Cão de guarda da mulher amada
25/10/12 19:52Dei sorte de encontrar outra noite uma leitora de Alberto Moravia, o mais genial dos comunistas líricos da Itália, autor de “Os indiferentes”, que rendeu o filmaço “O Desprezo”, de Jean-Luc Godard.
Foi amor à primeira mirada.
No que lembrei de uma crônica do amor louco que rabisquei, século seculorum, para uma mulher que amaria de verdade:
“Amar, além de muitas outras coisas, quer dizer deleitar-se na contemplação e na observação da pessoa amada”, sopra o velho Moravia, que jamais saiu da cabeceira dela.
Uma das melhores coisas da vida é observar a pessoa amada que dorme, entregue, para além dos pesadelos diários.
Como bem disse Antônio Maria, o grande cronista que aparece com ciúmes até da própria sombra no livro da Danuza, um homem e uma mulher jamais deveriam dormir ao mesmo tempo, embora invariavelmente juntos, para que não perdessem, um no outro, o primeiro carinho de que desperta.
Experimente você também, sensível leitora, ver o seu homem quando dorme. Há uma beleza nessa vigília que os tempos corridos de hoje não percebem.
Amar é… vê-lo(a) dormindo.
Cada mexidinha, cada gesto. O que sonha nesse exato momento? Tomara que seja comigo, você pensa, pois o amor também é egoísmo. Gaste pelo menos meia hora por semana nesse privilegiado observatório.
Psiuuuuu!
Ela dorme.
Mãozinha no ar, como se apanhasse pássaros, que coisa mais linda. Uns 23 minutos assim, mirei no rádio-relógio. A mão desce ao colchão, quase dormente, formigamentos. Coça o nariz. Põe a mãozinha direita entre as coxas.
Agora vira de lado, como os antigos LPs quando gastavam as seis músicas do A. E me abraça como nunca fosse partir, corpos viciados, almas em busca de um acerto.
Dorme, meu anjo.
Ela obedece.
Vigio o sono dela como um soldado zapatista. Como um cão zela o sangue do dono. Como se fosse um homem-exército e pronto.
Amar, no início era o verbo intransitivo da alemã professora de amor de Mario de Andrade. O idílio tem sobrevida, não como gênero, mas como vício, vício de amar. Amar de muito.
A mão desce agora sobre o meu peito, como se medisse meus batimentos. A mão direita volta para a arte de apanhar pássaros, que beleza, que diabos!
O ideal é que você, amiga leitora, durma do lado esquerdo da cama, o do coração, sempre. Mãozinha no ar catando pássaros. Até se acalmar de vez. Calmaria danada de horas, sem coreografias ou narrativas.
Sonha, sonha, sonha, minha menina.
Como é lindo a vigília ao sono dela.
Coça o nariz. Sussurra umas onomatopeiazinhas lindas de sonhos de besouros. Ela arruma os cabelos como algas, entorpeço num mergulho.
Observar o sono do(a) amado(a) é a melhor maneira de mapear a sua beleza.
É a melhor maneira de conhecer o homem ou a mulher com quem dormimos.
E como são lindas aquelas marquinhas deixadas pelos lençóis no corpo dela. Um mapa de delírios! Melhor é lê-las como quem adivinha os sonhos e o futuro no fundo da xícara árabe ou nas cartas.
Viagem ao Sertão do campo aberto Por Ana Miranda Irás a pé, ou a cavalo, a redescobrir a Cidade Perdida dos Pirineus. Cruzarás a vasta distância de Porangatu, pousarás na serra do Estrondo e de manhã rezarás na igreja fechada e cheia de mofo. Irás ao Campo de Fora contemplar as bailarinas de Paraúna na serra da Galera, a um encontro com o capitão Urbano do Couto, já morto, seguirás o mapa mágico de Francisco de Bulhões no roteiro de enganações do Goiás verdadeiro. E te banharás na água tépida do rio Pilões do Calhamaro, então te levarão os sinos à velha vila de Jaraguá cheia de assombrações. Passarás pela pedra do Bisnau, pela serra da Mesa Digital onde as vacas comem margaridas no capim, rodearás as margens da lagoa encantada de Santa Brígida e chegarás à serra do Tucunzal. Voarás sobre São Félix de Cantalício coberto de pós de ouro espalhados pela velha fundição para enfeitar teus silêncios, depois, Pirenópolis, Corumbá, Vila Boa dos Goyá, romarias do sertão.
