Ainda se pede em namoro em SP
15/03/12 15:07Havia séculos que este cronista caminhador e bisbilhoteiro não testemunhava tal cena.
Foi agorinha. Na alameda Santos quase esquina com a Brigadeiro. Num kilo da vida.
Sim, pelo menos hoje, em plena hora do almoço, existiu amor em SP, amigo Criolo.
A mocinha pálida, que comia uma salada sem graça, tomou um susto quando o moço, que comia uma maminha sangrenta com coca-cola, propôs, na lata:
-Vim aqui hoje para te pedir em namoro.
Ela quase engasga com a folhinha de rúcula.
Suspense. Amor é Hitchcock.
Eu pedi mais um café só para ouvir o desfecho.
Não há passionalidade em quem só come salada, refleti bobamente.
Diz sim, magricela miserável. Eu torcia pelo corajoso rapaz. Quase meto a minha colher no meio daquele silêncio.
O máximo que ela fez foi alisar o braço do moço e dizer que depois conversavam sobre isso.
De qualquer forma já valeu a atitude do camarada com cara de escriturário. Ela, mais fina, tinha jeito de secretária bilíngue, exímia.
Como não se pede mais em namoro hoje em dia, achei duca a coragem do mancebo.
Não se pede mais em namoro, como sempre repito nesta tribuna testosterônica.
É namoro ou amizade? Rolo, cacho, ensaio de amor, romance ou pura clandestinidade?
“Qualé a sua, meu rapaz?!”, indaga a nobre gazela.
Não se pede mais em namoro.
E o homem do tempo nem chove nem molha. Só no mormaço, só na leseira das nuvens esparsas.
Não foi o caso do destemido moço que encontrei agora no kilo da alameda Santos.
No tempo do amor líquido, para lembrar o título do livro do Zygmunt Bauman sobre a fragilidade dos encontros amorosos, é difícil saber quando é namoro ou apenas um lero-lero, vida noves fora zero…
Cada vez mais raro o pedido formal de enlace, aquele velho clássico, o cara nervoso, se tremendo como vara verde: “Você me aceita em namoro”?
São raros, raríssimos hoje esses nobres pedidos. Em alguns setores mais modernos e urbanos, digamos assim, talvez nem exista mais.
O amor e as suas mudanças.
A maioria dos homens não pega mais no tranco.
No tempo do “ficar”, quase nada fica, nem o amor daquela rima antiga.
Alguns sinais, porém, continuam valendo e dizem muito. O ato das mãozinhas dadas no cinema, por exemplo, ainda é o maior dos indícios.
Tanto quanto um bouquet de flores, mais do que uma carta ou um email de intenções, mais do que uma cantada nervosa, mais do que o restaurante japonês, mais do que um amasso no carro, mais do que um beijo com jeito, daqueles que tiram o gloss e a força dos membros inferiores.
“Vamos pegar uma tela, amor?”, como se dizia não muito antigamente.
Eis a senha.
Mais até do que um jantar à luz de velas, que pode guardar apenas um desejo de sexo dos dons Juans que jogam o jogo jogado e marketeiro dos bistrozinhos óbvios.
O cinema, além da maior diversão, como diziam os cartazes de Severiano Ribeiro, é a maior bandeira.
Nada mais simbólico e romântico. Os dedos dos dois se encontrando no fundo do saco das últimas pipocas.
Não se pede mais em namoro como esse rapaz agora em plena hora do almoço.
E nas mesas ao lado, naquele mesmo restaurante, os homens engordavam, vida de gado, falando das firmas, dos projetos, dos chefes, dos lucros que não irão para os seus bolsos.
É por ser extremamente romântica, que estou só a anos!!!!!!!
Linda!!!!!!!!! Acho que você deve pedir em namoro …..??????????
rsrsr Não é careta!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Para mulher o detalhe se impõe. Talvez o sangue do filé do sujeito tenha trancado o coração da donzela amante dos bichos.
provavelmente a moça em questão vai se envolver com um brucutu, cujo vocabulário não ultrapassa 17 palavras (8 delas são interjeições) em detrimento de nosso nobre herói.
