O feitiço da mulher mineira
20/07/12 21:48
Essa impressão eu tive desde a primeira vez. No casamento com uma delas não havia mais dúvida. Coisa findas muito mais que lindas. Mas ainda carecia de rodagem e meditação nas montanhas para escrever com mais tutano e propriedade.
Carecia de mais depuração no alambique de Salinas ou Januária. Precisava comer mais frango com quiabo na serra do Rola-moça.
Agora não há mais dúvida: há realmente algo de especial na mulher mineira. Se você pedir que eu me explique melhor sou incapaz de fazê-lo. A mineira tem um “je ne sais quoi”. E pronto.
Um não-sei-o-quê, se é que você me entende.
Você vê a mais moderna das moças de Minas, por exemplo, e, além muito além daquele repertório todo de modernidade haverá, quase sempre, um quintalzinho imaginário com uma pimenteira, uma sombra, uma pitada de arcadismo e contemplação.
Na mineira há sempre um conforto depois da fachada.
Com uma mineira você tem a sensação de gozar sob as badaladas dos sinos de Ouro Preto. E não estamos falando da sem-vergonhice da Linda Lovelace no filme “Garganta Profunda”.
Há um drama barroco, uma pedra sabão de Aleijadinho no amor com uma moça das Gerais. Você sempre acha que está cometendo algum inexplicável pecado.
Você sempre vai achar que está fazendo sexo na porta funda de uma igreja de Congonhas.
Você diz “mas não há nada de errado nisso, somos maiores, vacinados, estamos juntos, como um homem e uma mulher de qualquer canto do planeta”. Mesmo assim, diante do olhar de uma mineira, ira permanecer a sensação pecaminosa.
Quer algo mais incrível do que ser devolvido à condição de pecador? Não tem dinheiro que pague. É a inversão do teorema de Dostoievski: se Deus está vivo, tudo é proibido.
Você pode praticar todas as safadezas do mundo, mas com uma mineira você tem a nítida sensação de estar fazendo sexo. A bíblica conjunção carnal de fato. Não apenas sacanagem. Isso é outra coisa.
A mineira nos faz recuperar a bela culpa que torna o sexo mais gostoso. Uma transa qualquer sem uma demão de culpa ainda não pode ser considerado sexo.
Só há sexo em Minas Gerais. No resto do Brasil é sacanagem.
Você há de contestar, amigo, dizer que sou um reducionista. Um esmagador de clichês sobre a mineiridade etc etc.
Insisto. Com uma mineira é diferente. Há algo que faz da prosódia um doce de leite de Senador Firmino.
Hummmm… Xico, acho que esse seu texto vai provocar uma ciumeira nas mulheres de outras naturalidades. Seria interessante uma pesquisa de campo pelo Brasil inteiro, tipo “As brasileiras”, versão Xico Sá.
“Você vê a mais moderna das moças de Minas, por exemplo, e, além muito além daquele repertório todo de modernidade haverá, quase sempre, um quintalzinho imaginário com uma pimenteira, uma sombra, uma pitada de arcadismo e contemplação.”
E, se possível, fogão e forno à lenha para cozinhar, assar, fazer doces…
E criar mundos…
Para você, Xico, um presente de Adélia Prado:
Ensinamento
Minha mãe achava estudo
a coisa mais fina do mundo.
Não é.
A coisa mais fina do mundo é o sentimento.
Aquele dia de noite, o pai fazendo serão,
ela falou comigo:
“Coitado, até essa hora no serviço pesado”.
Arrumou pão e café, deixou tacho no fogo com água quente.
Não me falou em amor.
Essa palavra de luxo.
Conheço uma mineirinha que é a
comarlindasô
esse comarlindasô, vc inventou, misturou um sotaque nordestino (que adoro, diga-se de passagem) com o sotaque mineiro… aqui nao dizemos comarlindasô, aqui a dizemos: é bonido demais da conta uai!
* “Bunito demais da conta uai”…
Aaaaaaaaaa, Xico, sou baiana e fiquei com inveja dessa mineira que te seduz… 🙁
Pô, ler isso logo agora que eu tava quase conseguindo esquecer a minha mineirinha… Isso sim é sacanagem ! Fez eu esquecer que tô tentando esquecê-la.
muito boa a crônica, de brasileiro que se preza, que já andou e viu muitos cantos do país, pensa bem e escreve ainda melhor
Xico, o que posso te dizer. Nunca fiz sexo com mulher, nem mineira ou de outro lugar, eu gosto é de Homem. Faz favor!
cada um cá suas preferencias,ne.beijo e gracias sempre pela visita
uai, que coisa e eu nem sabia disso! Coisa feita! Que trem doido essas minas gerais!
sou de Minas…e fiquei encantadinha com o texto sô!!!
Tive o prazer de namora um mineiro de São João Del Rei , e um amor de carnaval em Ubatuba o moço e de Belo Horizontes ,eles tem algo um enrrosco na verdade uma pegada que ate agora não senti nada igual !!!!
Gostei do texto, muito bom! Procure no google: LIVRO CIBERCÉLULAS. Este livro irá te surpreender!
Xico, essa é pra guardar. Parabéns!
Chico,
Um belo texto e uma homenagem mais que merecida às mineiras, mas devo dizer-lhe que dentro de cada mulher existe: a santa, a mãe e a outra. Só não vê quem não quer. Bjs
Xico, sou mineira de Belzonte!!! Você demonstra ser profundo conhecedor das mineiras! Acredito que, bem no fundinho de sua alma, você é mineiro que nem nós, uai!
Ei Cris, sem querer ser chato, mas infelizmente sem conseguir sê-lo, ninguém aqui fala “Belzonte”.