“Jesus respondeu, e disse-lhe: Se alguém me ama, guardará a minha palavra, e meu Pai o amará, e viremos para ele, e faremos nele morada.
Vida boa essa de jornalista. Se ficar olhando a amada eu não trabalho no outro dia.
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Oh, Xicróx….vc se supera a cada dia!
Que coisa mais linda…..abração
fantástico!! genial! n achava q era tão comum essa “mania”!
Ahhh que delícia, faço isso sempre, ver o homem amado dormindo é a coisa mais doce e maravilhosa do mundo… um sentimento que nos invade por completo.
Valeu Xico, vc é um gênio…
bjs
Este Xico Sá, o poeta, cujo heterônimo desconheço, é o meu favorito. Não necessariamente o poeta romântico, mas o poeta; aquele capaz de ver através e além das coisas prosaicas.
Ver dormir é muito bom… mas e achar formas gostosas de acordar?
Já passei por isso, mas convenhamos que após 15 anos juntos, o ronco incomoda, a mão pesada sobre o corpo incomoda e até o calor que emana do outro corpo, naquele momento… Incomoda.
Ou será que é porque estou na fase de só obter esse prazer ao ver meu filho dormindo???
Algo perdeu o encanto?
Encontrei este esmo texto assinado por outra pessoa com publicação de 2010 por um jornalista do Acre ….
http://pedorelha.blogspot.com.br/2010/12/o-admiravel-sono-da-amada.html
O que é isso ?
Vc já tinha este texto e o cara copiou e publicou no blog dele….. Xico ,existem muitos querendo ser como vc…… vc é o cara !!!!!!
Xi, ferro! Estás amando meu caro. Delícia. Ui
Até os ronquinhos dele soavam como música pra mim. Sabia que ele estava dormindo seguro e tranquilo, ver ele dormir era a melhor coisa do nosso amor.. pena que acabou
Você é o cara !
Caro Xico voce está apaixonado ??!!! O amor é lindo !!
é..gostei…muito
Texto lindo e verdadeiro. Um convite ao amor que se entrega.
Gostoso, também, é a cena da outra perspectiva – numa semissonolescência descobrir que o outro, que você acreditava estar dormindo, te aconchegou com a coberta que você sem querer deixou cair no chão.
Lindo
Xico, gênio. Transforma palavras em poesia, cotidiano em sonho. Sou apaixonada por você!
falou tudo…
Fui sentindo um gosto doce, que aumentava enquanto ia te lendo… Minha memória me brindou com a recordação dos olhos fechados dos homens que já me hipnotizaram enquanto eu, acordadissima me deliciava e segurava risos de alegria, e eles dormiam… Alguns homens quando dormem ( quando não borrachos) revelam uma pureza tão simples e sublime… A fragilidade de um homem que dorme é tambem linda, e na minha experiência pode transformar os roncos mais originais em cores, na madrugada de uma insônia femenina…
Xico, gracias, gracias, gracias por escrever esse!!!
Em poucas linhas, todas se entregam ao Xico. Coisa bonita de se ver essas mulheres com ânsia de poesia.
Eu, que já possuo o meu poema em forma de macho-jurubeba dormindo ao lado, agradeço pelas palavras que me lembram das pequenas belezas que às vezes teimo em esquecer.
A cada dia o mestre Xico Sa se supera. Parabens!
Ai, Xico, um orgasmo em cada palavra tua! Um deleite esse texto…tenho na mente lembranças de grande doçura ao ver o amor entregue ao sono! Imagem que fica para sempre!
Ah, a propósito, Moravia também está na minha cabeceira e na minha estante (Viaggio a Roma, entre outros)
Ai, eu adooooro esse Xico!
E na minha cabeceira que você encontra Xico Sá….
Esse texto é de derreter-se!
Inspirado pelo sono e sonhos de alguém?
Avemaria, Xico, que texto lindo!! Tão poético…
Na minha cabeceira, entre outros bons livros, está o Big Jato… De repente…
Beijo, meu lindo.