Eu também fui pedida em namoro, há 9 anos atrás, em um bar de São Paulo… fiquei tão boba que minha reação foi um beijo, que serviu como resposta… Estamos juntos até hoje, e esses tempos para trás fui pedida em casamento…com direito a nervosismo, lágrimas de alegrias (dos dois!) e beijos gostosos!
Permitir-se amar. É tão bom!
“O máximo que ela fez foi alisar o braço do moço e dizer que depois conversavam sobre isso”
Traduzindo para o masculinês: “Eu não sou pro seu bico, rapaz. Fica com esses 100gr de carinho e se dê por satisfeito.”
cruel e verdadeiro Augusto.abs
Muito bom. Engraçado esse texto justo agora, pois vivo exatamente uma situação parecida. Não fui pedida em namoro, oficialmente ainda, mas já sou chamada de namorada, apresentações as famílias já foram feitas há tempos, viagens já foram feitas e enfim… Praticamente namoramos, mas teoricamente nao. Mas pra mim sim, pois com disse, o que vale são as atitudes (dos dois), assim como disse tbm, das mãos se encontrando no fundo do saco de pipoca no cinema. 🙂
Texto maravilhoso. Isso é sinal de que nem tudo está perdido!!! O amor e o romantismo nunca acabou para nós…
Texto magnífico. Isso é sinal de que nem tudo está perdido!!! O amor e o romantismo nunca acabou para nós…
Só resta bater palmas pela atitude do rapaz e pelo maravilhoso texto. Minha última namorada eu pedi em namoro, durou apenas 1 ano e não fui valorizado, ainda bem que nem todas as mulheres pensam assim e valorizam o homem que está ao lado. Xico você deveria pegar tel deles e nos contar o desfecho…rsrsrs… PARABÉNS mais uma vez
gostei do texto, Xico. Gosto do seu trabalho, moço! Fui pedida em namoro recentemente. Me permiti enamorar, apesar de ser uma comedora de salada…
Acho que o lançe é esse…se permitir. O jovem “mancebo” se permitiu arriscar, e isso é bonito é válido, principalmente num pars de duet. Perde quem não arrica e petisca.
Abraço brasiliense!
Eu fui pedida em namoro há três anos, em um momento que não esperava isso (só nos conhecíamos a um mês!) e sim, ele estava tremendo como uma vara verde! rsrs Nunca vou esquecer do brilho nos olhos dele quando disse “você quer namorar comigo?”. Ainda existe amor em SP, querido Xico e Criolo. Nós só precisamos encontrá-lo, mesmo que seja em um canto de um kilo. Não importa onde for, o que importa é a intenção. Espero que o coração do moço não esteja despedaçado nesse momento, essa saladeira ainda vai pensar no “depois” que disse à ele.
Chico, vai chegar um tempo que as pessoas agiram como animais. Chega junto, cheira, cruza e vai embora!
Acho muito engraçado, prá não dizer trágico, os valores desses rótulos na vida de algumas pessoas, e talvez por isso, sofridas e solitárias. E plageando Pessoa, namorar é preciso, pedir…não é preciso.
“Não há passionalidade em quem só come salada”…..Pqp, profundo isso. Genial Xico, valeu!!!!
Xico eu te amo!
Um texto como este vale a dor do mundo!
Beijos!
Xico, você é foda!
Adorei! o pedido e o artigo… aiai
há quanto tempo eu não lia algo tão verdadeiro. sou fã da modernidade, mas essa modernidade está deixando passar tanta coisa… e há meses, anos, quero sentir o sabor da conquista, mas há tanta gente insossa…
Xico, graças à Deus eu já entrei na fase dos “enta” há algum tempo e minha dileta primeira-dama também. Nos conhecemos há mais de trinta anos e eu PEDI ELA EM NAMORO !!!!! O incrível é que as pessoas comentam, quase caçoando, o meu ato. A molecada de hoje “fica” e depois que faz tudo vem com um lero-lero de “vamos formar”. Namorar hoje em dia, é “formar”, não que seja ruim, mas é a subvaloração de uma relação. Fico feliz que pessoas como você que tem representatividade e um veículo de projeção escrevam textos como esse. Precisamos resgatar a juventude à certos valores e posturas que já não se vêem mais. Um abraço !!!!!!!
