O vira-lata como psicanalista das massas
27/06/12 02:46Observei a cena ontem por uns 45 minutos, um tempo de um jogo de futebol. Um pobre farrapo humano em desabafo da vida com o seu cachorro magro.
Debaixo do Minhocão, na altura do Largo do Arouche, centro de SP. Haja fala. Muita falação e, por alguns instantes, lágrimas.
Aqueles sufocantes soluços de homem quando chora. Lágrimas de represa. O coração de um homem, de tanto não desaguar por orgulho macho, é uma verdadeira Guarapiranga da existência.
Não havia mal-dizer algum sobre a situação de penúria. Isso não maltrata tanto quanto o que interessa: as dores amorosas. A mulher dele havia ido. Era tarde para o moço, ali por volta dos seus 30 e poucos anos, batucar um samba de regeneração na caixinha de fósforo, era tarde para mudar a conduta de vadiagem.
O seu vira-lata, só o couro e o osso, ouvia a sua narrativa com a solenidade de um Sigmund Freud. Uma sessão completa.
No que lembrei. Já havia falado sobre o tema em crônica antiga. Depois de uma prosa molhada com a melhor bagaceira de Salinas, aquela que entorta as pernas e endireita a alma, com o compay e parceiro do cinema Cláudio Assis.
“Compadre, já falei muito pra cachorro!”, dizia o diretor de “Febre do Rato”. Compreendo.
Já reparou, meu caro, como tem sempre um miserável se queixando da vida para o seu cachorrinho magro debaixo do viaduto?
Sim, senhores, psicanálise de pobre é blasfemar para o cão amigo.
O danado não fala nada, mas nos ouve que é uma beleza, presta mais atenção do que uma sábia coruja.
Falamos por horas, infinitas sessões pelo custo de um osso, o mesmo da sopa, aquele clássico osso que desce e sobe na cordinha gasta da rotina em molambos.
O vira-lata é o analista dos feios, sujos e malvados.
A mulherzinha, também só o fiapo de gente, foi embora com outro vagabundo mais miserável ainda? É com o cachorro que desabafamos, não com um semelhante, que ainda é capaz de espalhar e fazer chacota do nosso humaníssimo chifre.
Claro que o cachorro um dia nos dá alta, enche o saco, finge que estamos curadíssimos, saudáveis até os miolos, não suporta mais as repetidas malices.
O cão, assim como Diógenes, o filósofo grego envelhecido no mais cínico dos barris de carvalho, como me contou o amigo Duda Fonseca, não suporta algumas frescuras humanas, como a ressaca moral, por exemplo.
O bicho não trabalha com tais imbecilidades.
Ora, ressaca somente a física, aquela capaz de aniquilar um homem depois dos seus 40 janeiros.
Aquele estadão das coisas que mais parece uma dengue existencialista. A ressaca, colega, depois dos 40, é de uma tristeza sartreana.
No mais, o cachorro é tão paciente quanto qualquer figurão da nossa sociedade psicanalítica. Melhor até do que os grandes garçons, também exímios na arte de ouvir os corações aflitos.
No tempo em que só pagando nos escutam, viva e viva o vira-lata.
Não, amiga, os poodles não servem, tampouco os cães treinados para a segurança patrimonial da empresa ou da família. Para efeitos terapêuticos, quanto mais vagabundo mais eficiente no divã canino.
Pedigree só atrapalha.
E você, leitor(a), tem falado com o seu melhor amigo?
I consider something really special in this web site.
i bookmarked you in my browser admin thank you so much i will be seeking your upcoming posts
nice post, do you want to rent a text link to me?
Truly required publish admin good one i bookmarked your world-wide-web webpage see you in subsequent blog site publish.
I was in search of this weblog final three times great weblog operator wonderful posts almost everything is terrific
I was searching for this excellent sharing admin a lot thanks and also have good blogging bye
i cant get how you may share like this incredible posts admin a lot thanks
Greetings thanks for wonderful put up i used to be browsing for this situation final 2 days and nights. I will look for upcoming valuable posts. Have pleasurable admin.
