O drama da viagem do Réveillon
01/11/12 17:20Você ali no maior barraco de fim-de-feira amorosa com a gazela, numa D.R. -a mitológica discussão de relação- e lá vem uma gaiata, dentes de porcelana à mostra, e manda, na lata:
-E aí, onde os pombinhos vão passar o fim de ano?
Antes que você diga que está em dúvida, o que é normalíssimo, a serelepe, mais falsa do que alegria de celebridade em micareta, conta do pacote que comprou para Buenos Aires, sul da Bahia, Fortaleza ou Porto de Galinhas etc etc.
Você nem sabe se estará mais junto da cria da sua costela até a última folhinha do ano e a vadia, toda patriçosa, toda planejada, a contar as vantagens do seu destino, do pacote, do hotel, da cascata de fogos, do jantar romântico incluído no preço e todas outras coisitas que nos deixam sem paciência –principalmente durante uma crise braba no namoro ou casamento.
Claro que é perversão pura da vagaba. Sabe como ninguém que os pombinhos, como ela cinicamente os trata, já não arrulham na mesma sintonia, já não comem o mesmo Pê-Efe com o apetite de quem janta num DOM, num Fasano.
Dá vontade de ser bem grosso, bruto como o amigo Lunga de Juazeiro, porém, haja porém, você, macho sensível, moderno e civilizado, mantém a calma.
Já não bastam as suas discussões internas sobre o assunto, que sempre rendem quiprocós e arranca-rabos, e ainda vem essa desalmada riscar o fósforo da intriga no paiol dos outros.
Você ali, amigo, ainda concentrado na reta final do campeonato, além de enfrentar a cobrança em casa ainda tem que vacinar-se contra essas peruas-butatans!?
A pressão a essa altura é das maiores, amigo. Até mesmo para os solitários.
Lembro de um ano que resolvi, relaxadamente, ficar em São Paulo, na buena, andava meio zen, nada de enfrentar o caos de aeroportos e rodagens.
A cidade foi esvaziando, o prédio da área da rua Augusta idem, ai o Everaldo, nobre porteiro paraibano fã do Metallica, me olhou com aquela cara de piedade, como quem diz “coitado do tiozinho, deve tá duro, sem grana, não pode ir nem ali na Baixada Santista, na Praia Grande”.
Aquele olhar implacável me fez correr direto para a rodoviária, peguei um ônibus para o Rio e passei a meia-noite em um táxi, entalado no túnel Rebouças, mas ouvindo o foguetório de Copacabana. Que maravilha, que beleza!
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