E quando o amor já era dado como morto...

Por xicosa

13/04/12 14:31

Uma viagem ao fundo do coração, by Francis F. Coppola

Sexta, 13. O amor, o azar, a sorte.

Repare nessa história verdadeiríssima:

E quando imaginávamos que estava tudo acabado, que amor não mais havia, que tinha ido tudo para as cucuias, que o fogo estava morto como no engenho de Zé Lins, que o amor era apenas uma assombração do Recife Antigo…

Quando já dizíamos, a uma só voz, aquele texto de Paulo Mendes Campos:

“Às vezes o amor acaba como se fora melhor nunca ter existido; mas pode acabar com doçura e esperança; uma palavra, muda ou articulada, e acaba o amor; na verdade; o álcool; de manhã, de tarde, de noite; na floração excessiva da primavera; no abuso do verão; na dissonância do outono; no conforto do inverno; em todos os lugares o amor acaba; a qualquer hora o amor acaba; por qualquer motivo o amor acaba…”

Quando já separávamos, olhos marejados, os livros e os discos…

Quando mirávamos, no mesmo instante, a nossa foto feliz no porta-retratos…

Quando não tínhamos nem mais ânimo para as clássicas D.R´s –as mitológicas discussões de relação…

Ave, palavra, até o gato, nervoso, sem saber com quem ficaria, quebrava coisas dentro de casa àquela altura; o papagaio blasfemava, diabo verde!

Estava na cara, naquela fantástica zoologia amorosa: aqueles pombinhos já eram.

O cheiro do fim tomara todos os cômodos, a rua, o quarteirão, o bairro, a cidade, o mundo…

Quando só restava cantar uma música de fossa… “Aquela aliança você pode empenhar ou derreter…”

Quando só restava a impressão de que eu já vou tarde…

Quando só restava Leonardo Cohen no ipod da moça…

Quando eu não era mais o cara, embora insistisse em cantar o “I´m your man” deste mesmo trovador canadense…

Sim, o quadro era triste, não se tratava de hipérbole ou demão de tintas gregas.

De tanta inércia, faltava até força para que houvesse a separação física, faltava força para arrumar as malas, pegar as escovas, contar aos chegados comuns.

Ah, amigo, quer saber quem bateu o ponto final da história?

Ela, claro, você acha que homem tem coragem para acabar qualquer coisa? Mulher é ponto final; homem ponto e vírgula, reticências, atalhos.

O estranho é que ela não disse, em nenhum momento, que não gostava mais do pobre mancebo.

Aquilo encucava. Porque um homem, disse o velho Antonio Maria, padrinho sentimental deste cronista, nunca se conforma em separar-se sem ouvir bem direitinho, no mínimo quinhentas vezes, que a mulher não gosta mais dele, por que e por causa de quem etc etc, milonga do adiós.

E nesse clima de fim sem fim as folhinhas outonais do calendário foram despencando sobre a relva fresca do desgosto.

Eu acabara de levantar do amigo sofá, que havia se transformado no meu leito, quando ela passou com uma cara de impaciência e desassossego.

Mais que isso: ela estava com vontade de matar gente!

Era a cara que fazia quando estava faminta. Sabe mulher que fica louca quando a fome aperta?

Vi aquela cena e caí na gargalhada. A princípio ela estranhou… Mas sacou tudo e danou-se a morrer de rir igualmente. Nos abraçamos e rimos e rimos e rimos e rimos daquilo tudo, rimos da nossa fraqueza em não dar uns nós nos clichês, inclusive o da volta por cima, rimos do nosso silêncio sem sentido, rimos desses casais que se separam logo na primeira crise, rimos da falta de forças para enfrentar os maus bocados, rimos, rimos, rimos.

E um casal que ainda ri junto tem muita lenha verde para gastar na vida e fazer cuscuz com carneiro.

Agora ela está deitada, linda, cheirosa, gostosa, psiu!, silêncio, ela dorme enquanto escrevo essa crônica!