I leave a reply when I enjoy reading an article on a website or if I have got something of worth to bring regarding the discussion. And on this post I was essentially moved enough to leave a remark 😉 I do have various queries for you if it’s allright?. Could it be simply me or do some of these comments come across as coming from brain dead folks? 😛 And, if you are posting on additional sites, I would like to keep up with anything fresh you have to post. Could you list every one of your community pages like your Facebook page, twitter feed, or linkedin profile? Thanks!
hey admin thanks for great and uncomplicated understandable submit i liked your weblog site seriously much bookmarked also
Não, caro Xico! Pois este feio, sujo e malvado aqui não tem nem mesmo uma ‘mulherzinha só o fiapo de gente’. Quanto mais um bom vira-lata ‘só o couro e o osso’. Contento-me, assim, na minha miséria existencial, em compor bobagens musicais, como num vômito que abrevia a ressaca.
Hello admin good article considerably thanks loved this blog site truly significantly
Eu ainda não encontrei meu vira-lata p desabafar, aliás, amo um ser humano. Mas esse texto me fez lembrar do meu tio q nas suas aventuras conjugais (e extra tb) sempre se agarrava a Fofinha (sim, era esse o nome da fofa). Chegava em casa e junto c seu hálito sabor etílico, se agarrava a ela e chorava, chorava as amarguras da vida…..A cachorra morreu (e deve ter sido de cirrose – alcoólotra passiva) e meu tio q nada mudou continua na busca um novo um “dog Froide”. Até agora tem sido em vão. Segundo ele não se fazem mais vira-latas como antigamente!
Xico, sem os vira lata, nao seriamos gente! pode acreditar. Abracos
Xico, esqueceste da mui digna categoria dos engarrafados, já dizia o poetinha, e pode ser até o paraguaio
Xico, esqueceste da categoria dos engarrafados, que podem até ser paraguaios
Xico, tive um rottweiller chamado Freddy, super manso, o cão de olhar mais doce que eu já tive. Meu melhor amigo ouviu muitas histórias, enquanto eu chorava as pitangas na varanda abraçada a ele. E o olhar do Freddy tinha uma expressão de compaixão impossível de descrever. Isso também me faz lembrar do ex-ministro Rogério Magri: “Cachorro também é gente.” rs
Xico, eu falava muito com a minha cadelinha vira Snoopy quando era criança. Ela escutava e ainda lambia minhas lágrimas.
Oi Xico. Não conheço minha vida sem vira-latas. O período mais sombrio dela vivi em um apartamento sem cachorro. Hoje tenho três viras, resgatados das ruas que são meus timoneiros: conforme traduzem minha tristeza, ou me levantam em algazarra ou, solidários, respeitam meu silêncio. Bjs.
Olha Xico, tem coisas que não temos coragem de relatar ao psicanalista. Então famos abertamente ao nosso cão. O melhor é que nos ouve e não nos censura. Acho que estou precisando de um cão para tentar entender alguns humanos!
é,João,um cachorrinho faz um bem danado. abs
Li no Luis Nassif, Há muito tempo!!!
Por Marcel Moreira
O filho da puta
O filho da puta é um puta dum filho de baixa conduta
Criado no lixo, sem endereço fixo e com mulher prostituta
Metido no vício, marginal de vocação, sem empregado e nem patrão
Deitado na marquise, falando sozinho em seu mundo ilusório
De olhos pesados, dopados, vidrados, tristes
Pela pinga barata sorvida como se fosse uísque
Medroso de dia, corajoso sob a lua
Escarrado quando sai o sol, aparecido quando a noite cai
Sem direito a voto, nem visto, nem veste, nem voz
Sobrevivente de aborto, rubéola, sarampo, cheio de piolho
Coxo de uma perna, anda sem bengala e é cego de um olho
Cheirando a urina e com resto de fezes embaixo da unha comprida
Por amigo um cachorro
Por inimigo, quase todos
Anestesiado de dor
Tem cheiro de morte e tristeza
Tem um pouco de homem
Tem um muito de fome
Tem dias que ele dorme
Tem dias que ele some
E volta danado com Deus
E deita-se em frente à Igreja pra gemer de solidão
O filho da puta é um puta dum filho de baixa conduta
Que ninguém ensinou o que é certo ou errado
Sobrevivente de aborto e abortado do povo
O último de todos, puxado com rodo
Humilhado na terra, não faz a mínima idéia
De que a justiça divina, por demais esquisita
Diz que o céu o espera…
http://colunistas.ig.com.br/luisnassif/
Sempre fui vira-latas. Já ouvi cada uma…
E o melhor, o amigão nunca, jamais, em hipótese alguma, soltará o infame: “Por hoje vamos ficar por aqui”.
tá sempre presente.abs
Xico, sou psicóloga e concordo com vc, tem muito analista renomado que não são capazes de nos ouvir, estão mais preocupados com suas performances do que com o paciente. Muitas vezes um vira-lata pode ser a melhor saída.
