`A gente se vê´ é pior que o pé-na-bunda

Por xicosa

31/07/12 14:34

O amigo P., aqui de São Paulo, me liga, às 13h13 nesta terça invernosa. Liga esbaforido, acabou de levar um pé-na-bunda.

Pé-na-bunda não. Muito pior. Pior do que um chute de uma bela bota de uma elegante paulistana. Como são elegantes as moderníssimas moças desta cidade no inverno –como Caetano pisou na bola ao falar da “deselegância discreta” das nossas meninas.

Elegância, porém, não é o caso desta sofrida hora do meu camarada.

O amigo não levou apenas um cartão vermelho. Pé-na-bunda até é compreensível, acontece.

O que ele levou mesmo na cara dói muito mais: o desprezo de um lacônico e gelado “a gente se vê”.

Isto sim, tio Nelson, é voltar para casa chupando o frio chicabom da solidão nesta cidade nada amorosa.

“A gente se vê um cacete”, reagiu P. Sem jeito.

Estava morto de feliz com a garota. Um intensivão de sexo. Grudados, costela a costela, com o superbonder do amor desde o começo de julho.

Repeti para ele -temos que rir da própria desgraça- uma frase do cronista e compositor Antônio Maria:

“Toda mulher, após trinta dias de felicidade sente fome e sede de desgraça. Só não irá embora se não tiver condução.”

P. não consegue ter humor nessa hora.

Nada pior do que um “a gente se vê”, “a gente se esbarra”, “a gente cruza por ai” etc.

O amigo está inconsolável. Estava fazendo a coisa certa, deduz, em uma correção como não praticava havia séculos.

Ex-canalha, andava regenerado como em uma letra de samba antigo. Se você jurar, que me tem amor…

Aquele “a gente se vê”, porém, soou ao seu ouvido como o “never more” do corvo de Edgar A. Poe.

“A gente se vê” é uma espécie de “onde está Wally”do amor e da sorte.

É pior do que tentar achar o amor da sua vida na festa dos papangus de Bezerros (PE), o maior baile de máscaras do mundo.

É pior do que a velha desculpa de sair para comprar o Malboro vermelho do abandono sem filtro.

“A gente se vê” não é o mesmo que deixar ao acaso.

Nada mais detestável de ouvir do que a maldita frase. Logo depois a porta bate e nem por milagre.

Pobre amigo P., inconsolável. Um ex-canalha quando soluça desperta a piedade do mais frio dos assassinos.

“A gente se vê” não é o mesmo que “vamos dar um tempo”.

É o gelo baiano do namoro. O que separa de fato, cada um em uma mão na avenida Paulista.

Esse “a gente se vê” deveria ser proibido por lei. Constar nos artigos constitucionais, ser crime inafiançável no Código Penal.

“A gente se vê” é a bobeira-mor dos tempos do amor líquido e do sexo sem compromisso. Da época em que nada fica. Nem o amor daquela rima antiga.

Comentários

Amanda Campos comentou em 31/07/12 at 18:44

30 dias é muito, bom mesmo é pegar o beco depois de um delicioso final de semana em Carneiros. Na falta da condução, vale até mula sem cabeça.  Volta Xico, saudade mata homi!
Fabio comentou em 31/07/12 at 18:17

É Xico, as vezes me pergunto se o Abujamra está certo na frase que ele diz: “Todo romantico tem que se f… na vida”. Aposto que na época de canalha esse coitado não sofria tanto, foi querer mudar…
Nina Passos comentou em 31/07/12 at 18:09

Da ultima vez que soltei um “a gente se vê”, foi meio sem pensar, eu de fato queria rever a pessoa. Não sei se ele entendeu errado ou se era a deixa que queria, mas o camarada sumiu. Agora fiquei confusa…
Mary Rita comentou em 31/07/12 at 17:30

Augusto, (comentário aí em cima), “a gente se vê”…mal humorado!!!!
Annairam comentou em 31/07/12 at 17:07

