O amor acaba ou Paulo Mendes Campos
28/02/12 14:24Vivo fosse, o cronista mineiro faria hoje 90 anos.
Nada melhor do que homenageá-lo com a republicação de um dos seus melhores textos, um dos mais citados e sampleados por este blogueiro vagabundo que vos posta.
Ei, moça, repare que assombro:
O amor acaba. Numa esquina, por exemplo, num domingo de lua nova, depois de teatro e silêncio; acaba em cafés engordurados, diferentes dos parques de ouro onde começou a pulsar; de repente, ao meio do cigarro que ele atira de raiva contra um automóvel ou que ela esmaga no cinzeiro repleto, polvilhando de cinzas o escarlate das unhas;
na acidez da aurora tropical, depois duma noite votada à alegria póstuma, que não veio; e acaba o amor no desenlace das mãos no cinema, como tentáculos saciados, e elas se movimentam no escuro como dois polvos de solidão;
como se as mãos soubessem antes que o amor tinha acabado; na insônia dos braços luminosos do relógio; e acaba o amor nas sorveterias diante do colorido iceberg, entre frisos de alumínio e espelhos monótonos; e no olhar do cavaleiro errante que passou pela pensão;
às vezes acaba o amor nos braços torturados de Jesus, filho crucificado de todas as mulheres; mecanicamente, no elevador, como se lhe faltasse energia; no andar diferente da irmã dentro de casa o amor pode acabar; na epifania da pretensão ridícula dos bigodes; nas ligas, nas cintas, nos brincos e nas silabadas femininas;
quando a alma se habitua às províncias empoeiradas da Ásia, onde o amor pode ser outra coisa, o amor pode acabar; na compulsão da simplicidade simplesmente; no sábado, depois de três goles mornos de gim à beira da piscina;
no filho tantas vezes semeado, às vezes vingado por alguns dias, mas que não floresceu, abrindo parágrafos de ódio inexplicável entre o pólen e o gineceu de duas flores; em apartamentos refrigerados, atapetados, aturdidos de delicadezas, onde há mais encanto que desejo; e o amor acaba na poeira que vertem os crepúsculos, caindo imperceptível no beijo de ir e vir; em salas esmaltadas com sangue, suor e desespero;
nos roteiros do tédio para o tédio, na barca, no trem, no ônibus, ida e volta de nada para nada; em cavernas de sala e quarto conjugados o amor se eriça e acaba;
no inferno o amor não começa; na usura o amor se dissolve; em Brasília o amor pode virar pó; no Rio, frivolidade; em Belo Horizonte, remorso; em São Paulo, dinheiro; uma carta que chegou depois, o amor acaba;
uma carta que chegou antes, e o amor acaba; na descontrolada fantasia da libido; às vezes acaba na mesma música que começou, com o mesmo drinque, diante dos mesmos cisnes; e muitas vezes acaba em ouro e diamante, dispersado entre astros;
e acaba nas encruzilhadas de Paris, Londres, Nova Iorque; no coração que se dilata e quebra, e o médico sentencia imprestável para o amor; e acaba no longo périplo, tocando em todos os portos, até se desfazer em mares gelados; e acaba depois que se viu a bruma que veste o mundo;
na janela que se abre, na janela que se fecha; às vezes não acaba e é simplesmente esquecido como um espelho de bolsa, que continua reverberando sem razão até que alguém, humilde, o carregue consigo;
às vezes o amor acaba como se fora melhor nunca ter existido; mas pode acabar com doçura e esperança; uma palavra, muda ou articulada, e acaba o amor; na verdade; o álcool; de manhã, de tarde, de noite; na floração excessiva da primavera; no abuso do verão; na dissonância do outono; no conforto do inverno;
em todos os lugares o amor acaba; a qualquer hora o amor acaba; por qualquer motivo o amor acaba; para recomeçar em todos os lugares e a qualquer minuto o amor acaba.
Do livro “Boa Companhia –crônica”, org. Humberto Werneck, ed. Companhia das Letras.
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acho que não entendi este: “na epifania da pretensão ridícula dos bigodes”
Xico, esse é meu texto preferido do PMC. Citei-o inúmeras vezes na vida e uma vez escrevi uma paródia dele – texto bem pior que o original, of course- que foi publicada no Estadão e se chamava “O amor termina”. PMC me dê ciência do tamanho de minha mediocridade. Me dá vontade de desistir de escrever…parabéns pela lembrança ao mestre PMC
“Se alguma pessoa amiga
Pedir que você lhe diga
Se você me quer ou não
Diga que você me adora
Que você lamenta e chora
A nossa separação
Às pessoas que eu detesto
Diga sempre que eu não presto
Que meu lar é o botequim
Que eu arruinei sua vida
Que eu não mereço a comida
Que você pagou pra mim … ”
(Noel Rosa)
Xico meu amado, sou amante de minha bicicleta e tá circulando na rede uma edição do “Saia Justa” em q sua colega diz coisas absurdas sobre bikers e vc apenas ri… um amigo meu diz que vc fica mei besta perto de mulher bonita… mas tem limite né? bjo
Logo pela manhã, é um alívio para a noite mal dormida; para viver a eternidade de mais um dia que surge rasgando a noite.
Afrodite é a Deusa do Amor e da Beleza,
são eternos.
A Beleza, tal qual o Amor, se fenece aqui renasce mais além, mais Bela ainda.
Com um calor infernal, desse mesmo que anda fazendo aqui em São Paulo, qualquer dor evapora, derrete, escoa pelo ralo durante o banho…
Aí o mano (ou a sister) sai por aí prá se refrescar e assim a dor acaba indo embora, junto com o suor.
Se fosse inverno, putz, aí ia doer mesmo, o frio congela a alma com tudo que está dentro…
e qdo a gnt se ve em outra situação, parece q estamos vivendo um pesadelo, parece mundo desconhecido…é td mt estranho, esquisito…enfim nos sentimos perdidos…essa é a definição
Pois é Naomi
O Amor é promessa de vida
porisso é a coisa mais triste quando se desfaz
”Para recomeçar em todos os lugares
e a qualquer minuto…” Linnndo.Mui belo.
o fim do amor dói tanto quanto parto. lancinante e passageiro.
doi demais,avimaria!mas num mata ninguem.beijo
Ariano gosta e cita muito “Infância” – tem vários trechos gravados no juízo.
eita.mais uma prova de sabedoria do cabra! bjo