Beijo.
Gracias, Lucilene,´pela leitura e aprovação. beijo
Bonito, Xico. Falo muito com meus dois cachorros, mas acho que eles não me dão muita atenção, deve ser por conta do pedigree… Mas seu texto me lembrou de uma cena. Ontem à noite, coincidentemente, assisti novamente ao filme “Preciosa”. Dói assisti-lo, já viu? Tem uma cena em que ela é derrubada ao chão por um garoto tosco e, caída na calçada e ridicularizada pelo bando todo, quem vem consolá-la, lambê-la e encorajá-la? Um cachorrinho, um anjo de quatro patas… Na hora em que comecei a ler o que escreveu a cena voltou…
Beijos, Xico.
q otimo,Sandra.nao vi o filme.vou procura-lo.beijo
Eita Xico!
Que imagem boa que formou agora.
Tem uma vira-lata, bem sarnenta, que mora na rua, mas vira e mexe me acompanha até o portão de casa, às vezes bato um papo com ela, às vezes fico olhando pra ver se ela quer dizer alguma coisa..Cada doido com a sua mania, não é?
Tenho também um vira-lata bípede, mas esse até fala, mas me escuta com seus olhos azuis, como ninguém mais faz, dá até dó do pobre amigo cachorro, de tanto que ouve minhas lamúrias. Se bem que, nesse caso há trocas, de vez em quando ele abre o coração, essa represa guarapiranga que vc falou, sai pelos olhos. E seguimos assim, felizes em ter um ao outro nesse mundo onde ouvir custa caro.
Genial como sempre Xico.
Eu costumava falar com um vira – lata que existia lá no bairro onde moro, Federação.
Sabe como era o nome do cãoi?
Amigo.
Um grande psicanalista! E como você disse. Não temos a preocupação de ele sair por aí falando,l inventando coisas e chacotando nosso chifre.
uma das melhores crônicas suas. Caberia um ótimo poema.
Valeu,Andrei. abração
Quase fui eu às lágrimas.
Uma das cenas que mais me tocaram nessa vida foi um maltrapilho chorando numa tristeza sem fim pelo seu melhor amigo que jazia ensanguentado e amassado na calçada, atropelado por alguma máquina de 4 rodas, dessas que perde qualquer humanidade quando está na rua. Naquele dia fui às lágrimas por horas. Não conseguia (não consegui) apagar aquela imagem da cabeça.
Meu vira-lata tem os olhos mais solidários que já vi em um ser.
é,Sá,eles têm olhos tristes. e belos.beijos
Muito bom, Xico! Você não precisa de ideias… você as tem, sempre! Adoro quando fala assim do homem, do macho…das mulheres também! Continue. Não passo um dia sem ler vc!
Tem bastante, mas às vezes dá pra ler mais ainda o tono pernambucano. O texto diz; diz bem bom. Comento sobre a coruja: como na história do português que um dia compra uma coruja achando que é papagaio. Passando um ano encontra o vendedor. Pergunta o vendedor (que na reza é um daqueles cariocas…):
— Graaaande Manuel, e o papagaio, já está falando?
— Falando não está, mas presta uma atenção!
Bom, a tal coruja-papagaio não fala, mas presta atenção digna do cachorro-das-lágrimas (do Saramago)… é o amigo-bêbado, o bêbado-não-tão-amigo, o inimigo-são… é todo mundo que de vez enquanto olha nos olhos. É todo mundo que faz a gente deixar deus um pouco mais pra lá.
Saudações. Continue.
compreendeu tudo,grande Gustavo.abraços
Gracias,Gustavo,pela sábia leitura.abs
Eu quem agradeço, grande Xico, por não desviar os olhos (como parte considerável faz) e destilar tão bem os “sujinhos”, maltrapilhos e maltratados, que temperam (mesmo que a contra gosto) as ruas deste país. Estou sempre por aqui! Abraços.