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Xico Sá

Modos de macho, modinhas de fêmea & outros chabadabadás

Perfil Xico Sá é escritor, jornalista e colunista da Folha

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Entre virgens e ´bulidas´- crônicas de viagem

Por xicosa
30/05/12 16:37

Suyane Moreira: a vingança da mestiçagem no Cariri

Na vida de repórter tem a história que você está apurando, aquela mais convencional que acaba nas páginas de jornais e revistas, e o mar de história que você atravessa na estrada.

Estávamos em Guaribas, nas enconstas da Serra das Confusões, Piauí, quando o nosso motorista Edmundo solta, inadvertidamente, uma frase sobre as condições precárias do lugar. Para quê.

– É, meu filho, aqui pode ser atrasado, mas garanto que um cabacinho você só encontra por essas terras. Pode andar essa região toda, onde tem progresso e coisa moderna não tem mais uma virgem, nem pra remédio – saltou de lá seu Antonio Rocha, 78, haja janeiros e sabedorias nas costas.

Tomou mais uma aguardente. E completou a tese:

– Daqui para São Raimundo Nonato –onde essa francesa ai inventou que acharam o primeiro macho das Américas- até chegar em Teresina, é tudo mulher bulida.

A francesa, no caso, é a renomadíssima arqueóloga Niéde Guidon, responsável pela descoberta de de que o primeiro homem do continente foi piauiense da Serra da Capivara.

Outra cachaça, com aquela clássica cuspidela no pé do balcão, e o velho Rocha foi para cima do nosso taxi-driver, Edmundo era a cara de Robert de Niro:

-Vosmicê prefere progresso, coisa avançada, ou a honra de casar com uma fêmea virgem de tudo?

O homem foi ficando brabo. Ajeitava a peixeira na cintura a cada frase. Por via das dúvidas o motorista inventou um agá qualquer e foi para a pensão onde estávamos hospedados.

-Pode andar que você não encontra mais uma virgem nas redondezas. A novela esculhambou com tudo, mas aqui em Guaribas ainda tem ordem. O cabra não pode bulir com moça assim na cara dura não. Até pra amolegar os peitinhos demora coisa de três meses para lá.

E seu Rocha, oculões verdes fundo-de-garrafa, mira, da frente da mercearia, as moças que passam com latas d´água na cabeça:

-Aquela ali, repare, é bulida. Mas foi bulida fora, pras bandas de São Raimundo Nonato, cidade grande, safadeza sem regulamento. Deve ter sido o tal do primeiro homem das Américas – solta a gargalhada envelhecida em tonéis de alambique.

Prossegue pondo sentido no mundo:

– Aquela ali, não, moça toda, direitinha,boto essa mão velha calejada no fogo! – diz. –Um pai brabo, come o figo do cabra que encostar naquelas carnes.

Realmente a morena apontada pelo velho Rocha me deixou nervoso.Talvez a mais bonita que já vi na vida. Faria de Camila Pitanga medalha de prata no concurso local de Rainha do Milho.

A morena passa faceira. A cara da atriz Suyane Moreira, minha Iracema predileta. A água do balde salpica seu rosto levemente. Não é só o clichê da brejeirice não. É beleza suprema, a vingança da mestiçagem.

-É tudo rapariga, quenga – sentencia um senhor mais adiantado na cachaça, infelizmente não gravei o nome. –Virgindade aqui já era.

Rocha vira um demônio:

-Só se for na sua casa! – rebate.

O sururu está formado.

-Eu tô na brinca, homem de Deus, não é na vera não – recua o anônimo cachaceiro cordial.

-Bulida mesmo aqui eu conto nos dedos, e tudo, como eu ja disse e redisse, bulida fora. Tem uma até que se empregou no cabaré de Beth Cuscuz, lá em Teresina, falam que é ambiente de classe, classe média alta.

Seu Rocha está impossível no seu diagóstico cabacístico:

-Aquela ali também mostra os panos – julga o velho.