Comentários

Tony comentou em 14/04/12 at 23:31

…e é assim que vão ficando, e ficando…é a morte aos socos aos, solavancos!
luci naraki comentou em 14/04/12 at 21:32

10! Bjo e otimo final de semana.
abraão barbosa comentou em 14/04/12 at 20:55

Véi quase que eu choro!(tem gente na sala) o que nos deixa mais superficiais é essa busca de satisfação total,coisa de cinema americano, que vem nos tornando incapazes de ceder recuar, mesmo sabendo que o outro tá errado,e deixar que o silêncio se transforme numa DR silenciosa de cada um consigo mesmo. Lindo Xico!(vó dá um chêro na nega véia)
- xicosa comentou em 14/04/12 at 23:47
  
  valeu,meu velho.abraço
Livia Costa de Souza comentou em 14/04/12 at 20:36

Li ouvindo Acrilic on Canvas : e com as lágrimas que não brincaram com voce, destilei olho e linhaça, e da sua cama arranquei pedaços que telhei em estiletes de tamanhos diferentes e fiz então pinceis com seus cabelos. Fiz carvão do batom que roubei de voce e com ele marquei dois pontos de fuga: rabisquei meu horizonte ♥ olhinhos fazendo glub glub ♥ thanj u man ♥
- xicosa comentou em 14/04/12 at 23:47
  
  trilha perfeita.beijo
Tavinho comentou em 14/04/12 at 18:22

Caramba, na hora que pintei a porcelana e fui jogar o papel na lixeira me veio um questionamento. Cadê a sacolinha que fica na lixeira ??? Não tem mais!! Sim todos nós que moramos no estado de sao Paulo não temos mais sacolinha em nossas lixeiras. Culpa do governo do estado. Ele repassou o custo das sacolinhas do supermercado para o cidadão!! Teremos que comprar sacos plasticos para embalar nosso lixo domestico. E tem bobo que acredita em sustentabilidade, ecobike, bikeativista, etc… Será que os preços das mercadorias sofrerão uma diminuição aqui no ecoestado de Sao Paulo?? porque agora os supermercados não gastam mais com sacolas, nós é que temos que ir na sessão de plasticos e compra-las. O plasitoc vai parar do mesmo jeito no lixão.
- Pedro Sérgio comentou em 17/04/12 at 16:56
  
  Que comentário !!! Tudo a ver com o conto do Xico Véio…
socorro mezer comentou em 14/04/12 at 15:05

Esse é o meu Xico que sabe tudo dizer .rsrs
Adooooro!
celia marsiglia comentou em 14/04/12 at 12:14

chico,falou tudo e muito mais,haja vivência para tanto.nem digo que continue assim.celia
Lucia comentou em 14/04/12 at 11:13

Xico, que demais, você realmente é o cara.
Vejo você sempre no Saia Justa e acho você o contraponto. A interrogação que não quer calar. Tbém sou meio assim. Sou você de saias.
Lucia comentou em 14/04/12 at 11:10

Xico, que demais!!!
Acompanho você no Saia Justa, você é o cara. O contraponto da história. Eu tbém sou meio assim, do avesso, da contramão. Sou você de saias.
Nina comentou em 14/04/12 at 11:10

Acho impossível que um cara como você não tenha mulher, namorada, amante… Caso não tivesse, me candidataria. Com todo respeito! rsrsrs
Zulma Gomes de Carvalho comentou em 14/04/12 at 11:09

Esse Xico sabe tudo de relacionamento, pois narrou a minha história sem que eu a contasse. Quando pensamos que tudo acabou, nos lembramos que ainda temos algo a fazer… juntos, é claro! E a vida segue, e o amor segue dentro dela, como se sempre ali tivese vivido. Um grande abraço e vou esperar a próxima atração. Nem precisa caprichar mais, porque assim está ótimo.
luciAANA comentou em 14/04/12 at 9:59

XICO, VC ACBA DE SALVAR O MEU CASAMENTO!

