na balada literária. Parabéns, adoro o teu estilo e já comecei a ler o livro.

  29. Priscila comentou em 03/12/12 at 6:59

    Xico, sei que o politcamente correto seria comentar o texto, por sinal a excelência em irreverência (rimou!). Mas, uso-o para expressar minha imensa admiraçao por você e toda a sua obra. Que coisa boa ser sua contemporânea!!! Estarmos ocupando mesmo tempo e espaço, é delicioso.
    Obrigada!

  30. silfarinatti@hotmail.com comentou em 03/12/12 at 6:27

    Acho que falta a velha Minâncora Xico Sá e uns tubos de Epocler… viva o Macho-Jurubeba, o macho Roots!O macho de verdade usa apenas o necessário! Eu os amo! Aliás todas nós né? Essa parada de David Beckham definitivamente não dá tesão!

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