“Mostrar os panos” é dizer antigo. Do tempo em que as moças, depois da primeira noite, exibiam, orgulhosas, o lençol manchado de sangue no varal na frente de casa. Para não deixar dúvida sobre a virgindade que levou até a lua de mel.

A noite chega por trás da Serra das Confusões. As mães despacham meninos para arrastar os pais cachaceiros das bodegas. Os pais tentam engambelar os meninos com alguma besteira, pipoca doce e guaraná caçula.

A mulher do até então indomável Rocha vem à venda e o arrasta para casa:

-Seu cachorro pé-de-cana!

Ele vai mansinho, mansinho.

A bodega inteira, uníssono: “Dominado”.

Anoitece na Serra das Confusões. No alto-falante do Parque de Diversões toca “Amor de rapariga”, o hit forrozeiro do momento.

As boyzinhas –como são chamadas as meninas-, cabelo cheirando a neutrox, passeiam com seus segredos e supostos cabacinhos.

Amanhã segue a viagem.

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Comentários

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  7. william b comentou em 03/06/12 at 8:52

    Quando vocês forem ao Piauí observem que o povo de lá ficam maravilhados com o sotaque de outra região. As mulheres ficam hipnotizadas. Agora cuidado, procure ser o mais natural possível para não correr o risco de ser visto como um bêsta.

  8. Fred Jordao comentou em 01/06/12 at 12:07

    Extraordinário, nada como a estrada pro vivente falar coisas importantes e sinceras!!!!!

  9. batista cruz comentou em 01/06/12 at 11:50

    la no meu sertao rodelense, um jovem pediu em casamento uma moça bulida. a gozacao da cambada foi geral. “ela é furada”, diziam as gargalhadas. e o futuro marido respondeu solenemente: “nao quero ela para carregar agua”. ele queria a companhia. o cabaço é outra historia. vivem felizes ate hoje.

  10. Vera Lucena comentou em 31/05/12 at 21:46

    Mexa com minha fía e saberás como se usa uma pexêra, principalmente no nordeste, onde só tem cabra macho que mata de pexerada … parabéns Xico, caba macho criativo!!!

  11. João Simões comentou em 31/05/12 at 17:25

    Pára-choque de caminhão:
    “Não importa se fui o primeiro ou o último, o importante mesmo foi ser Inesquecível”

  12. Lampiã Justiceira de Minas Gerais, comentou em 31/05/12 at 17:07

    Bela infiltração, Xico. Só faltou falar da revolução das mulheres para liberar tudo. O que era documentos e ocasionou muitas mortes em Minas foi água abaixo. Em idade você deve ter uns 90 anos.

  13. ROCCO comentou em 31/05/12 at 12:48

    Adoro estes contos, parabens leio seu blog todos os dias, tanto para me informar um pouco de politica, quanto para me divertir, leitura simples cheia de encantos, continue belo trabalho forte abraço!!

  14. Jpaulo comentou em 31/05/12 at 12:35

    Bulida ou não, o que vale é a imaginação!

  15. Ingrid Araújo comentou em 31/05/12 at 11:39

    Quem sai aos seus não degenera, né cabrón? Mesmo habitando há tempos no solo atordoado dos paulistas enjoados, gostoso é ver que sua narrativa sempre traz elementos peculiares das terras lá de cima.
    Ótimo texto, seu cabra!
    Besos

  16. Alex Meyer comentou em 31/05/12 at 9:58

    Conheço a região!!!!
    belissimas mulheres na região de Cristino Castro, e Bom Jesus…
    de uma passada ali em Floriano e almoce tomando uma no flutuante!
    Viajei muito por essas bandas qdo mais novo!

  17. Marvin comentou em 31/05/12 at 9:53

    Arre égua! São Guimarães que se cuide, isso é praticamente um “Grande Sertão: Cabaços”. Coisa mais pra lá de boniteza muita!