Fui pedida em namoro, achei que fosse gracejo, dei risada e desdenhei, até olhar o rosto do rapaz (valente) e ver que não era brincadeira, sorte minha ter visto já são 12 meses.
É exatamente assim que todos pensam, mas você xico, você traduziu até a alma desse momento. Não há verdade maior, não há música e nem rima que transcreva essa falta que o romantismo faz aos dias e interesses atuais. Então vamos lamentar pela falta de sentimento, ou pelo menos a falta de demonstração dele. Mas ainda existe aqueles raros pingos de chuva em um dia quase totalmente ensolarado. Como esse rapaz que teve a sensibilidade de fazer o pedido a essa companheira que talvez nem lembre quando foi a última vez que foi pedida em namoro, ou talvez tenha até pensado “Nossa, que careta isso!”. Mas ainda temos os nossos Superman’s, ainda há aqueles que não esqueceram a importância e como demonstrar o carinho, prazer ou o simples fato de considerar alguém ÚNICO. Mas você já deixou tudo isso claro lá em cima.
Ah, Xico… me lembrou de uma noite, há uns oito meses atrás, no Drosophyla, em que meu (atual) namorado, todo sério e compenetrado, pediu a minha mão (e o resto do corpitcho) em namoro. E permaneceu impávido mesmo ante minha estrondosa gargalhada (que não foi de escárnio, mas de nervoso, porque sou dessas loucas que desata a rir quando nervosa)! Menino valente!
Acho que é por isso que os casamentos não dão certo, os rapazes chegam na balada e vêm as meninas rebolando, subindo e descendo, mostrando as partes glúteas, as puxam pelos cabelos e levam para seus carrões. No primeiro encontro já acontece tudo. Depois de casao ele pensa: – Se foi tão fácil assim comigo, com certeza foi também para os outros e as brigas começam e o casamento termina.
Grande xico, a palavra ‘namoro’ não faz parte do repertório de grande parte dos moçoilos de hoje em dia; e lhe pergunto será que rotular uma relação faz com que o amor aumente, ou se torne mais gostoso? se você tem uma ligação legal com a pessoa, e ela lhe proporciona momentos legais não importa o que seja, pode ser namoro,rolo… o importante é ser feliz! abraços caro cronista .
Querido Xico, logo q comecei a ler, me veio uma gotinha de esperança….mas logo desapareceu….
Chego, vergonhosamente, a ter inveja dessa moça! Como assim ela não leu um pulo no pescoço dele:sim sim sim ….
Mas se por um lado os homens não pedem mais em namoro, será q as mulheres querem ser pedidas? Eu como legítima caipira, praticamente recém chegada em SP, digo em verdade que EU QUERO QUE ELE ME PELA EM NAMORO!!!!
Querida Débora, você é uma raridade ! Tomara Deus que você nunca mude.
Não é só a Débora que quer isso, querido Márcio. No fundo, todas as mulheres esperam um pedido de namoro, porém algumas ainda não estão preparadas para isso.
Ninguém comentou a respeito da bandeira do cinema. Conheço um amigo que a deixa era ‘vamos comer uma pizza, amor?’. Já eu, como bom pisciano que sou, digo: ‘vamos namorar um pouquinho?’
Nesta coluna, como em todos os lugares e tempos, oscila-se entre o amor e o desamor.
Criolo tem razão.
Caetano também.
Mulher que só come salada não está apta a receber tal pedido. O rapaz deveria direcionar seus esforços a uma donzela traçadora de dobradinha, rabadas e que tais.
Não seja tão preconceituoso. Os devoradores de salada também amam. Só precisam de um pouco de sal, azeite e vinagre!
Karla, gostei do sua colocção. Abraço
KKKKKKKKKKKKKKKKK