Campanha permanente pela carta de amor
11/10/12 02:24A carta escrita à mão, com local de origem, data, saudações, motivos, despeço-me por aqui, papel fininho e pautado, pelos Correios, portadores ou menino de recados.
Como canta o rei Roberto, escreva uma carta, meu amor, e diga alguma coisa por favor.
Agora Beatles: Ô, mr. Postman!
Tem também aquele do Waldick Soriano, nosso Johnny Cash baiano: “Amigo, por favor leve essa carta/ e diga àquela ingrata/ como está meu coração…”
É nossa campanha permanente pela volta da carta de amor, manifesto sempre repetido neste blog.
Chega de SMS e emails lacônicos e apressados. Debruce a munheca sobre o papiro e faça da tinta da caneta o seu próprio sangue.
Não temas a breguice, o romantismo, como já disse o velho Pessoa, travestido de Álvaro de Campos, todas cartas de amor são ridículas, e não seriam de amor se ridículas não fossem.
A carta, mesmo com todas as modernidades e invencionices, ainda é o melhor veículo para declarar-se, comunicar afinidades e iniciar um feitio de orações.
O que você está esperando, vá ali na esquina, compre um belo papel e envelopes, e se devote.
Se tiver alguma rusga, peça perdão por escrito, pois perdão por escrito vale como documento de cartório.
Se o namoro ainda não tiver começado, largue a mão dessas cantadas baratas e internéticas e atire a garrafa aos mares.
Uma boa carta de amor é irresistível. Mas não vale copiar aqueles modelos que vêm nos livros. Sele o envelope com a língua, como nas antigas, lamba os selos, esse pré-beijo dos lábios da futura amada.
De novo o cliclê de Pessoa, para encorajá-los mais ainda: “As cartas de amor, se há amor, têm de ser ridículas”.
Às moças é consentido, além dos floreios e da caligrafia mais arrumadinha, a reprodução de um beijo, com batom bem vermelho, ao final, perto da assinatura.
Que os amigos,e não apenas os amantes, se correspondam, fazendo dos envelopes no fundo do baú as suas histórias de vida.
Pela volta da carta, que já é por si só uma maneira devota, um tempo que se tira, sem pressa, para dedicar-se a quem se gosta. Pela volta da carta, pois o que se diz numa carta é de outra natureza, é o bem-querer em tom solene.
O que você está esperando, meu amigo, minha amiga, largue esse cronista de lado e debruce-se sobre a escrivaninha. Uma mesa de bar ou de um café também são bons lugares para assentar as suas mal-traçadas linhas.
Lembrei-me agora de um começo clássico de missivas: “Venho por meio desta dar-te as minhas notícias e ao mesmo tempo saber das tuas…”
Grande Xico, tome 10.
E que vivam as cartas, os bilhetinhos em pedaços de saco de pão, as florzinha e coraçõezinhos rabiscados em guardanapos de papel… Salve o papel e a tinta! Salve os punhos sobre a mesa! Que eles jamais deixem de manuscrever todas as breguices de um coração apaixonado. Salve os Correios e as letrinhas encantadas que viajam dias até chegarem, de surpresa, no bairro vizinho. E quem vive muito satisfeito em abrir a caixa do correio e só encontrar contas à pagar que atire a primeira bolinha de papel.
Sim, todas as cartas de amor são ridículas, mas só porque todo amor – por mais moderninho que queira parecer – é brega. Então… salvem as patetices do amor!
Adoro cartas e tenho saudades delas. Ainda guardo uma caixinha no fundo do baú com cartinhas queridas! Nostalgia…