  18. Mani comentou em 31/05/12 at 9:53

    Nojentos esses velhos de buteco falando das minininhas e invariavelmente tentando passar a mão nas bulidas e não bulidas. Essa vida dos machos do interior é a mais podre que se possa crer – não poupam nem as próprias filhas.

  19. Braulio de Oliveira comentou em 31/05/12 at 9:39

    Prezado Xico, este boteco é igual as “vendas” que existem e resistem no nosso querido semi-arido nordestino, local onde voce se inteira da vida e costumes locais, sucursal do D.I.V.A ( Departamento de Informações da Vida Alheia ). Ah que saudade do tempo em que tambem percorri as estadas do velho “Leão do Norte”, Trindade, Afranio, Carnaubeira da Penha, entre tantas. Saudade, é a recordação boa dos tempos idos. Abraço.

  20. Jaime Junior comentou em 31/05/12 at 9:13

    Caro Xico,

    Aposto que você conferiu a morena…

  21. Lindomar Rezende comentou em 31/05/12 at 7:57

    Boa demais, essa cronica do interior! me senti jovem, em Alto Araguaia-MT, vivenciando esses papos sem nexo de botecos, enquanto um tio preferido enchia o rabo de cachaca. existe um sem numero de seu Rocha por ai, por esse interiorzao do pais. Valeu Xico, ta sendo dificil, mas estou me rendendo aos seus escritos e a sua rara sensibilidade para captar as coisas do cotidiano. Valeu!

  22. Max comentou em 30/05/12 at 23:49

    kkkk, me senti na prosa com essa gente, tomando as talagadas no boteco.
    fantástico.

    • xicosa comentou em 31/05/12 at 0:56

      tentei ser o mais fiel possivel,Max.q bom q vc entrou na prosa.abrazo

  23. Antonio Tcharle comentou em 30/05/12 at 21:16

    Nao conhecia Xico Sá, derrepente numa revista, bum! adorei sua forma! parabéns!

    • xicosa comentou em 31/05/12 at 0:56

      valeu,man.abrazo

  24. David Marques Oliveira comentou em 30/05/12 at 20:07

    Se não foi bolada por mim, é cabaço.

    • xicosa comentou em 31/05/12 at 0:56

      essa é uma boa escolha.hahahaha.abs

  25. william b comentou em 30/05/12 at 20:03

    Nessa região do Piauí durante o dia o diabo não sai sem um bom sundown fator 50. As Piauienses além de belas são desprovidas de frescuras. Chegam junto mesmo. Só de lembrar me deu vontade de voltar lá.

  26. Borogodó Futebol Clube comentou em 30/05/12 at 19:57

    … Que a nossa turma é alinhada; sai no meu bloco pra fazer a patuscada!

    Mandou bem, Xicaço! Texto gostoso como a brejeirice nordestina!

    Abração!

    João Sassi

  27. Deyse comentou em 30/05/12 at 19:32

    Xico, eu daria tudo para passar uma noite inteira com vc… te ouvindo :).
    acho uma delícia essas suas histórias da estrada… Beijos

  28. Caco comentou em 30/05/12 at 17:40

    Essa história de cabacinho…. quem vai saber? Prefiro achar que todas são. Até aquelas das “casas de facilidades”. No
    “faz de conta que é” fica tudo muito mais gostoso.

    • xicosa comentou em 30/05/12 at 19:10

      sim,Caco,tb prefiro a ilusao.abrazo

  29. Carlos comentou em 30/05/12 at 17:13

    Eu prefiro as bulidas!

    • xicosa comentou em 30/05/12 at 19:11

      sao as mais lindas!abs

  30. Keila comentou em 30/05/12 at 16:52

    Enquanto isso na Russia…
    http://www.youtube.com/watch?v=a74UgwcWxx8&feature=player_embedded#!

    • xicosa comentou em 30/05/12 at 19:11

      demais,Keila.gracias gracias.beijos

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