TE ADRO!
Ricardo comentou em 14/04/12 at 9:56

Vejam qtos comentários femininos. Nós homens dos pontos e vírgulas, é este o caminho para tentar mudar o ponto final delas.
digiovana mocelim comentou em 14/04/12 at 9:25

muito lindo, mas meio utópico….
thereza comentou em 14/04/12 at 8:46

Amei!!!!!!
Eunice Bemfica comentou em 14/04/12 at 8:34

Você é mesmo um homem que tem a tal beleza interior!
Eunice Bemfica comentou em 14/04/12 at 8:34

Você é mesmo um homem que tem beleza interior!
cristiane truzzi comentou em 14/04/12 at 8:13

Lindo texto, doce e leve…. Como o amor deveria sempre ser….
Bela tradução de sentimentos tão sutis e tão presentes…
Valeu Xico!
Carla Regina comentou em 14/04/12 at 7:51

Xico, vc se superou nesta crônica!
Linda, verdadeira, simples como o amor deve ser. Gostaria que isso acontecesse na minha vida!

Sucesso
Maria Carla comentou em 14/04/12 at 7:44

Lindo!!!!
Adorei!
Gostaria de receber uma declaração de amor assim!
Sofia comentou em 14/04/12 at 5:18

Oi Chico, é lindo, mas doí pra caramba quando é derradeiro, cenas como essas até se repetem algumas vezes, mas quando chega o fim mesmo…
Sabe o que acho? pq nao nos desapaixonamos ao mesmo tempo? nao foi o contrário quando nos conhecemos?
Bem, digo assim, mas ainda tenho esperança de voltar a sorrir… obrigada Chico
TIRSA comentou em 14/04/12 at 3:13

Muito bom!;)
CECILIA MEDEIROS comentou em 14/04/12 at 0:20

Quanto sentimento,quantas verdades,quantas falas que já pensei mas …nunca articulei em palavras! Amei o texto
Marco Antonio Batista de Oliveira comentou em 14/04/12 at 0:06

Xico,

Prá você ver, que neste caso, quem riu primeiro, riu melhor. Por último, só detalhes…
- PARA P. FRAGA comentou em 14/04/12 at 0:09
  
  kkkkkkkk Eu desconfio que terminei por criar uma confusao, quando meu intuito foi fazer uma singela brincadeira e dar umas gargalhadas com um velho e bom amigo kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
Xavi comentou em 13/04/12 at 23:49

Xico Você me enche de orgulho de ser cearense do Carri…vai ser genial assim lá no Cariri.Parabéns!!!
Carla comentou em 13/04/12 at 23:38

Que perfeição Xico! Esta foi pro topo da minha lista… Logo hoje que estou sentimentalóide, uma crônica desta é uma facada no coração. Nunca chorei tão fácil.
marie comentou em 13/04/12 at 23:37

Simplesmente brilhante.
Morri…rs.
Márcia Dario comentou em 13/04/12 at 23:31

Adoro quando um homem fala algo mais ….além de futebol, de cerveja e adoro um bocado e tanto quando fala de mim, de nós, lindas princesas, sempre , bem escondido , lá no fundo do doce coraçãozinho, torcendo para esse Xico de Sá aparecer com um irmão gêmeo, num cavalo branco !!!! bjks
- Deborah Souza comentou em 14/04/12 at 3:25
  
  Somos duas!
  
  Como se cria um Ômi desse?
Márcia Dario comentou em 13/04/12 at 23:30

Adoro quando um homem fala algo mais ….além de futebol, de cerveja e adoro um bocado e tanto quando fala de mim, de nós, lindas princesas, sempre , bem escondido , lá no fundo do doce coraçãozinho, torcendo para esse Xico de Sá aparecer com um irmão gêmeo, num cavalo branco !!!!
Marise Mattos comentou em 13/04/12 at 23:23

Nossa, amei, me identifiquei demais. Só quem ama de verdade e já passou por essa situação sabe disso. E quando sobrevivemos a essas crises, o amor vem mais forte e lindo. Obrigada, Chico, lavou minha alma.

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