Xico, adorei..tudo.. inclusive “Crônicas de Costume”… a vida é mais, pobre Augusto !!!
viva o Xico…
bj
Patrícia de Leon comentou em 31/07/12 at 17:02

P., me liga!!!
rafaela comentou em 31/07/12 at 16:54

Nossa! Nunca falei “a gente se vê”. Não imaginava de todo o poder dessa frase. Se soubesse disso antes teria evitado tantas desculpas esfarrapadas. rsrs
Julia comentou em 31/07/12 at 16:38

Canalha nao se regenera nunca. Um mes é igual a um século. Quem diz “a gente se vê” reza todos os dias para N.Senhora dos Avulsos, nunca mais encontrar o dito pelo caminho, nem no esbarrão. Tem mais é que rir muito muito!!! Rir de si mesmo, e… que venha a próxima vítima.
Cristiane comentou em 31/07/12 at 16:35

Xico! Você é demais!!!”A gente se vê” daqui em diante, terá sempre um toque de humor…não será tão massacrante!!!Vou lembrar de vc!!!kkk!!!
laura fernandes comentou em 31/07/12 at 16:32

Muito bom! Amooooooooooooo kkkkkkkkkk
Geraldo Valle comentou em 31/07/12 at 16:25

Xico, fico impressionado com a sua capacidade para colocar no papel os sentimentos mais profundos de um ser humano. Infelizmente ainda existe gente que não acredita que é possível falar sério sorrindo. Continue assim, tá muito bom.
sophia mídian comentou em 31/07/12 at 16:22

passar mais de 3 noites com um homem, aquecendo costela e não se envolver é inconcebível (pra mim)… se é pra não se apaixonar, não dá pra ficar até de manhã.
esse seu amigo deve ser canceriano e a moça, bi-polar.
Andrea comentou em 31/07/12 at 16:18

Xico, você é mesmo evoluído, consegue responder com elegância até comentários imbecis como esse do tal Augusto. Se fosse eu mandava pra p….
Aproveitando, lindo texto, como sempre.
Marcia comentou em 31/07/12 at 16:14

Gosta mesmo ( mas será que em tempo integral?)
Cíntia comentou em 31/07/12 at 16:13

Xico, sou sua fã em tudo que escreve ( e diz- também o acompanho em Saia Justa)! Me apraz ler cada frase que, como uma música, tem sempre ” um refrão” que fica! Nesta última crônica, fica para mim – ” “A gente se vê” é a bobeira-mor dos tempos do amor líquido e do sexo sem compromisso. Da época em que nada fica. Nem o amor daquela rima antiga”.
Obrigada! Bravo, Bravo!
carina comentou em 31/07/12 at 16:10

Eu falo “a gente se fala…”, pra dizer que tanto eu quanto ele podemos ligar um pro outro. E “a gente se vê” significa que só o acaso poderá nos colocar frente a frente novamente (rs)…
lucilene isidoro comentou em 31/07/12 at 16:06

“Você era a mais bonita das cabrochas dessa ala, vc era a favorita onde eu era o mestre sala, hoje a gente nem fala,mas a festa continua…” Qtos “a gente se vê” esse seu amigo P, ex canalha, já disse por aí, meu caro Xico? Um dia da caça…Hj ele foi caça,mas diga a ele “não chore ainda não que eu tenho um violão e nós vamos cantar…”Bjo! Adoro suas crônicas,quero psicanálise não e olha que sou psi…Mais um bjo.
Mayume comentou em 31/07/12 at 16:02

A gente se vê e plaft a porta bate cara, dói como um soco no nariz…
Liliane Moreira comentou em 31/07/12 at 15:56

É que o amor é cego…
Jujuba comentou em 31/07/12 at 15:51

E quando ele diz: “a gente se fala”? Nunca entendi se fujo, acredito, choramingo…
- Los Hermanos comentou em 31/07/12 at 16:44
  