Falamos, sim, “Bélôrizonte”, assim, junto e seguido. “Belzonte”só em novela. Desculpa a chatura, abs 🙂
A porpósito, textim bão dimais da conta.
hahahah verdade, é assim mesmo que a gente fala. bélôrizonte. gosto tb de como sai ‘pedro I’ e ‘II’, já reparou? tipo, ‘vc pega a pédpimê-ro’ ou ‘pega a pêdsegundo’, ou qquer coisa meio assim. um caos, mas eu gosto, viu.
É mesmo: só fala ‘Belzonte’ quem não é de Beluorizonte, achando que está nos imitando… Necas!
Xico Sá, pra bom entendedor, um risco é um texto inteiro… Eu como legítima representante da mineira, agradeço pela verdade e poesia deste texto!! Estou me “achando… rsrs
Instinto libertário, não instituto.
Perdão! Hehe.
Danado de texto gostoso, sô! As mineiras agradecem.
Minha terrinha amada, que há tanto tempo deixei, mas que muitas por vezes visitei, a trabalho ou a passeio, me mostrou como este feitiço da gula é apaixonante.
Em um estado de histórico conservador tão contundente, vide o excesso de religiosidade católica e o apoio incondicional à ditadura militar, nunca vi tamanho instituto libertário ser comparável quando se fala em amores lá praticados.
Conheci a instigante realidade deste lugar, onde uma morena de Varginha me tornou louco a ponto de deixar a namorada paulista a ver navios, enquanto estágio e férias corriam em Lavras.
O tempo passou e cada um foi para seu lado, mas quem disse que a esqueci?
Hoje procuro é ficar longe o máximo possível, para evitar que a tentação seja mais forte que os laços atualmente estabelecidos.
E quando vou, ver a parentada toda que ficou, procuro evitar contatos, caso contrário já sei que um dia me afogo de novo nesse mar de gozos eternos!
Captou a essência da mineiridade, Chico! Pelo visto você entende do riscado ahahahha! Sinal de que tem uma mineira te fazendo bem!
caro Vinicius,
Não acho que Xico se refira somente ao feitiço do “ser” mulher, aliado a essa magia essas elas possuem uma “mineiridade” que as tornam mais que especiais e que não se pode comparar a nenhuma outra mulher brasileira. As cariocas são cantadas, as paulistas exaltadas, as nordestinas se tornam literatura de cordel, mas as mineiras, ah, essas habitam o imaginário dos homens, impulsionam suas fantasias.
Penso que, não por coincidência, o barroco brasileiro tenha sua máxima expressividade em Minas por representar com excelencia o reflexo desse povo, uma conjunção de suas características, a primeira vista inocente, angelical, no entanto mas traz consigo uma profundidade e uma imponencia inquietante.
Em Minas o santo e o profano caminham de mãos dadas pelos mares de morros.
xico Sá, sou acreano e fui criado em Minas, Lima duarte e estava procorundo utros textos quando li esse e, tenho que lhe dizer que foi o que eu sempre senti com as garotas que já tive lá. Achava que era apenas eu! abraço. Obs: Não é plágio..rsrs…
Xico, adorei… mto bom, mas… mas….
Mas isso não seria o feitiço do ser Mulher, por exemplo, na Garota de Ipanema, Helô retratada por Tom e Vinicius tem aquele ar gracioso e até meio exibido que anda no meio da praia chamando atenção da macharada de plantão.
A mineira tem esse que de “timidismo” que chama a atenção da papulação masculina que fica doida por tentar descobrir esse não-sei-o-que…
A paulistana tem o ar de poderosa e dominadora que deixa muito marmanjo de quatro esperando ordens..
E por ai vai…
Certo ou foi maluquice da minha mente?
Adoro seus textos e com esse não foi diferente!!!
Grande Abraço.
Cronica linda, para fechar a semana com honra e louvor, sendo amado e idolatrado pelas mineirinhas.
Agora, ficou uma duvida? Sexo e sacanagem, nao se completam? Se voce disser q sim, entao e’ uma cronica carinhosa para todas as femeas.
Sou mineira de Guaxupé.
Da gema.
Das jaboticabeiras, doce de leite, queijo minas, mangueirais.
Sim eu tbém acho q a mineirice é uma marca, uma grife de qualidade, em todos os sentidos, mas qdo ama, ama mesmo, sem vergonha ou pieguices.
bicho, sou um mineiro que mora no rio e que não trocaria a mineira que conquistou meu coração há 11 anos por nenhuma carioca, gaúcha ou francesa. minas é ouro branco que irradia charme e formosura. bjo
Xico… Muito lindo!!!! Lendo seu texto me senti amada, abraçada e acarinhada. Como uma verdadeira mineira, você me fez pensar que realmente fazemos sexo e amor. Beijos
Meu Guru,vc me emociona muito.Te amo,amo,amo.Essa crônica é prá guardar e compartilhar c meio mundo.MEU GURU.
Ah, Xico, você não tem jeito! Linda homenagem. Gostei demais da conta! rs
Quero um muito melhor para as Pernambucanas (eita ufanismo danado!)
é verdade. pena que elas só fazem sexo com os paulistas e no carnaval. mudei de lá para são paulo com a faca, o queijo, a goiabada e a cachaça e, claro, o cigarrinho de palha para o após.
hahaha.so com paulistas? nada,rapaz,elas sao mais democraticas.abraço e gracias pela visita
“A mineira nos faz recuperar a bela culpa que torna o sexo mais gostoso.” Acho que os paulistas adoram isso, a rotina deles parece ser estressante não só no trânsito e no trabalho, mas também em casa… Mineiras podem ser destruidoras de lares! rs
Lindo Xico, lindo….. as mineiras agradecem!! Vc trouxe o que eu achava que estávamos perdendo…