  E quando ela se diz doida??
gildete comentou em 31/07/12 at 15:46

Aiai, pois é. Mas tão malicioso, indecente e desconcertante é um pé-na bunda com a expressão perversa do dialógo dos infernos.
Uma incauta pergunta: Quando vamos nos ver de novo? – a resposta desgraçante: Quem sabe?
Maria Eduarda comentou em 31/07/12 at 15:15

Sou partidária do “a gente se vê”, evita o drama de dizer adeus a uma relação que mal começou. É uma forma amigável de se despedir, afinal, um dia a gente vai mesmo se ver (por mais que quando a gente diga, espere que não).
- Rodrigo comentou em 31/07/12 at 16:05
  
  Queima filadaputa..rs
Simone comentou em 31/07/12 at 15:13

Pior do que “a gente se vê” é o manjado “vc merece alguém melhor” Aí é duro de encarar…
Augusto l comentou em 31/07/12 at 15:11

Mais uma coluna superficial, com uma opinião extremente depressiva de alguém que parece nunca ter seu amor correspondido. Get over it e faz por merecer.
- xico sa comentou em 31/07/12 at 15:24
  
  Aqui,caro Augusto,vc não vai encontrar nada profundo.Desista. Nao é psicanálise, muito menos sociologia. Apenas banais crônicas de costumbre. abs
  - Rafaella comentou em 31/07/12 at 17:38
    
    Xico, amei sua resposta! Bom humor acima de tudo! E… a gente não se vê, ok??? rsrsrs
  - célia comentou em 03/08/12 at 11:55
    
    Resposta,digna de alguém capaz de fazer um texto tão bacana.
Zezel Leite comentou em 31/07/12 at 15:11

Se fosse tu, Xico, a me dizer “a gente se vê”, eu ia atras de tu. Mas tem uns que é melhor deixar ir mesmo. Pra sempre! E esperar que dias melhores virão. Sempre vem. Beijo, delícia!
Fernanda comentou em 31/07/12 at 15:08

Xico não sabia que ‘a gente se vê’ significasse tanto pra um cara! ahahah
- Zezel Leite comentou em 31/07/12 at 15:12
  
  Verdade! Acho que podemos usar isso a nosso favor! risos
- xico sa comentou em 31/07/12 at 15:22
  
  é a morte. abs
Mari comentou em 31/07/12 at 15:06

eu sou a favor da criação do ministério do amor…o estado tem que nos ajudar nessas qustões! e essa umazinha citada no texto ia receber punição, a menos que seja ré primária ou esteja agindo em legítima defesa…
Thomas comentou em 31/07/12 at 15:02

“Estava fazendo a coisa certa, deduz, em uma correção como não praticava havia séculos”. Onde ele vê “correção”, leia-se “vacilão”. Só por isso merecia inclusive a enxadada final “Tenho certeza de que você vai encontrar alguém muito legal”. Rio que tem piranha macaco bebe água de canudo, mulher não gosta de cara bonzinho.
- Daniela comentou em 31/07/12 at 15:13
  
  Mulher gosta de homem bonzinho sim
- Ella comentou em 31/07/12 at 16:57
  
  Realmente não gostamos dos bonzinhos, AMAMOS, os bonzinhos inteligentes.
- Mari comentou em 31/07/12 at 21:45
  
  Mulher não gosta de cara bonzinho, não.
Ramon JMG comentou em 31/07/12 at 14:57

Sim, devia ser proibido.

“Eu te vejo sumir por aí
Te avisei que a cidade era um vão
– Dá tua mão
– Olha pra mim
– Não faz assim
– Não vai lá não”
Chico Buarque
- Alessa comentou em 31/07/12 at 15:45
  
  “Passas sem ver teu vigia
  catando a poesia
  que entornas no chão…”
Kátia Wichert comentou em 31/07/12 at 14:55

Xico adoro o que vc escreve!!! é uma delicia de leitura, assim consigo me alegrar com minha propria desgraça, do meu último ” a gente se vê “
- xico sa comentou em 31/07/12 at 15:24
  
  A ideia é rir das desgraças. inevitáveis desgraças,Katia.beijo

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